Enquanto, no Brasil, o plantio da soja segue em ritmo acelerado em muitos estados, na Argentina ocorre o inverso: por causa do excesso de chuva, que impede o trabalho no campo, a semeadura na principal região produtora – que responde por 40% da colheita nacional – alcançou apenas 13% do previsto, quando o normal, para esta época do ano, seria de pelo menos 20%. Durante o mês de outubro, foram 150 mm de chuva, 50 mm a mais do que a média dos últimos 70 anos. “Há áreas pontuais que tiveram mais de 200 mm e se encontram muito afetadas, não somente pelo piso úmido, mas por problemas nas estradas rurais”, explica Sofia Corina, agrônoma da Bolsa de Rosário.
Segundo a especialista, ainda é muito cedo para avaliar possíveis consequências para a safra. Sofia explica que uma produção maior de trigo, neste ano, indica uma participação mais intensiva da soja de segunda semeadura, que ainda irá ocupar a área cultivada com o cereal no fim do ano. No entanto, o analista de mercado da Granoeste, Camilo Motter, afirma que, caso a situação climática não se normalize até o fim do mês, já será possível falar em impactos para o mercado. “Por enquanto, temos um lapso, ainda há tempo para recuperar”, frisa. “É o que ocorre mais no Norte do Brasil. Lá, na verdade, o plantio está atrasado porque não choveu o esperado”, complementa Motter.
De acordo com o analista, o clima será o principal vetor na formação de preços da soja daqui para frente. “A demanda mundial já está formada, houve aumento de 4,5%. Agora é a oferta sul-americana que vai fazer o preço”, salienta. Para Sofia Corina, por mais que os níveis de estoque estejam altos, o que acontecer na América do Sul será determinante. “A colheita norte-americana [recorde] certamente pode compensar alguma perda, mas a previsão é de que a colheita sul-americana somaria quase 175 milhões de toneladas, mais da metade da produção mundial”, pontua. “Qualquer problema de produção terá um forte impacto nos preços”, completa a agrônoma.