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Em vez de depositar dinheiro no banco e esperar o rendimento, o agricultor Tadeu Marcovciz, de Irati (Sul do estado), decidiu aplicar em uma "poupança verde". Em dois dos 19,3 hectares que cultiva – a parte mais acidentada, de difícil acesso e manejo –, plantou pinus, espécie muito utilizada pela indústria madeireira. No restante da área, continuará produzindo feijão, fumo, pêssego e criando peixes. O rendimento da área reflorestada chegará ao seu bolso em 20 anos, quando as árvores serão cortadas. "É um investimento de longo prazo, mas um dia chega. O bom é que diversifica a propriedade e ocupa uma área que estava parada. Deixar ociosa pra quê?"

A cada ano, um maior número de pequenos e médios agricultores paranaenses, como Marcovicz, está respondendo a essa pergunta com destinação de áreas à silvicultura – o cultivo de pinus e eucalipto para fornecer matéria-prima aos segmentos de papel, móveis, painéis reconstituídos, compensados, carvão vegetal e lenha. Além de buscar novas fontes de receita, eles atendem a uma crescente demanda por madeira das grandes indústrias instaladas no estado.

Com medo do "apagão florestal", o setor investe em novos fornecedores. A modalidade mais empregada é o fomento florestal. A empresa normalmente fornece mudas e adubo, faz o plantio e garante assistência técnica. O agricultor cuida da área e garante a essa empresa a preferência de compra da madeira, a preço de mercado. Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Florestas Plantadas (Abraf), o fomento contribuiu com mais de 100 mil dos 600 mil hectares de pinus e eucalipto plantados no país em 2005.

Embora utilizem o fomento florestal há vários anos, Klabin e Masisa, os dois maiores consumidores de madeira do Sul do país, estão incrementando esse sistema. "Ao mesmo tempo em que a empresa não precisa investir na compra de novas terras, ela divide a riqueza com a comunidade da região onde atua", afirma Adhemar Villela Filho, diretor florestal da Masisa, multinacional nascida no Chile e uma das maiores produtoras de painéis de madeira para a fabricação de móveis e embalagens do mundo, cujas fábricas brasileiras ficam em Ponta Grossa (PR) e Rio Negrinho (SC).

O fomento e o arrendamento de áreas (com pagamento anual ao dono) já somam 3 mil hectares e respondem por 17% dos 17,5 mil hectares de florestas que a Masisa possui nos dois estados. Dos 20 mil hectares que serão plantados nos próximos quatro anos, as parcerias com agricultores, por fomento ou arrendamento, contribuirão com 6 mil hectares.

Na maior fábrica de papel da América Latina – a Klabin em Telêmaco Borba (Centro-Leste do estado) –, a produção de agricultores que recebem fomento já responde por 200 mil toneladas, 8% das 2,5 milhões de toneladas de madeira consumidas anualmente. O objetivo é chegar a 20% do suprimento em 2012, informa o gerente de Fomento Florestal, Ronaldo Luiz Sella. "É uma alternativa para as pequenas e médias propriedades que não requer tratos culturais constantes, utiliza terras ociosas, gera empregos e reduz a pressão de corte sobre áreas nativas", enumera Sella.

A área de fomento da Klabin no Paraná fechou 2005 com 40,7 mil hectares (40% eucalipto e 60% pinus). Está distribuída em 5 mil propriedades, de 11 municípios da região de Telêmaco Borba. O tamanho médio das áreas de reflorestamento das propriedades é de 8 hectares. Para estimular a adesão, principalmente dos pequenos, a empresa decidiu pagar o empréstimo que muitos fazem no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para implantar o cultivo por meio do Programa de Plantio Comercial e Recuperação de Florestas (Propflora). Cada fomentado pode tomar até R$ 150 mil. No sexto ano, paga à Klabin o equivalente a 90 toneladas por hectare (um terço da produção estimada).

O produtor João Cristiano Kiers, de Castro, está optando pelo financiamento para plantar 60 hectares de eucalipto. "Não vou desembolsar nada e estou planejando a universidade dos meus filhos", diz o agricultor de 31 anos. O corte do eucalipto pode ser feito entre os sete e os 20 anos. A "poupança verde" ganhou ainda mais importância com a quebra da última safra de grãos. Kiers cultiva 170 hectares próprios e outros 1,7 mil arrendados, onde produz soja, milho, aveia e trigo.

Em 1989, o agricultor Joel José Sovinski, do município de Imbaú, destinou 12 hectares ao eucalipto. A resposta foi tão boa que, hoje, 70% da propriedade de 150 hectares já estão ocupados com reflorestamento, substituindo as antigas lavouras de milho e feijão. "O eucalipto está dando cerca de R$ 2 mil por hectare ao ano, enquanto as culturas anuais não passam de R$ 400 por hectare. Mas é preciso ter um outro meio de vida, porque o retorno demora", aconselha

Na avaliação do engenheiro florestal Marco Tuoto, gerente da consultoria florestal STCP, de Curitiba, a rentabilidade das áreas com florestas atualmente supera a da soja, e só perde o cultivo de laranja e cana-de-açúcar. "A principal vantagem da silvicultura é que ela utiliza terras mais acidentadas e menos férteis, por isso menos valorizadas, e não compete por áreas com a agricultura." Desde 2000, o preço da tora de madeira subiu 150%, para uma inflação acumulada de 50% no mesmo período.

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