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Paraná e Mato Grosso correm ombro a ombro este ano na produção de grãos. O último levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostra vantagem de apenas 123 mil toneladas para Mato Grosso – produção de uma dúzia de agricultores do estado do Centro-Oeste. O número foi uma surpresa no Paraná, que tenta recuperar a liderança perdida no ano passado por causa da seca. Mas ainda há muita estrada pela frente nessa corrida, ditada pelo clima.

O Paraná vem de uma derrota expressiva. Na safra 2008/09, Mato Grosso alcançou 28,3 milhões de toneladas de grãos – 3,36 milhões a mais que a agricultura paranaense. No entanto, se não fosse a falta de chuva, o quadro seria inverso. O governo do Paraná estimou a quebra em mais de 6 milhões de toneladas, volume que garantiria uma vitória com folga.

A nova safra de verão está praticamente colhida nos dois estados, que são os dois maiores produtores de grãos do país, com participação de 20% para cada lado. Porém, é na reta final do ciclo 2009/10 que a situação deve se definir. Tudo de­­pende do milho safrinha, que teve previsões elevadas no último mês, com vantagem para Mato Grosso.

Apesar de não deflagrarem claramente a concorrência, nenhum estado dispensa a influência político-econômica que a liderança oferece, com maior poder de barganha nas reivindicações levadas a Brasília. Ao assumir a Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) do Paraná duas semanas atrás, Erickson Chandoha incluiu em seus planos a consolidação da liderança em grãos. O novo índice da Conab acabara de sair. O secretário considera que, numa época de produção extra em todo o mundo, os preços caem e o ganho de produtividade seria uma forma de compensar a perda em receita.

Os novos números da Conab ainda são vistos com ressalvas no Paraná – pelo fato de a diferença ante Mato Grosso ser pequena. As dúvidas aumentam a expectativa em relação ao próximo relatório, a ser divulgado até 10 de maio.

Numa fase de mudanças mais amplas no Executivo, assumido por Silval Barbosa (PMDB), o governo de Mato Grosso acompanha as estatísticas da Conab mais à distância, enquanto acerta o novo secretariado. A notícia da liderança agrícola, no entanto, ressoa na imprensa de Cuiabá e rende argumentos aos líderes do agronegócio. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), Rui Prado, partiu em defesa de mais investimento em infraestrutura pelo governo federal. O "estado solução" precisa ter a merecida condição para escoar sua safra, defende.

A longo prazo, a liderança de Mato Grosso é dada como certa, pela maior disponibilidade de terras inexploradas pela agricultura (veja quadro ao lado). Na soja, a vantagem atual é considerada irreversível. Com a maior parte de sua área agrícola plantada, o Paraná busca outros caminhos para estruturação do agronegócio, como a integração lavoura-pecuária e a agregação de valor aos alimentos através de agroindústrias.

A liderança na lavoura em si não é tão importante quanto parece, minimiza o diretor do Depar­ta­mento de Economia Rural (Deral) da Seab, Francisco Carlos Simioni. "O Paraná não está centrado em ser o primeiro. O que nós temos é uma preocupação muito forte com a condição do produtor." A Seab vinha divulgando todo mês, a cada novo relatório da Conab, que o estado havia recuperado a condição de líder na produção de grãos.

A liderança tem efeito simbólico, considera Simioni. Em sua avaliação, o mais importante para o produtor é competir: "Um bom acompanhamento técnico, um pacote tecnológico, boas condições de armazenagem e de comercialização." Por outro lado, não menospreza os números. "Sermos o primeiro sempre foi um orgulho."

Melhores condições de escoamento se traduzem diretamente em renda. Com produção de soja 25% menor, o Paraná arrecadaria apenas 15% menos que Mato Grosso se vendesse toda a soja 2009/10 agora. O preço pago pela saca de 60 quilos chega a ser R$ 4 maior no estado (R$ 31 contra R$ 27), o que reduz sua desvantagem ante o concorrente do Centro-Oeste em 10 pontos porcentuais na conversão do volume de grãos em moeda. A diferença em valor absoluto seria de R$ 8,5 bilhões (MT) para R$ 7,2 bilhões (PR).

No milho, o Paraná tem vantagem na produção (32%) e em receita (115%), considerando o rendimento da 1ª e da 2ª safras previsto para o ciclo 2009/10 e os preços atuais. A diferença no valor final da cultura é de R$ 2,83 bilhões (PR) para R$ 1,31 bilhão (MT).

No final das contas, a desvantagem de R$ 1,3 bilhão na soja seria coberta com folga de R$ 300 milhões pelo ganho extra paranaense no milho. Essas duas culturas representam 93% da produção de grãos em Mato Grosso e 87% no Paraná, que absorve também o resultado (lucro ou prejuízo) de culturas como o trigo.

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