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Dentro do sistema cooperativista, o momento é de investimento, crescimento das atividades, ampliação do faturamento, ou seja, realmente não configura uma crise. |
Dentro do sistema cooperativista, o momento é de investimento, crescimento das atividades, ampliação do faturamento, ou seja, realmente não configura uma crise.| Foto:

O plano das cooperativas do Paraná de dobrar seu faturamento, chegando a R$ 100 bilhões por ano dentro de uma década, alimenta discussão sobre a extensão da crise econômica brasileira. O cooperativismo é uma parcela importante da economia no estado – arrecada mais que o governo – e segue em franca expansão. Mas, diante disso, seria o setor uma ilha isolada do que ocorre no país?

Dentro do sistema cooperativista, o momento é de investimento, crescimento das atividades, ampliação do faturamento, ou seja, realmente não configura uma crise. Mas, obviamente, o setor não está imune ao que ocorre no consumo, no comércio, na indústria, no governo. É diretamente afetado por queda na demanda por alimentos, reajustes nos preços dos combustíveis, aumentos nos impostos. Essa avaliação parte dos próprios representantes do setor, que detalharam análises e planos na revista especial Agronegócio Gazeta do Povo, publicada na última terça-feira, dia 14.

As cooperativas passaram a ser usadas como uma espécie de prova de que a crise não é tão grave quanto parece. Em busca de dados positivos, não será surpresa se o governo federal continuar apontando para o setor em análises otimistas. Não há por que negar: o desempenho das cooperativas funciona, sim, como fator positivo num momento em que o país busca caminhos para voltar a crescer. Porém, mostra-se parcial a análise de que a crise é mais suave do que vêm apontando os indicadores econômicos.A meta de dobrar o faturamento das cooperativas – que estimula a agroindustrialização em todas as regiões do Paraná – é ambiciosa. Como envolve mais de 100 empresas, que têm seus próprios planos, potenciais e limitações, não ficou estabelecido um prazo para isso. Serão necessários cerca de oito anos, apontam os índices atuais. Se a economia brasileira estivesse mais aquecida, esse crescimento seria mais garantido. E as cooperativas dobrariam sua arrecadação mais rapidamente.

Outro ponto que vem à tona quando o debate envolve as cooperativas do Paraná e a crise econômica é o mérito pelo bom desempenho do setor. Trata-se de resultado da política de crédito, da postura proativa das empresas cooperativistas, da cultura de trabalho árduo que mobiliza centenas de milhares de cooperados? Na análise dos líderes do setor, neste momento específico não são esses fatores que estão determinando o faturamento das cooperativas, mas sim as cotações internacionais das commodities e o aumento da produção. Não se trata de negar os outros fatores; cada ponto tem sua importância. Afinal, sem crédito, sem estratégia de investimento ou com menos esforço coletivo na produção, dificilmente os resultados seriam positivos. Porém, isso tudo pode ser pouco.

A explicação técnica é esclarecedora. A demanda global por alimentos (que não está atrelada à crise brasileira e sustenta o comércio de soja e de carnes em patamares elevados) e os preços em real (incrementados pela própria desvalorização da moeda diante do dólar) produzem um quadro favorável às cooperativas. Além disso, parte importante do incremento na arrecadação vem do desempenho do campo. Sem produção volumosa, determinada pelo clima e pelas tecnologias de produção, não haveria tanto a vender. E, sem escolhas acertadas – o setor vem ampliando o plantio da soja, reduzindo o de milho e investindo fortemente na carne de aves –, certamente a renda de quem produz e de quem comercializa seria menor.

Entretanto, esse quadro positivo que envolve as cooperativas e estimula a economia pode mudar. O setor não tem como contar eternamente com demanda global forte e oferta limitada de commodities. Safras volumosas vêm sendo colhidas nos quatro principais produtores de soja para exportação (Estados Unidos, Brasil, Argentina e Paraguai). Num futuro próximo, as cooperativas devem passar a depender mais da saúde da economia brasileira do que atualmente. Até porque seus planos de agroindustrialização incluem produção cada vez maior direcionada ao varejo, ao consumidor local. O aparente “isolamento” que se observa pode simplesmente desaparecer, embora as tendências globais devam continuar determinando os preços das commodities e a renda das exportações.

Isso em nada diminui a importância da contribuição do agronegócio ou das cooperativas – do campo à agroindústria – para o desenvolvimento socioeconômico. Pelo contrário, mostra como o setor assume importância cada vez maior para a economia. Se não elimina a crise, serve de norte para o crescimento.

*Editorial publicado na Gazeta do Povo de domingo (19).

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