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Garantir a segurança alimentar do país deixou de ser a preocupação de quem se dedica à pesquisa agropecuária há 40 anos. Agora, o grande desafio da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é desenvolver sistemas que contornem as mudanças climáticas, as pragas que ainda assolam as lavouras e a necessidade de gerar alimentos com maior densidade nutricional e com novas funcionalidades. Esses e outros desafios estão sendo discutidos na 34ª Reunião de Pesquisa de Soja, evento técnico realizado pela Embrapa, que reúne mais de 450 pessoas em Londrina.

Para o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, o Brasil está preparado para enfrentar os novos desafios da agropecuária, graças à opção que fez 40 anos atrás, de desenvolver um modelo baseado em ciência. “Nós temos instituições de pesquisa, temos profissionais preparados e um conceito moderno de inovação para a agropecuária”, avaliou.

Ele considera que o produtor rural também tem importante papel na manutenção da agropecuária brasileira. Responsável por aplicar a tecnologia desenvolvida pelas pesquisas, o homem do campo precisa buscar informações e uma interação cada vez mais ativa com as políticas públicas, defende.

Confira principais trechos da entrevista com Lopes.

Quais são os desafios da pesquisa daqui por diante?As tecnologias agropecuárias estão cada vez mais complexas e sofisticadas e vão exigir inovações gerenciais, de manejo. Nós, da pesquisa, estamos conscientes que temos que gerar inovações que permitam ao agricultor manejar as novas tecnologias da maneira mais segura, de maneira a levá-las a gerar os benefícios que elas prometem.

E os produtores estão prontos para lidar com essas tecnologias?Dificilmente o pesquisador terá condições de levar o conhecimento e a tecnologia que ele gera ao produtor. Para ter uma ideia, a Embrapa tem 2,5 mil pesquisadores e, num cálculo superficial, o Brasil precisaria ter hoje no campo cerca de 60 mil profissionais de extensão, levando tecnologia para o produtor. Há uma carência muito grande de um sistema de transferência tecnológica que faça essa ponte entre a pesquisa e a realidade do produtor. Estamos tentando superar isso.

De que forma?No ano passado, a Presidência da República mandou ao Congresso o projeto da Anater, a Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural. A ideia é que essa agência venha ocupar esse espaço e dar essa capilaridade de profissionais treinados e capacitados para fazer transferência tecnológica, para interagir com os produtores, canalizando o conhecimento gerado nos centros de pesquisas.

A Embrapa já teve um papel muito importante na produção de sementes no Brasil. Qual é o foco da pesquisa daqui para frente?A pesquisa pública teve papel fundamental num momento em que nós ainda não tínhamos um setor privado ativo nessa área. Naquele momento, cabia ao setor público ser o grande produtor de novas variedades para o mercado. Chegamos a ter quase 70% do mercado de cultivares de soja, quase 30% do mercado de cultivares de milho. Hoje, não faz mais sentido buscarmos participação tão significativa no mercado, quando temos o setor privado investindo em pesquisa. Temos que trabalhar muito mais uma sinergia, uma interação e complementação de esforços entre o setor público e o privado. Vamos manter nossa presença no mercado de cultivares, com grande ênfase para os programas de melhoramento genético, mas não temos a ilusão de voltar a ter aquela presença que tínhamos nos anos 70 e 80.

As questões ambientais têm ganhado cada vez mais importância no Brasil. Como a Embrapa está tratando esse assunto?De forma muito séria. Definitivamente, a sustentabilidade está na agenda da sociedade e da pesquisa. Temos uma preocupação muito grande em desenvolver sistemas produtivos que estejam alinhados com o conceito de sustentabilidade nas suas três dimensões: econômica, ambiental e social. Por exemplo, nesse momento, estamos fazendo um grande esforço no desenvolvimento dos chamados sistemas integrados: a integração lavoura-pecuária, lavoura-pecuária-floresta.

Qual a importância desses sistemas para o futuro?A nova lei ambiental, o Código Florestal, estabelece que a nossa agricultura vai ter que crescer mais na vertical do que na horizontal, ou seja, menos em ampliação de área e mais em eficiência, em produtividade, em sustentabilidade. Nós temos áreas enormes no Brasil com pastagens degradadas que podem entrar no sistema de recuperação com a ciclagem entre lavoura e pecuária e até lavoura, pecuária e floresta. Esta é uma maneira de trazer mais sustentabilidade para os sistemas produtivos, porque vamos ter uma diversidade maior de espécies. É também uma maneira de lidar com o desafio da nova economia do carbono, porque esses sistemas permitem que, ao invés de emitir gases de efeito estufa, se acumule o carbono e esses gases no solo. A maior diversidade de sistemas no ambiente também nos ajuda a lidar com pressões de novas pragas e doenças.

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