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Aos 18 anos, o agricultor Márcio Gnatkowski saiu da fumicultura para produzir verduras. Tornou-se feirante em Irati, no Centro-Sul do Paraná. Com uma área do tamanho de três campos de futebol, o jovem conseguia renda de aproximadamente R$ 1 mil por mês. Construiu casa, comprou carro, casou e teve duas filhas. Mas o imprevisto aconteceu: dois anos de crise o fizeram voltar à fumicultura. Agora com 32 anos, cultiva a terceira safra de tabaco, sem grandes vantagens, mas sem prejuízos.

"Os preços das verduras começaram a cair numa época em que tivemos muita despesa com estufas por causa das tempestades. Fiquei endividado e tive que mudar para o fumo", relata. Em sua avaliação, a vantagem da fumicultura está na cadeia organizada. "A produção tem comprador garantido, há seguro para tudo. Ninguém fica rico, mas estou conseguindo pagar as dívidas das verduras."

A falta de garantias em outros setores é justamente o que mantém pequenos produtores rurais na fumicultura, afirma o presidente do Sindicato Rural de Irati, Mesaque Veres, representante sindical do Paraná na comissão que negocia preços com as indústrias todos os anos. Ele afirma que será necessário desenvolver alternativas tão rentáveis quanto o fumo e com segurança equiparada.

Muitas suspeitas pesam sobre a indústria e o risco de intoxicação é inegável, mas o fumo ainda apresenta vantagens, observa. Há denúncias de manipulação na classificação das folhas e de superfaturamento no preço dos insumos. O fumo causa doenças mesmo quando cultivado sem agrotóxico. "Apesar disso tudo, o fumicultor está em situação financeira melhor que o agricultor familiar: sua casa está em dia, tem um carro na garagem, o jardim é bem cuidado", compara Veres.

A conversão gradual depende da diversificação planejada, acrescenta. Seria necessário conduzir os fumicultores para novos setores, sem provocar excesso de produção de verduras, frutas, leite – as alternativas mais prováveis. O problema é que, depois de mais de uma década de discussões, nem sequer os caminhos mais viáveis foram identificados, avalia.

Essas alternativas ainda não colocaram o fumo em desvantagem, afirma o fumicultor Augusto Mudre, de Irati. Nos 16 alqueires de sua família, são plantados todo ano 600 mil pés de fumo. "Somos em cinco irmãos e meu pai. Cada um tira o sustento de sua família daqui." Numa área relativamente pequena, em meio a 11 estufas, os Mudre mantêm 5 residências, todas bem pintadas ou em reforma. "Talvez outras culturas até ofereçam renda igual à do fumo, mas não têm segurança na hora de vender o produto", argumenta. (JR)

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