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O cultivo do feijão transgênico desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) – capaz de bloquear o vírus do mosaico-dourado e impedir quebras que passam de 40% – depende de votação marcada para hoje na Comissão Técnica Na­­cional de Biossegurança (CTNBio) em Brasília. Pes­qui­sadores esperam aprovação imediata para que o plantio comercial comece em 2014. Já organizações ambientais e de defesa dos direitos do consumidor alegam que são necessários mais estudos científicos.

O desfecho terá forte influência na agricultura do Paraná, maior produtor nacional de feijão. O estado colhe 800 mil toneladas em três safras por ano, um quarto da produção nacional, e também enfrenta o mosaico-dourado.

O embate entre pesquisadores e ambientalistas reacende as discussões sobre transgenia que antecederam a aprovação da soja tolerante ao glifosato, plantada há cinco safras. A diferença, agora, é que trata-se de um dos alimentos mais tradicionais do país.

Para as organizações que tentam barrar a aprovação, o consumidor e o ambiente estão em risco. "Levantamos diversos questionamentos e nenhum deles foi respondido", afirma a assessora jurídica da Terra de Direitos, a advogada Ana Carolina Brolo de Almeida. Segundo ela, houve plantio apenas em dois biomas (Cerrado e Mata Atlântica). A Embrapa cultivou a nova semente em Londrina (PR), Sete Lagoas (GO) e Santo Antônio de Goiás (GO). "Não houve estudos com animais em gestação", acrescenta.

O pesquisador da Embrapa Arroz e Feijão (Goiás) que liderou as experiências transgênicas, Josias Faria, não quis se pronunciar às vésperas da votação na CTNBio. "A Embrapa pediu para que não falássemos", disse por telefone. A liberação foi solicitada em 2010. Ele vinha alegando que todos os estudos necessários foram realizados e que as propriedades do novo feijão são idênticas às do alimento convencional.

Há temores em relação às consequências econômicas. A Embrapa afirma que as perdas que serão evitadas podem alimentar milhões de pessoas. Porém o impacto não se resume a isso, afirmam especialistas. "O cultivo pode se expandir e exigir menos insumos, mas a curto prazo não deve haver queda nos preços e os consumidores podem ficar com medo de alimentar seus filhos com feijão modificado", avalia Marcelo Lüders, presidente do Conselho Administrativa do Instituto Brasileiro de Feijão e Legumes Secos (Ibrafe). O consumo de feijão caiu de 27 para 17 quilos por pessoa ao ano nas últimas três décadas, mostram dados do governo.

A Terra de Direitos e outras três organizações não-governamentais recorreram ao Ministério Público Federal e ao Ministério de Ciência e Tecnologia na tentativa de suspender a votação desta quinta-feira. Se os membros da CTNBio aprovarem o cultivo, o grupo promete apelar à Justiça.

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