O relógio apocalíptico que conta o tempo para o desaparecimento da variedade de bananas Cavendish – a mais cultivada no mundo, que inclui a família das nanicas – já pode ser atrasado em vários minutos, graças a uma modificação genética desenvolvida por cientistas da Austrália. Eles conseguiram obter uma banana resistente ao fungo devastador do mal-do-Panamá utilizando genes de uma variedade selvagem da própria espécie.
Por outro lado, para proteger outro ingrediente fundamental da salada de frutas, cientistas brasileiros conseguiram desenvolver uma laranja transgênica resistente a duas doenças: o amarelinho e o cancro cítrico. O amarelinho gera frutos pequenos e de amadurecimento precoce, enquanto o cancro causa desfolhamento das plantas, lesões e queda prematura dos frutos.
O avanço nas pesquisas com bananas foi publicado na edição de novembro da revista científica Nature Communications, enquanto o trabalho sobre laranjas saiu no mesmo mês na revista Molecular Plant-Microbe Interactions, da Associação Americana de Fitopatologia.
Sentença de morte
Em relação à banana Cavendish, existia uma sentença de morte por causa do mal-do-Panamá, também conhecido como murcha de Fusarium ou fusariose da bananeira, por não haver meios eficazes de controlar a infestação do fungo Fusarium oxysporum f. sp. Cubense, que pode sobreviver no solo por até 40 anos. Defensivos agrícolas e técnicas de manejo podem apenas retardar o avanço da doença, de forma paliativa.
O mal aparentemente insolúvel pode estar a caminho de ser resolvido por pesquisadores da Universidade de Tecnologia de Queensland. Em testes realizados entre 2012 e 2015 em um solo altamente contaminado, uma das plantas que recebeu gene de uma variedade selvagem da própria banana mostrou-se imune ao mal-do-Panamá e outras três revelaram bastante resistência.
Um dos responsáveis pelo estudo, o professor James Dale afirma que a descoberta é um passo adiante na tentativa de proteger um mercado global de US$ 12 bilhões em exportações. “Os resultados nos mostram que chegamos a uma variedade resistente ao fungo e que, uma vez aprovada, poderá ser plantada nos países que autorizarem seu cultivo”, revela Dale.
Os cientistas agora vão fazer mais testes com as quatro variedades que demonstraram resistência. Ao final dessa etapa, que deve durar cinco anos, será possível avaliar a produtividade de aproximadamente nove mil bananeiras geneticamente modificadas.
Avanço paralelo
Quase simultaneamente à publicação da descoberta australiana, o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) anunciou o desenvolvimento da laranja transgênica resistente ao amarelinho e ao cancro cítrico. Causadas pelas bactérias Xylella fastidiosa e Xanthomonas citri, respectivamente, essas doenças são antigas e recorrentes nos pomares, levando à perda de produtividade e, eventualmente, à morte da planta.
A pesquisa, que já dura sete anos, é conduzida pelas pesquisadoras Raquel Caserta e Alessandra Alves de Souza. Elas utilizaram um gene da própria Xylella para obter a resistência. Ao inserir o gene na laranjeira, ela passa a produzir uma molécula que interfere no sistema de comunicação das bactérias, fazendo com que se movimentem menos e, por consequência, colonizem menos a planta.
O resultado são pés de laranja até 60% mais resistentes à doença. Para surpresa das pesquisadoras, o mesmo gene da Xylella mostrou sinais importantes de retardamento da proliferação bacteriana também para o cancro, ampliando mais seu potencial de uso.
As mudas modificadas ainda estão em estufas, sob ambiente controlado e em vasos. O próximo passo será levá-las para campo, onde frutificarão e gerarão os resultados científicos necessários antes da comercialização. O IAC deve protocolar ainda neste ano o pedido de Liberação Planejada em Meio Ambiente, na Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio).
