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Avaliações técnicas divulgadas ontem pelo governo estadual e pela Federação da Agricultura do Paraná (Faep) mostram que a produção rural perde valor há 18 meses no Paraná. O Valor Bruto da Produção (VBP) agropecuária caiu 10% em 2009 na comparação com 2008. Principais razões: a seca que quebrou a safra 2008/09 e os preços reduzidos. As cotações do primeiro semestre deste ano agravam a situação, mostra estudo mais pontual. Os preços médios das três principais commodities – soja, milho e trigo – apresentaram redução de mais de 15% na comparação com os seis primeiros meses de 2009.A queda nos números finais do VBP 2009 era esperada pela quebra climática na produção do campo, aponta o técnico da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) que revisou as estatísticas, Hugo Winckler. A Seab considera que entre 2007/08 e 2008/09, a produção de grãos caiu 23% – de 32,2 milhões para 24,7 milhões de toneladas. A agricultura perdeu renda e os valores da pecuária e do setor florestal subiram pouco (0,3% e 0,4%), resume o agrônomo. Ele observa que a contínua queda das cotações dos grãos pode afetar também o VBP 2010.

Estudo da Faep baseado nos preços de soja, milho e trigo que será divulgado nos próximos dias mostra que as cotações ao produtor caíram, respectivamente, 27%, 18% e 17% no mercado interno. A comparação se dá entre as médias praticadas de janeiro a junho de 2009 e 2010. Em valores nominais, a saca de 60 quilos de soja passou de R$ 45 para R$ 33, a de milho de R$ 17 para R$ 14 e a de trigo de R$ 28 para R$ 23. "Há sinais de recuperação no milho, mas os preços ainda estão longe de atingirem a marca dos últimos anos", avalia a economista da Faep Gilda Bozza.

Boa parte da redução observada no último semestre deve-se à valorização do real frente ao dólar. Como os preços internos seguem cotações internacionais em dólar, as baixas nas cotações das commodities são maiores para o produtor brasileiro do que para o norte-americano. "Em valor real, a soja vale hoje 72% do que valia em 2001."

O VBP 2010 deve ser apurado pela Seab até meados do ano que vem. O índice não mede a renda geral do agronegócio. Aponta o valor da produção antes da industrialização ou da destinação dos grãos para produção de carnes, por exemplo.

Os números das cooperativas indicam que a industrialização e a produção de carnes ajudam a reduzir o impacto da crise nos preços das commodities agrícolas. O setor – responsável por 55% da produção de soja, milho e trigo do estado – faturou R$ 24,6 bilhões em 2009, ante R$ 25,8 bilhões alcançados em 2008. A Organização das Cooperativas do Paraná prevê faturamento de R$ 27,5 bilhões em 2010.

Ministério prevê recuperação

Apesar da contínua queda nas cotações dos grãos, o governo federal prevê recuperação da renda dentro da porteira em 2010. A expectativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) é que o VBP do Paraná chegue a R$ 21,9 bilhões neste ano. O valor é 21% superior ao apurado pelo Mapa para 2009. Segundo o ministério, a renda agrícola paranaense foi de US$ 19,1 bilhões no ano passado.

A projeção do Mapa apresenta valores menores que os apurados pela Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab) porque leva em conta apenas os dez principais produtos agrícolas cultivados no estado. O levantamento da Seab considera mais de 500 itens, entre produtos da agricultura, da pecuária e florestais. Outra diferença é que o levantamento do Mapa para 2009 contabiliza a safra de inverno que foi colhida no final de 2008, enquanto a Seab inclui em seu cálculo a safra de inverno do ano a que se refere o VBP, apesar de boa parte da produção ser colhida no segundo semestre e comercializada no ano seguinte.

Somente a pecuária, atividade que não entra no cálculo federal, foi responsável por 43% do faturamento agropecuário total do Paraná no ano passado, o equivalente a R$ 15,98 bilhões, segundo a Seab. A avicultura avançou 2%, para R$ 6,63 bilhões, e a bovinocultura de corte recuou 5%, para R$ 3,12 bilhões.

A produção de leite bovino aumentou 5% no estado e ganhou 3% em valor unitário, na comparação entre 2008 e 2009. Com essa evolução, a pecuária leiteira passou para a 5ª posição entre os produtos mais valorizados, ultrapassando suínos, que recuou 18%. Os quatro produtos mais valorizados continuam sendo, na ordem, soja, aves, bovinos e milho. Em seguinda vêm leite e suínos.

A cana-de-açúcar, por sua vez, ultrapassou o setor representado por trigo e triticale. A valorização internacional do açúcar e o aumento de 7% na produção resultaram num avanço de 17% no VBP 2009 da cana no Paraná, para R$ 1,55 bilhão. Foi o índice positivo mais expressivo entre os dez produtos líderes no VBP.

Apesar do avanço da cana, as lavouras perderam espaço no VBP agropecuário do Paraná. A participação caiu de 55% para 49%, devido à desvalorização dos grãos, que provocou retração de R$ 22,92 bilhões (2008) para R$ 18,56 bilhões (2009) no segmento. O valor do feijão, por exemplo, caiu 33%. Com isso, a leguminosa deixou de figurar entre os dez principais produtos da agropecuária.

Com isso, a pecuária evoluiu de 38% para 43% mesmo sem avanço expressivo no valor bruto da produção, que aumentou apenas 0,33%, passando de R$ 15,93 bilhões para R$ 15,98 bilhões. O mesmo ocorreu com o setor florestal, cujo faturamento variou 0,37%, de R$ 2,84 bilhões para R$ 2,85 bilhões, com aumento da participação no VBP agropecuário de 7% para 8%. (JR e LG)

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