• Carregando...

Três produtores paranaenses, precursores do plantio direto no Brasil, foram homenageados com o lançamento de um livro na abertura do Show Rural Coopavel, ontem, em Cascavel. A publicação “Plantio Direto: A tecnologia que revolucionou a agricultura brasileira” traz Herbert Bartz, Manoel Henrique “Nonô” Pereira e Franke Dijkstra como protagonistas de uma revolução que começou no Paraná.

“O plantio direto foi a grande redenção da agricultura no país, com a geração de emprego, renda e desenvolvimento com respeito ao meio ambiente... o verdadeiro conceito de sustentabilidade”, define o diretor-geral brasileiro da Itaipu, Jorge Samek.

Produzido e lançado pela Itaipu Binacional, através da Editora Parque Itaipu, da Fundação Parque Tecnológicas Itaipu (FPTI), o livro de 144 páginas tem coordenação editorial de Paulino Motter e de Herlon Goelzer de Almeida. A edição e o texto são de Dimitri Valle, com consultoria técnica de Ivo Mello, da Federação Brasileira de Plantio Direto na Palha (FEBRAPDP).

Entre os 10 capítulos da obra, que aborda a transformação promovida pelo Sistema Plantio Direto (SPD), alguns são dedicados à história dos pioneiros. “Na década de 70, a agricultura brasileira sofria o flagelo da erosão do solo, e o que se destaca é a obstinação destes três produtores, que não ficaram esperando uma solução e foram para o exterior atrás de um conhecimento que não existia aqui”, frisa Motter.

Herbert Bartz foi o primeiro a implantar a técnica em solo brasileiro, depois de ir a países da Europa e aos Estados Unidos em busca de novas práticas. Foi seguido por Nonô Pereira e Franke Dijkstra, que contribuíram para a difusão e o desenvolvimento do sistema.

No final dos anos 1970, eles criaram o Clube da Minhoca – que mais tarde se tornaria a FEBRAPDP –, para troca de experiências entre os produtores da região. “Queríamos divulgar o plantio direto para o Brasil inteiro, porque vimos que era algo muito bom, tanto para o produtor como para o meio ambiente”, conta Dijkstra. Com o clube, buscaram também apoio técnico e científico, que resultou em parceria com a Embrapa e a Cooperativa Central de Laticínios do Paraná (CCCPL).

O livro relata que, neste período, a erosão causava perda média anual de 20 toneladas de solo por hectare no país. Aplicando os três princípios fundamentais do SPD -- não revolvimento do solo, rotação de culturas e utilização da palhada como cobertura -- , a perda foi reduzida em 95% . O acúmulo de matéria orgânica aumenta a produtividade, além de gerar outras vantagens como a economia de combustível de até 45 litros por hectare e possibilidade de duas safras ao ano.

Segundo Motter, na época, a recente mecanização da agricultura não dava conta do problema da erosão, por não usar técnicas adequadas ao clima brasileiro. O revolvimento do solo era próprio de países de clima frio, que tinham período de plantio curto. “O plantio direto foi a solução que eles encontraram. Desde então, a tecnologia se consolidou e o Brasil hoje é referência mundial na área. A lição desta história é o avanço que vem do conhecimento prático, combinado com a pesquisa e o desenvolvimento técnico”, conclui.

O difusor: Nonô Pereira

A experiência de sucesso de Herbert Bartz em Rolândia, no Norte do estado, incentivou Manoel Henrique “Nonô” Pereira, junto com Franke Dijkstra, a implementar a técnica do plantio direto em sua propriedade nos Campos Gerais em 1976. Foi a partir do aumento de produtividade e maior conservação do solo, em uma região que experimentava um boom do cultivo da soja, que a tecnologia ganhou força. Em 1979, após acumularem alguma experiência e muitas dúvidas sobre o processo, Nonô, Dijkstra e Bartz passaram uma temporada nos EUA em busca de mais informações. De volta ao Brasil, Nonô sugeriu a criação do Clube da Minhoca, que ajudou de forma decisiva a difundir o plantio direto no Brasil e nos países da América Latina. Ele foi também responsável pela criação de um minimuseu do plantio direto em sua fazenda, em Palmeira. Em 2010, teve a ideia da criação do Centro de Excelência que deve ser inaugurado em 2015, na Fazenda Escola Capão da Onça, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), e receberá o acervo de documentos, fotos, vídeos e as primeiras máquinas de Nonô.

O precursor: Herbert Bartz

Herbert Bartz, de Rolândia, é o pioneiro do plantio direto no Brasil. Nascido em Rio do Sul (SC), passou parte da infância e juventude na Alemanha com os pais. As dificuldades que conheceu lá, especialmente durante a Segunda Guerra Mundial, despertaram o desejo de produzir alimentos em abundância. No início dos anos 70, deparou-se com a erosão do solo em sua propriedade. Decidiu encarar o problema e reagir a ele, como diz ter aprendido com os pais. Em 1972, viajou para a Alemanha, Inglaterra e Estados Unidos em busca de alternativas. Nos EUA, encontrou o conceito de no-till, prática precursora do plantio direto. Importou então uma semeadora de lá e fez as primeiras experiências com a técnica em sua propriedade. A máquina pioneira serviu de modelo para a produção de maquinário próprio no Brasil. Uma forte geada em julho do mesmo ano levou Bartz a se desfazer de todo o seu maquinário para pagar dívidas bancárias com o financiamento da lavoura. Mas, graças ao plantio direto, recuperou-se rapidamente e o bom desempenho de suas lavouras logo atraiu a atenção de outros produtores paranaenses.

O propagador: Franke Dijkstra

Franke Dijkstra encarou o plantio direto como uma questão de sobrevivência. Assim como Herbert Bartz, foi aos Estados Unidos em 1972 em busca de soluções para a erosão do solo. Na época, implantou um sistema de manilhas para conduzir á água da chuva acumulada nas plantações, mas sabia que era preciso avançar mais. Foi quando descobriu o plantio direto em uma visita , junto com Nonô, à propriedade de Bartz. Em 1976, implantou a técnica em 100% de sua lavoura e foi chamado de louco por outros produtores, por apostar tão fundo em um técnica nova, ainda sem eficácia comprovada. Mas o sucesso que obteve em sua da propriedade veio para convencer a todos que aquele era o caminho. Dijkstra foi um dos fundadores da Fundação ABC, nos Campos Gerais, em 1984, – a primeira instituição brasileira de pesquisa aplicada à agropecuária. A fundação reuniu as cooperativas Capal, de Arapoti; Batavo, de Carambeí, e Castrolanda, de Castro. Responsável pela organização dos primeiros encontros nacionais de plantio direto, a instituição é hoje referência no segmento de pesquisa agrícola.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]