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O clima frio e úmido que atrasa as operações de plantio nos Estados Unidos pode gerar oportunidades de negócios para o Brasil nos próximos meses. A safra de grãos norte-americana, que geralmente abastece o mercado internacional a partir de agosto, será colhida mais tarde neste ano, ampliando a entressafra no maior exportador mundial de soja e milho. O atraso deve obrigar os importadores a buscar fornecedores alternativos para suprir seu consumo até que a oferta norte-americana se regularize e, segundo analistas, Brasil e Argentina tendem a preencher esse gap. "Se não houver soja e milho disponível nos EUA, os compradores se voltarão a fontes que ainda têm excedente exportável, como a América do Sul", disse Terry Reilly, analista do Citigroup, à Agência Reuters.

Normalmente, o mercado mundial de grãos é abastecido pela América do Sul durante o primeiro semestre e pelos EUA na metade final do ano. Tradicionalmente, logo que as primeiras lavouras de soja e milho são colhidas no Sul do país, em agosto, a produção norte-americana é prontamente absorvida pelo mercado externo. A oferta é incrementada em meados de setembro, quando as máquinas começam a avançar também no Meio-Oeste, o coração graneleiro do país.

Neste ano, contudo, esse calendário tende a ser alterado. Chuvas intensas e constantes mantiveram as máquinas paradas durante boa parte de abril, mês que costuma concentrar as atividades de campo no Sul e no Meio-Oeste do país. Os mapas de climáticos do NOAA, o instituto meteorológico do governo norte-americano, revelam que importantes estados produtores como Illinois e Indiana, na porção leste do Corn Belt, Missouri, Tenesse, Mississippi e Arkankas, na região conhecida como Delta do Mississippi, ao sul do país, e, chegaram receber até 300% do volume normal de chuva esperado para esta época do ano.

O excesso de umidade fez com que o plantio da safra 2010/11 evoluísse com lentidão nos EUA. Na virada de abril para maio, apenas 13% da área prevista para o milho havia sido semeada no país e o plantio da soja sequer havia começado, mostra levantamento de acompanhamento de safra do USDA, o departamento de agricultura dos EUA. Normalmente, as plantadeiras já deveriam ter passado por 40% das lavouras do cereal e cerca de 10% das plantações da oleaginosa.

Uma pausa nas precipitações nas últimas duas semanas permitiu a retomada dos trabalhos de campo, mas não eliminou os problemas. As chuvas comprometeram também comprometeram o trabalho dos poucos produtores que conseguiram avançar com as máquinas no mês passado. De acordo com a Reuters, as chuvas de abril deixaram cerca de 1,2 milhão de hectares de soja e milho debaixo d’água, obrigando agricultores replantar lavouras danificadas ou até abandoná-las. "Tenho uns 80 hectares de lavoura inundados. Mas continuo plantando sempre que o tempo permite porque não tenho condições de deixar áreas descobertas", lamenta o produtor Michael Thompson, que cultiva cerca de 400 hectares com soja, milho e algodão em Thornton, no Mississippi.

O estado de Thompson é um dos mais atingidos pelas enchentes. Segundo o governo estadual, quase 500 mil hectares recém-plantados com milho, soja e algodão foram alagados depois que o Rio Mississippi transbordou. As fortes chuvas das últimas semanas elevaram as águas do rio para seu nível mais alto em quatro décadas e ameaçam a logística de escoamento da safra norte-americana. Segundo maior rio do país, o Mississipi deságua no Golfo do Médico, porta de saída de 60% a 65% da produção de grãos dos EUA.

Produtividade do milho já está comprometida, afirmam analistas

Num ano em que os Estados Unidos enfrentam o maior aperto nos estoques em mais de quinze anos, tudo o que os norte-americanos não precisavam eram uma primavera fria e úmida. As chuvas quem mantêm as máquinas nos galpões já "roubaram" dos produtores 3 sacas de milho por hectare e ameaçam o plantio recorde previsto pelo USDA, o Departamento de Agricultura do país.

Em relatório divulgado na semana passada, o órgão recuou para 166 sacas por hectare a sua estimativa de produtividade para a safra 2011/12 do cereal. Em fevereiro, partindo da linha de tendência histórica, o USDA havia projetado o rendimento médio do cereal norte-americano em 169,14 sacas por hectare.

Há, contudo, quem aposte que o prejuízo causado pelo clima adverso às lavouras possa ser ainda maior. Para o agrometeorologista Donald Keeney, da Cropcast,os atrasos na implementação da safra podem reduzir a produtividade do milho em até 5%. "Ainda que o plantio tenha sido acelerado nos últimos dias, 50% da área será plantada uma semana depois do que o recomendado."

De acordo com o USDA, os EUA devem destinar ao milho 37,3 milhões de hectares neste ano, 4,5% menos que no ciclo anterior. Se o clima continuar dificultando os trabalhos de campo, entretanto, é possível que parte dessa área seja remanejada para a soja, cuja janela de plantio se encerra mais tarde. Por enquanto, a previsão o governo norte-americano é que a oleaginosa ocupe 31 milhões de hectares nesta temporada, 1% menos que no ano passado.

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