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Mesmo com redução de 2% na área, Paraná está colhendo 34% mais feijão somente na segunda safra, que deve somar mais de 450 mil toneladas | Fotos: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo
Mesmo com redução de 2% na área, Paraná está colhendo 34% mais feijão somente na segunda safra, que deve somar mais de 450 mil toneladas| Foto: Fotos: Josua© Teixeira/gazeta Do Povo

Os leilões públicos de aquisições de feijão destinados à cesta básica estão causando efeito negativo sobre as cotações do produto. Como há excesso de oferta e de interessados na venda, os pregões têm tido sentido inverso: os preços mínimos despencam ao longo da seção. Na última quarta-feira (11), o quilo do produto embalado foi negociado à R$ 0,99 em alguns lotes. Com isso, o valor por saca fica em R$ 60, ainda abaixo do mínimo, de R$ 95. “O empacotador tem que deduzir o custo do frete, da embalagem, do beneficiamento e o próprio lucro. Na melhor das hipóteses, sobra ao produtor R$ 30 por saca” alerta Marcelo Lüders, analista de mercado da Correpar.

Atualmente, o mercado do feijão paga menos de R$ 60 por saca. Entidades do setor pedem que o governo reforce seus estoques, com compra direta dos produtores para estancar a desvalorização. Nem mesmo o anúncio da aquisição de R$ 2 milhões em feijão paranaense (R$ 20 milhões para todo o país), confirmado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em maio, desacelerou a derrubada dos preços. Em 12 meses, a queda acumulada no estado é de 62,5%, conforme levantamento da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab). A atual quantia recebida no campo mal cobre os custos operacionais, estimados em R$ 60 por saca.

A Federação de Agricultura do Paraná (Faep) questiona a divisão dos recursos na primeira intervenção governamental. Segundo a economista da entidade Tânia Moreira, a fatia paranaense deveria ser maior porque o estado é o principal produtor do alimento no país. Das 1,47 milhões de toneladas de feijão previstas para a segunda safra, 470 mil (32%) são do Paraná. “Desde janeiro estamos alertando o governo sobre a necessidade dessas aquisições. Mas a verba não é suficiente”, critica.

A queda nos preços responde à oferta do produto no mercado. Os produtores ampliaram em 12% a área destinada ao feijão na primeira safra. Na segunda, o terreno praticamente se manteve em relação ao ano passado, mas a produtividade cresceu 34%, de acordo com a Seab.

O cenário atual pode desestimular investimentos na cultura. “Quem vai sentir é o consumidor. Vai cair a oferta de feijão nos próximos anos e os preços tendem a subir”, aposta Lüders.

Ricardo Wolter tem produção de mais 50 ha à espera de comprador

Sem saída

As duas últimas safras de feijão foram difíceis para o produtor Ricardo Wolter, de Carambeí, nos Campos Gerais. Sem O feijão colhido em maio ainda está no armazém aguardando comprador. O preço muito baixo não compensa a comercialização. “Eu não sei o que fazer”, diz Wolter, que produz feijão há cerca de 20 anos.

Ele plantou 50 hectares na primeira safra, colhida em dezembro de 2013, e vendeu a produção a um preço médio de R$ 71. “Já foi muito ruim”, comenta. Ele insistiu na mesma área na safra das secas: plantou os mesmos 50 hectares, mas ainda não vendeu um grão sequer. “Não aparece comprador,” reclama. Sobre o anúncio de nova Aquisição do Governo Federal (AGF), o produtor reclama dos limites de participação por produtor, de 750 sacas.

“Eu acredito que muito produtor vai deixar de plantar feijão e os preços vão subir porque vai faltar feijão”, comenta.

SOCORRO: Conab no Paraná promete comprar mais do produtor

Para interromper a quedanos preços do feijão, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) no Paraná pediu que mais 40 mil toneladas do produto sejam adquiridas do produtor até o fim de julho.

A decisão sobre a liberação de recursos deve sair na sexta-feira (20).Segundo Eugênio Stefanello, técnico da Conab no estado, os recursos foram solicitados em fevereiro.

A qualidade dos produtos também é motivo de preocupação. As chuvas recentes que atingiram o Paraná podem prejudicar a safra, tornando-a úmida demais para atender os padrões do governo. “Não é tão simples vender ao governo. Tem gente que vai ficar com feijão na mão”, afirma a analista da Unifeijão, Sandra Hetzel.

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