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Vitor Paolineti produz pupunha na sua propriedade de 14 hectares em Morretes, no litoral. | Jonathan Campos
Vitor Paolineti produz pupunha na sua propriedade de 14 hectares em Morretes, no litoral.| Foto: Jonathan Campos

A constante presença nas feiras de alimentos orgânicos realizadas quase que diariamente em Curitiba dá a falsa impressão de que o produtor Lorival Vieira de Jesus reside na capital paranaense. Na verdade, Jesus “toca”, ao lado da esposa, uma propriedade de 10 hectares no município de Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana, onde produz hortaliças, feijão, abóbora, batata, morango, tomate, entre outros alimentos orgânicos. É nos arredores de Curitiba e em pequenos pedaços de terra do Litoral que vivem e trabalham boa parte dos agricultores familiares que alimentam a capital. Eles contam que mais de 80% da produção são direcionados ao consumidor de Curitiba. A rede de produtores tem rotina árdua de trabalho e precisa se reinventar todo o tempo em busca de renda. A opção pelo sistema orgânico foi a estratégia que Jesus e família encontraram para garantir sustentabilidade ao negócio. Confiante, o consumidor curitibano paga perto de 20% a mais pelos produtos sem uso de agrotóxico e adubo químico. Apesar da participação no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), o grosso da renda de Jesus e família vem da comercialização nas feiras da capital paranaense.

“Participo de três feiras em Curitiba onde vendo 80% da minha produção. A aceitação dos produtos é muito boa, pois o pessoal confia na origem”, conta o produtor. Não há como ficar apenas no campo, relata. “As feiras são fundamentais para os produtores familiares por eliminar os atravessadores. A venda direta permite conseguir um preço melhor na mercadoria.” A forma como Jesus comercializa a produção é praticamente unanimidade entre os produtores familiares da Região Metropolitana, que reúne 27 municípios. As estatísticas sobre o tamanho do apetite dos curitibanos pelas hortaliças – convencionais e orgânicas – produzidas nos arredores da capital são imprecisas. Mas de acordo com coordenador estadual de olericultura e agricultura orgânica do Instituto Emater, Iniberto Hamerschmidt, grande parte entra na dieta alimentar dos moradores da capital. “[A produção da Região Metropolitana] é uma peça chave para compor a dieta de legumes e vegetais dos curitibanos”, enfatiza. Segundo levantamento do Instituto Emater, o “cinturão verde” que envolve Curitiba colhe todo ano mais de 1,2 milhão de toneladas de alimento, 38% do volume estadual (3,1 milhões de toneladas/ano). Esse volume é reflexo do trabalho de 15,2 mil agricultores, sendo 90% no sistema familiar.  “A agricultura familiar é o motor desta região [agrícola]”, aponta Hamerschmidt. Unidades produtivas especializadas, acrescenta, demonstram profundo conhecimento da atividade. “A tecnologia adotada por esses agricultores é praticamente a mesma dos grandes produtores. Como cuidam de perto do que cultivam, podem alcançar até mais qualidade”, avalia. Demanda faz produção subir a Serra O mercado em ascensão e o preço remunerador pago na capital são os motivos para que Vitor Paolineti pegue a BR-277, que liga o litoral do estado a Curitiba, duas vezes por semana. A viagem tem como objetivo entregar a produção de pupunha retirada da propriedade de 14 hectares em Morretes, a três redes de supermercados e a algumas casas de carne. “90% da produção eu levo para a capital e 10% fica aqui [em Morretes] para alimentação escolar”, conta o produtor. Ele apostou no alimento em 2007, quando adquiriu a propriedade após concluir o curso de engenharia florestal. Com a ajuda de um empregado “em tempos de correria”, o próprio Paolineti é responsável pela manutenção dos 20 mil pés de pupunha da propriedade. O trabalho diário se faz necessário para a colheita de 2 mil cabeças/mês, que posteriormente são beneficiadas na pequena agroindústria que mantém dentro do mesmo terreno. “O pessoal está vinculando o palmito ao churrasco. A procura está grande. Chega a faltar produto para atender aos pedidos”, ressalta o produtor. Orientado por Emater e Embrapa desde a década de 1990, o cultivo da pupunha no Litoral dá trabalho a 630 produtores numa área de 350 hectares. É só uma parte dos 9,7 mil agricultores familiares que, de acordo com dados da Emater, atuam nos sete municípios da região: Antonina, Guaratuba, Guaraqueçaba, Matinhos, Morretes, Paranaguá e Pontal do Paraná. Em cada dez produtores, apenas um é classificado como empresarial ou periurbano (que planta no entorno da cidade, muitas vezes só uma horta incrementada). Para o coordenador Emater no Litoral, Sebastião Bellettini, além da procura cada vez maior por assistência técnica e novas tecnologias de cultivo e manejo da lavoura, os produtores familiares da região estão investindo no processamento da produção para agregar valor e alcançar mercados mais distantes. “Parte da produção abastece o mercado local. Mas muita coisa vai para Curitiba, Região Metropolitana e outras regiões do estado, principalmente hortaliças e frutas. Nesta hora o beneficiamento conta bastante para dar mais qualidade e durabilidade”, explica Bellettini. O beneficiamento da produção local resulta em derivados como aguardente, compotas, conservas, doces, farinha de mandioca, balas de banana, melado, derivados do leite, picles, rapaduras, sucos, entre outros. “Esse sistema é fundamental para garantir emprego e renda para as famílias rurais, além de fixar o homem do campo”, aponta Bellettini. Cinturão verde Conheça mais da agricultura familiar da Região Metropolitana de Curitiba e do litoral do estado do Paraná. Litoral Maioria – Há 10.555 agricultores (independentes, patronais, periurbanos, assentados e pescadores) no Litoral. E, desses, 9.704 são familiares (92%). Agroindústria – Em 458 unidades de produção, os alimentos são transformados, mesmo que artesanalmente. Cardápio – As principais culturas do Litoral são as verduras, as frutas, a criação de animais como búfalos (leite e corte), abelhas e peixes. Região Metropolitana Um terço – O Paraná produz 3,1 milhões de toneladas de hortaliças convencionais ao ano, sendo 1,2 milhão (t) na Região Metropolitana. Maioria -- Há 13,5 mil produtores trabalhando no sistema convencional no entorno de Curitiba, sendo 90% agricultores familiares. Nicho – As hortaliças orgânicas somam 60 mil toneladas ao ano no estado, numa área de 1.912 hectares cultivada por 1.810 produtores. Estima-se que 40% dessa produção tenha origem na Região Metropolitana e seja direcionada às 12 feiras semanais realizadas em Curitiba e ao Mercado Municipal.

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