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Lavoura rala na Bahia rendeu um terço do previsto | Hugo Harada/gazeta Do Povo
Lavoura rala na Bahia rendeu um terço do previsto| Foto: Hugo Harada/gazeta Do Povo
  • Seca fez com que os grãos perdessem peso

Num ano marcado por expansão de 7% no plantio de grãos, o Centro-Norte brasileiro encerra a colheita de verão com produção 15% menor que a esperada. Com área ampliada e altos investimentos em tecnologia, o potencial era para 12,3 milhões de toneladas. Mas uma estiagem prolongada reduziu a colheita a pouco de 10 milhões de toneladas, mostra Indicador da Expedição Safra. Entre soja e milho, 1,86 milhão de toneladas de soja e milho foram perdidas para a seca no MaToPiBa – Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.

Enquanto no Maranhão e no Tocantins as chuvas garantiram boa produção, o Piauí e a Bahia tiveram áreas que enfrentaram até 35 dias de sol contínuos. Nesses dois estados, grande parte das lavouras passou por um período seco em dezembro e outro em fevereiro. Na soma dos veranicos, foram mais de 60 dias de seca – dois terços do ciclo.

Seca fez com que os grãos perdessem peso

Com 45 mil hectares de soja na região, a trading Ceagro contabiliza redução de cerca de 10% na produtividade. Os números finais ainda estão sendo fechados, mas a expectativa de 50,8 sacas por hectare certamente não será alcançada. Na média, o rendimento deve ficar entre 45 e 47 sacas/ha. “Os índices foram bastante variáveis. Não tivemos problema no Tocantins, mas houve uma pequena quebra no Maranhão e grandes perdas no Piauí”, relata o gerente de produção da empresa, Claucir Pauletto.

Menos prejudicados, os 4,2 mil hectares que dedicados pela Ceagro ao milho verão devem render em média 125 sacas por hectare, índice próximo ao projetado no plantio. “As lavouras estavam em áreas que foram mais privilegiadas pelas chuvas”, explica o técnico. “Diluir o risco climático é fundamental. Por isso a estratégia de plantar em estados e microrregiões diferentes”, observa Pauletto.

Quem não tem essa opção sente no bolso os efeitos da seca. Desde que chegou à comunidade de Nova Santa Rosa, no município de Uruçuí, para desbravar as chapadas piauienses, no final dos anos 90, a família Marcolin enfrentou uma série de dificuldades, mas nunca tinha visto soja e o milho penarem tanto por falta de chuva. “Até janeiro tudo indicava que iríamos colher a nossa melhor safra da história. Mas aí veio fevereiro e tudo mudou. A seca pegou as lavouras bem na fase mais crítica, de floração e enchimento de grãos, e derrubou pela metade a produtividade”, conta Geisa. Junto com o marido Wilson e os filhos Eduardo e Brenda, ela cultiva perto de 1 mil hectares na Serra Branca – região, que junto com a vizinha Serra do Quilombo, foi uma das mais prejudicadas pela estiagem no Piauí.

A mais de 700 quilômetros dali, numa zona que já foi conhecida como “cemitério de gaúchos”, os relatos de quebra se multiplicam. Planejando colher até 55 sacas de soja/ha, Diego Pelizza dobrou a área plantada, incrementou o pacote tecnológico e escalonou o plantio em três épocas diferentes na propriedade que mantém em Barreiras, no Oeste da Bahia. Ainda assim, não conseguiu escapar da seca. No ano passado, um percurso de 800 metros era suficiente para encher a colheitadeira de grãos. “Neste ano precisei de três viagens”, compara.

Segundo a Aiba, entidade que representa os produtores de grãos do Oeste baiano, perto de 12 sacas de soja/ha foram perdidas para a estiagem em toda a região. A largarta Helicoverpa – que teve seus ataques potencializados pelo clima seco (veja texto ao lado) – levou mais 5 sacas/ha, exigindo até 13 aplicações de inseticidas, relata o assessor de Agronegócios da Aiba, Ernani Sabai. A praga também teria elevado em cerca de R$ 300/ha os custos de produção da soja e em R$ 140/ha os gastos com a lavoura de milho.

Monitoramento é arma contra lagarta

Igor Castanho

O combate à lagarta Helicoverpa começa a progredir no Oeste baiano. O inseto comprometeu a produtividade de plantações de soja, milho e algodão, desafiando produtores e técnicos em busca de uma solução. Agora a Agência Estadual de Defesa Agropecuária da Bahia (Adab) planeja o uso do princípio ativo Benzoato de Emamectina, que será aplicado em escala experimental em 10 propriedades da região.

Ainda não está clara qual espécie da lagarta é a grande vilã na Bahia. Tanto a Helicoverpa zea, já conhecida, como a Helicoverpa armigera, considerada uma nova predadora, foram encontradas, o que reforça a necessidade de monitoramento. “A aplicação química serve para quebrar o ciclo da praga, mas o ponto mais importante é o manejo integrado das culturas”, explica Armando Sá Nascimento, diretor da Adab.

Foram encontrados focos da lagarta também em lavouras em Mato Grosso e no Paraná. A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja) aponta que no Centro-Oeste a atenção é com a próxima safra. “A preocupação maior é que a atual safrinha possa funcionar de ponte e contribuir para a difusão da lagarta, afetando gravemente a próxima safra de soja”, explica Nery Ribas, diretor técnico da associação.

Adeney Freitas Bueno, pesquisador da equipe de entomologia da Embrapa Soja, relata que, apesar de haver focos no Paraná, o impacto no estado foi menor. “A paisagem agrícola aqui é diferente, com um clima um pouco mais frio e um número menor de aplicações de defensivos”, explica.

Os pesquisadores dizem que a medida chama a atenção para a necessidade de um melhor controle da produção para evitar que o problema continue. “É importante fazer a aplicação no momento certo e com o produto certo. Isso só é possível com monitoramento constante”, observa Bueno.

430 mil toneladas de soja e milho foram perdidas na Bahia, conforme a Expedição Safra. Maior parte da quebra deveu-se a seca. Lagarta teria levado dos produtores baianos perto de 5 sacas por hectare, segundo a Aiba.

 

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