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Pulverizações aumentam por dificuldade no controle de insetos | Jonathan Campos/gazeta Doa€‰povo
Pulverizações aumentam por dificuldade no controle de insetos| Foto: Jonathan Campos/gazeta Doa€‰povo

Principal arma dos agricultores no controle de lagartas, o milho geneticamente modificado Bt não dispensa o uso de inseticidas. Num cenário de custos em alta e preços em queda, o setor produtivo exige explicações das indústrias responsáveis pelas novas variedades de semente GM.

Na safra de inverno, as reclamações dos produtores aumentaram em Mato Grosso. A Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja MT) notificou extrajudicialmente quatro empresas: Monsanto, DuPont, Dow e Syngenta. “O objetivo é abrir diálogo, ouvir as empresas e verificar o que pode ser feito. O produtor investiu e agora quer ser ressarcido”, indica diretor técnico da entidade, Luiz Nery Ribas.

O risco é de o problema influenciar produtores de milho na safra de verão, que começa a ser plantada dentro de um mês no Paraná. Ribas explica que o problema de insetos resistentes ao milho Bt se intensificou nas duas últimas safras.

A maior preocupação é com as lagartas do gênero Spodoptera, que não deveriam apresentar tolerância às novas sementes. Segundo o Instituto Mato Grossense de Economia Agropecuária (Imea), foram necessárias entre duas e sete aplicações de defensivos. O custo chega a R$ 120/hectare, o equivalente a 12 sacas do cereal/ha.

Uma das principais razões para o problema está em falhas ou ausência do plantio de refúgio (área plantada com sementes convencionais que asseguram a eficiência das sementes Bt). As sementes repassadas para áreas de refúgio rendem pouco e por isso tem baixa aceitação, aponta a Aprosoja.

O especialista da fundação de pesquisas agropecuárias da cooperativa Agrária (de Guarapuava, Centro do Paraná), Alfred Stoezer, reforça que a ausência do refúgio prejudica até mesmo quem adotou a prática. “A lagarta Spodoptera consegue migrar por grandes distâncias, então o refúgio precisa ser feito por todos”, argumenta.

Para Stoezer, não há motivo para desespero. Nem todas as sementes Bt perderam eficiência, aponta. Ele avalia que o problema pode ser administrado na escolha das sementes e com manejo adequado. A tendência é que as regiões sem apoio de instituições de pesquisa locais tenham maior dificuldade na hora de escolher as sementes.

Outro lado

Empresas alegam que não há solução definitiva para controle de pragas

As quatro empresas notificadas pela Aprosoja minimizam os questionamentos da entidade sobre o milho Bt. A Syngenta argumenta que não há uma solução definitiva para o controle de lagartas, e se coloca à disposição de técnicos e produtores. “É importante que sejam adotadas estratégias abrangentes para o controle da praga, tais como área de refúgio, rotação de culturas e tecnologias de proteção de cultivo”, aponta. A DuPont Pioneer revela que ainda não recebeu a notificação, mas informa ter ciência do problema. “Desde que constatou o desenvolvimento de resistência de lagarta do cartucho do milho à proteína Cry1F, a DuPont Pioneer intensificou o trabalho junto aos produtores em práticas de manejo eficazes”, afirma a empresa.

A Dow AgroScience indica que está analisando as alegações da Aprosoja e vai se pronunciar dentro do prazo legal. A empresa revela que desde o lançamento da tecnologia, em 2009, há um programa de monitoramento do produto.

A Monsanto afirma que “a preservação e a sustentabilidade das tecnologias Bt demandam o cumprimento das recomendações de Manejo Integrado de Pragas (MIP) e de Manejo de Resistência de Insetos, que contempla o plantio das áreas de refúgio.”

“Milharal” guaxo ameaça a soja

Além das preocupações quanto à tolerância de lagartas ao milho Bt, produtores e pesquisadores sinalizam que é preciso atentar a outra tecnologia: o milho tolerante a glifosato (RR). A avaliação é de que o cereal plantado na safrinha pode se tornar uma planta daninha para o cultivo da soja RR no verão. Isso porque as plantas remanescentes vão disputar espaço com a lavoura nova mesmo após aplicação de glifosato para controle de ervas daninhas.

O pesquisador da Embrapa Soja Fernando Adegas explica que o problema está atrelado ao aumento na área plantada com o milho tolerante ao glifosato. Grãos remanescentes da colheita do cereal podem germinar na época do plantio da soja. “Uma ou duas plantas de milho por metro quadrado têm potencial para reduzir em até 50% a produtividade da soja, além de se tornar um vetor para lagartas.”

No Brasil, a soja RR é utilizada em mais de 90% da área cultivada, enquanto o milho RR ocupa entre 10% e 20%, estima Adegas. Uma alternatia é a aplicação de princípios ativos diferentes do glifosato. O pesquisador sugere ainda que o produtor faça o controle manual e monitore o trabalho de colheita do cereal, evitando que grãos fiquem no solo.

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