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| Foto: Anta´nio More/gazeta Do Povo

Em a busca de agilidade, produtividade e menor exposição às variações climáticas, produtores investem alto em maquinários cada vez maiores e mais potentes. Uma colheitadeira de ponta, por exemplo, chega a custa mais de R$ 1 milhão. Essa evolução tecnológica tem impacto direto na eficiência e na competitividade do campo e ajuda o agronegócio brasileiro a superar suas próprias metas, defende o vice-presidente da New Holland para a América Latina, Alessandro Maritano. Se há 30 anos era o processo de mecanização da agricultura nacional que movia a indústria de máquinas, hoje é a profissionalização do agronegócio que impulsiona o segmento, considera o executivo. Com mais de 68 mil unidades comercializadas, 2012 entrou para a história como um dos melhores anos para o setor, perdendo apenas para 1976. Naquele ano, mais de 80 mil tratores e colheitadeiras saíram das linhas de produção para o mercado interno. “O número de máquinas pode ser parecido, mas a produtividade é mais de seis vezes maior. Isso é tecnologia”, sustenta. Na entrevista a seguir, Maritano fala sobre como a indústria de máquinas agrícolas contribuiu para um salto de quase 300% na produção brasileira de grãos e sobre as perspectivas do setor para 2013.

É possível estabelecer um paralelo entre 1976 e 2012?

O número de máquinas é parecido, mas o mix das vendas é muito diferente e, consequentemente, a produtividade da frota é maior. As mais de 80 mil máquinas vendidas em 1976 produziam menos de 50 milhões de toneladas de grãos. Hoje, as quase 70 mil unidades produzem 185 milhões de toneladas de grãos. Ou seja, com praticamente o mesmo número de máquinas a gente está produzindo mais de quatro vezes mais. Isso dá uma ideia muito clara da evolução que houve no mercado de maquinas agrícola no Brasil, dando ao produtor a possibilidade de produzir muito mais no mesmo espaço. Isso é tecnologia, mostra a profissionalização do setor.

Isso quer dizer que o que puxou o crescimento do setor em 2012 foram máquina maiores?

Sim. O mesmo que já vinha ocorrendo no mercado de tratores há alguns anos, um crescimento da potência utilizada, agora está acontecendo no mercado de colheitadeiras. A migração das colheitadeiras, de convencional para fluxo axial, é uma realidade hoje no Brasil e acelera a evolução para uma tecnologia muito mais operativa no campo.

E programas sociais como o Trator Solidário e o Mais Alimentos têm a ver com o desempenho do setor no ano passado?

Dentro dos tratores de menos de 100 cavalos, acredito que 25%, até 30% das vendas estejam relacionados com esses programas. Isso permitiu que a agricultura familiar, que não tinha acesso a maquinário, tivesse a possibilidade de se mecanizar, mas, sem dúvida nenhuma, todos os que precisavam de mecanização agora já conseguiram e, com isso, o peso desses programas nas vendas totais vem caindo. Mas isso não significa que sua importância seja menor. São fundamentais para que a produtividade, tanto do grande produtor no Mato Grosso, quanto da agricultura familiar, mais no Sul do país, esteja em constante crescimento e não obrigue ninguém a sair do negócio por não conseguir manter-se competitivo.

Nos últimos anos a grande âncora do crescimento do setor tem sido o mercado interno. Esse continua sendo o foco da indústria?

A demanda interna do Brasil é tão grande que quase não sobra fôlego para pensar em exportação. Aqui na fábrica paranaense produzimos atualmente 75 tratores por dia e a expectativa é chegar a 90 tratores/dia nos próximos dois meses. E tudo isso para satisfazer só a demanda local. A exportação do Brasil para outros países da América Latina sempre aconteceu, e ainda está ocorrendo, mas tem uma situação um pouco diferente hoje. Primeiro por causa da Argentina, que, por uma decisão do governo para fortalecer a produção nacional, fechou as importações. E essa foi uma das razões pelas quais a New Holland decidiu fazer um investimento forte na Argentina, com uma planta de produção que será inaugurada neste semestre ainda. Nossos competidores estão fazendo a mesma coisa. Produzir na Argentina é uma necessidade agora. É um mercado que tem potencial, que vai se desenvolver, e precisamos estar presente.

A New Holland tem uma expressiva participação no mercado do Paraná, mas enfrenta uma disputa acirrada em outros estados brasileiros. Qual a estratégia de posicionamento da marca nas novas fronteiras agrícolas?

Sem dúvida nenhuma o Paraná é o coração do nosso mercado. E foi aqui que nasceram os agricultores que ampliaram o seu negócio comprando terras no Mato Grosso e nas áreas novas do MaToPiBa. Mas isso mudou o mercado de máquinas. Hoje, conhecer o produto não é mais suficiente. As necessidades dos grandes produtores são diferentes das necessidades dos clientes da agricultura familiar. É preciso conhecer as essas diferenças e saber como atender a essas necessidades diversas.

O aumento do número de concessionárias, de revendas também está previsto?

Hoje temos 170 pontos de venda e a perspectiva é aumentar esse número em 20%, 25% nos próximos dois ou três anos. A capilaridade da rede e a proximidade com cliente são a chave do sucesso. A janela da safra é cada vez mais curta, plantio e colheita se sobrepõe. E ao longo de todo esse processo não podemos ficar longe do cliente porque isso pode acabar tendo um efeito negativo sobre a produtividade. O crescimento da tecnologia tem que ter um suporte muito forte por parte do pós venda, senão todos os esforços, investimentos em tecnologia se perdem.

Sob a ótica da indústria e máquinas, esse bom momento vivido pelo agronegócio, não apenas no Brasil, como no mundo, tem vida longa? O crescimento é sustentável?

Tem tudo para ser um crescimento sustentável, sim. Sem tirar nada das áreas de preservação, a agricultura brasileira ainda pode crescer muito. A previsão de estabilidade nos preços das commodities, dos grãos, dá uma ótima base para uma perspectiva de crescimento do setor agropecuário no Brasil para os próximos anos e, sem dúvida nenhuma, para 2013. Se você agrega a tudo isso a intervenção do governo, com uma situação do Finame muito estável para 2013 – de 3% para os primeiros seis meses e de 3,5% para o segundo semestre – isso tudo dá tranquilidade ao agricultor para planejar seus investimentos, tanto em maquinário quanto em terra nova.

Com a crise na Europa e nos Estados Unidos, a New Holland Brasil tem ajudado a equacionar as finanças do grupo?

A importância do Brasil, e de toda a América Latina, dentro da CNH está crescendo. Há quatro, cinco anos a região representava 10%, 11% do faturamento do grupo. Hoje essa participação é de 15%, tanto no faturamento quanto no resultado operacional. Agora, a crise dos EUA foi uma crise de produção, mas não de venda de máquinas agrícolas. É um mercado muito estruturado, que conta com a proteção do seguro agrícola, que permite aos produtores planejar o investimento apesar de secas ou quebras que possam ocorrer, ter um plano de investimento no negócio que seja constante no futuro.

No Brasil esse panorama é diferente? A indústria sente mais os solavancos do clima?

Não só no Brasil, mas na América Latina em geral, o negócio agrícola fica conectado com a situação climática, por um lado, e ao preço das commodities, por outro. E também à ajuda do governo. Não existe uma estabilidade, mas um tripé de variáveis que condiciona o mercado de máquinas agrícolas.

Como a matriz na Itália avalia o potencial do mercado brasileiro e latino-americano? Há novos investimentos previstos para o Brasil ou à região nos próximos anos?

A América Latina tem uma importância histórica dentro do Grupo Fiat. Sem dúvida o mercado brasileiro é, dentro do panorama mundial, um dos que tem o maior potencial de crescimento. Essa troca de terra de pastagens para área agricultável não acontece na Europa e, nos EUA, cada vez menos. Por isso estamos investindo muito aqui no Brasil, e na Argentina também. Não só em fábricas, mas também no desenvolvimento de produtos. Temos um time de pessoas trabalhando para inovação específica do mercado brasileiro e latino-americano, para atender a qualquer tipo de oportunidade de negócio que a gente possa ter aqui no Brasil.

Alessandro Maritano, vice-presidente da New Holland para a América Latina

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