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Será um “muro” de vegetação de 15 quilômetros de largura, parte de uma iniciativa ainda maior, que busca também reduzir os ventos que arrastam areia e pó, diminuir a degradação da terra e melhorar a saúde  das pessoas. | /wikicommons
Será um “muro” de vegetação de 15 quilômetros de largura, parte de uma iniciativa ainda maior, que busca também reduzir os ventos que arrastam areia e pó, diminuir a degradação da terra e melhorar a saúde das pessoas.| Foto: /wikicommons

À primeira vista é uma missão impossível: frear a expansão do deserto do Saara em direção ao sul, em terras cultiváveis, impulsionada pelas mudanças climáticas e pelo excesso de uso da área como pastagem para animais.

Mesmo assim, com uma árvore por vez, está sendo construída uma Grande Muralha Verde, com a qual espera-se evitar o crescimento do deserto, em um esforço que dependerá de quase uma dezena de países, coordenados e com o aporte de dinheiro necessário.

No âmbito de um projeto lançado em 2007, a Grande Muralha Verde consistirá em uma faixa de árvores e plantas ao longo de 7 mil quilômetros, desde o Senegal, no Atlântico, até Djibuti, no Golfo de Áden, no Índico. Será um “muro” de vegetação de 15 quilômetros de largura, parte de uma iniciativa ainda maior, que busca também reduzir os ventos que arrastam areia e pó, diminuir a degradação da terra e melhorar a saúde e a qualidade de vida das pessoas da região.

Até agora, no Senegal, o país que mais avançou no projeto, já foram plantados 40 mil hectares ao longo de 150 quilômetros, de um total de 545 quilômetros, que abarcam cerca de 800 mil hectares nesse país, segundo as autoridades.

Em povoados como Mbar Toubab agora é possível cultivar hortaliças para vender, o que permite que Aissata Ka, de 38 anos, consiga certa renda ao aproveitar as novas oportunidades econômicas em uma região onde acácias são cultivadas.

“A agricultura é mais fácil agora para nós”, disse Ka, que vive nesse povoado ao norte do Senegal. “Com o gado, os animais podem morrer a qualquer momento e você fica condenado a viver como um nômade. Com a agricultura, não temos que sair daqui.”

Especialista do Programa de Desenvolvimento Local do Senegal que assessora o governo, Ousseynou Toure menciona outro benefício da iniciativa. “Ela também favorece a saúde das crianças, ao reduzir os ventos e o pó.”

O sucesso do Senegal não se deve apenas ao trabalho com as comunidades, mas também ao fato de que pesquisadores buscam identificar quais árvores são as mais indicadas para a tarefa.

A degradação da terra avança a passos rápidos diante das mudanças climáticas e contê-la é crucial para preservar os ecossistemas e restaurar a ordem natural das coisas, segundo Toure. Ele acrescenta que o projeto deve incorporar serviços sociais, para consolidar os avanços.

Cada um dos onze países pelos quais passará o muro verde deve decidir o que necessita e como lida com sua faixa no projeto, disse Toure. Caso um país mude de política e não mantenha suas árvores, isso pode afetar as nações vizinhas, explica ele.

O programa foi lançado por líderes africanos e é apoiado pela Organização das Nações Unidas e por outras entidades.

Especialista em clima da organização internacional de desenvolvimento Christian Aid, Mohamed Adow disse que é importante que esses projetos de recuperação do meio ambiente respeitem os direitos das comunidades e contem com o apoio delas.

“Selecionar o tipo ideal (de árvores e plantas) e fomentar sistemas de controle a partir das comunidades é vital para evitar que terminemos com uma faixa de plantas que não sejam bem vistas pelas pessoas da área, ou que sejam alvo de corte ilegal”, explicou Adow.

O presidente francês, François Hollande, disse que seu país investirá bilhões de euros nos próximos anos em energia renovável na África, para melhorar o acesso à eletricidade e a adaptação às mudanças climáticas. A ajuda francesa para o desenvolvimento incluirá a Grande Muralha Verde e a proteção do lago Chade e do rio Níger, entre outros temas, segundo o líder.

Conflitos internos em alguns países, como o Mali, onde há uma insurgência islâmica, poderiam retardar os progressos na plantação de árvores, destacou Gilles Boetsch, do Centro Nacional Francês para a Investigação Científica.

De todo modo, Papa Sarr, diretor técnico da Agência Nacional para a Grande Muralha Verde do Senegal, afirmou que, ainda que o projeto esteja no início, o nível de expansão da vegetação e os benefícios já percebidos são “fontes de otimismo”.

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