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Os produtores de soja do Mato Grosso deram a largada à colheita da safra recorde de grãos, anunciada por avaliações da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e por consultorias privadas. O clima quente e úmido deve produzir fartura jamais vista, apesar de a área agrícola nacional não ter se expandido. No Paraná, a soja enche os olhos dos produtores. Verde, viçosa e cheia de cachos. Mas os agricultores já anunciaram que, se o real continuar valorizado diante do dólar, sua renda pode ser menor que a da safra passada, com a agravante de que, quando os lucros caem, o endividamento do setor tende a aumentar.

As dívidas, que até o ano passado poderiam ser pagas com quatro meses de produção, agora exigem mais da metade da renda de um ano como 2006, segundo avaliação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), órgão ligado ao Ministério do Planejamento. O quadro preocupa produtores, governo e setor econômico como um todo, uma vez que a expectativa é de que a produção agrícola continue sustentando a balança comercial favorável em 2007.

A postura do ministro Luiz Carlos Guedes Pinto, que descarta a renegociação geral das contas agrícolas, indica que o governo vai tentar reduzir o endividamento. Existem duas maneiras de se fazer isso: cobrar as parcelas agendadas e dificultar as novas operações de crédito. No último ano, sobrou dinheiro nos bancos. Os agricultores já não tinham como ampliar suas dívidas. Agora, o Banco do Brasil prevê aumento de até 20% nos financiamentos, contando com pagamento de contas antigas – reparceladas diversas vezes. Mas, como ocorreu no último ano, essa ampliação pode acabar não ocorrendo.

O problema é que, se a renda da safra recorde não corresponder às expectativas, as dívidas podem crescer ainda mais. Sem renegociação, cai a disponibilidade de recursos para investimento. O Ipea diz que grande parte dos investimentos vem sendo paga com dinheiro financiado, acumulando um saldo negativo que equivale a quase um quarto da última safra.

A agricultura cresce, mas lucra menos que o esperado e paga cada vez mais juros. Se os produtores continuarem comprometendo a arrecadação ou, por outro lado, se o governo adotar uma postura mais rígida nas operações financeiras, corre-se o risco de o crescimento das exportações ficar bem abaixo do previsto. Se quiser ampliar sua fatia nas exportações de soja de 38% para 51% nos próximos dez anos – como prevê o Ministério da Agricultura –, o Brasil terá que encontrar uma saída ponderada para o endividamento agrícola. Para escapar da armadilha que as contas pesadas representam, é preciso achar uma forma de sair do atoleiro.

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