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Santa Cruz de la Sierra – Eles começaram a chegar no início da década de 90. Eram poucos produtores, que ocupavam pequenas áreas e se arriscavam numa verdadeira aventura no país vizinho. Atraídos pelo baixo custo da terra, eles foram se multiplicando e hoje formam um grupo de mais de 100 agricultores brasileiros, que respondem pela metade da produção de grãos da Bolívia. Eles partiram de várias regiões do Brasil, em especial do Rio Grande do Sul, Paraná e dos estados do Centro-Oeste.

Na bagagem, incerteza e insegurança, mas também a tecnologia que desencadeou o principal, senão o único, ciclo da agricultura comercial boliviana. O país, que só conhecia o cultivo de subsistência, passou a experimentar novas técnicas de produção, com destaque para o plantio direto.

Entre as várias histórias de produtores brasileiros que cruzaram a fronteira – é importante lembrar que muitos deles não tiveram sucesso –, está a de um paranaense, chamado Nilson Medina. O desempenho desse agrônomo, de Londrina (Norte do estado), não pode ser considerado uma regra, mas serve para ilustrar a contribuição brasileira no avanço da agricultura boliviana, bem como o espaço que a Bolívia abriu aos agricultores do Brasil.

Medina se transformou num dos maiores produtores de soja. Com uma área de 7 mil hectares, dividos em três propriedades na região de Santa Cruz de la Sierra (onde está concentrada 90% da produção de grãos), ele integra um seleto grupo dos 10 maiores agricultores do país.

Mas nem sempre foi assim. Quando decidiu ir embora de Londrina, Medina deu início à sua aventura em terras bolivianas com apenas 113 hectares. Quatorze anos mais tarde, ele gera 120 empregos diretos e produz 20 mil toneladas de soja. No Paraná, ele trabalhava na Monsanto, uma multinacional de insumos agrícolas.

O perfil empreendedor, que o consagrou como grande produtor, também fez dele uma liderança do setor. Mais do que plantar soja, hoje ele é cidadão boliviano, tem dois filhos que nasceram na Bolívia e, em nome do agronegócio, mantém relações político-institucionais nos diversos segmentos organizados da sociedade, inclusive com os governos.

Por diversas vezes, Medina foi recebido por diplomatas brasileiros e bolivianos. Também participou de reuniões formais e encontros informais com autoridades do governo, como o presidente Evo Morales e o ex-presidente Carlos Mezza. Ele faz questão, no entanto, de ressaltar que em todas as oportunidades atuou como representante de uma entidade de classe, no caso a Associação Nacional de Produtores de Oleaginosas e Trigo (Anapo).

Em meio às discussões sobre a nacionalização das terras pelo governo da Bolívia, Medina é uma referência aos que temem o confisco de áreas pelo governo do país andino. Ele é visto como uma espécie de porta-voz dos agricultores do Brasil que têm terras na Bolívia.

Quando o governo boliviano publicou o decreto com as novas regras da reforma agrária, em maio, dezenas de produtores recorreram à Medina atrás de informações e orientações sobre como proceder diante da possibilidade de expropriação. A resposta era sempre a mesma: "tenho certeza que governo não vai mexer em áreas produtivas."

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