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Irrigação em São Desidério, na Bahia: região do Matopiba será uma das mais beneficiadas com o aumento da área de agricultura irrigada | Albari Rosa/Gazeta do Povo
Irrigação em São Desidério, na Bahia: região do Matopiba será uma das mais beneficiadas com o aumento da área de agricultura irrigada| Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo

Uma publicação lançada na tarde desta terça-feira (20), no 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, pode revolucionar a agricultura brasileira. Desenvolvida pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a obra destaca a possibilidade de expandir a área de agricultura irrigada no país dos atuais 6,2 milhões de hectares para mais de 11 milhões de hectares até 2024.

O trabalho foi solicitado pelo Ministério da Agricultura (Mapa) para repensar a expansão da agricultura irrigada de forma sustentável. “Esse estudo tem como foco fazer o Brasil ser o maior produtor de alimentos do mundo. Temos potencial para duplicar [a área irrigada] sem grandes investimentos”, afirma Alan Bojanic, representante da FAO no Brasil.

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As áreas com potencial de implementação imediata foram identificadas pela FAO em parceria com a Agência Nacional das Águas, Confederação Nacional da Agricultura, Embrapa, entre outros parceiros. Há disponibilidade de expansão do modelo de irrigação em 20 estados.

“Uma das principais regiões é o Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia)”, afirma Gustavo Kauark Chianca, um dos autores do estudo e assistente do representante da FAO no Brasil. Essa é uma das principais regiões produtoras de grãos no país.

Brasil ‘perde feio’ em áreas irrigadas

Segundo o estudo da FAO, o mundo tem aproximadamente 310 milhões de hectares em áreas irrigadas. Cerca de 70% ficam na Ásia. A Índia é o país com a maior área irrigada do mundo, 66 milhões de hectares, seguida pela China e pelos Estados Unidos, com 62 e 27 milhões de hectares, respectivamente. O México é líder na América Latina, com 6 milhões de hectares. “Depois vem o Brasil, mas o México não tem para onde expandir”, afirma Gustavo Kauark Chianca. Ele explica que o país demorou para avançar no tema porque conseguiu expandir as áreas de produção agrícola. Agora, é o momento de captar a água para, no mínimo, dobrar a produtividade.

Produtividade da agricultura irrigada

Ao todo, as lavouras ocupam uma área próxima a 65 milhões de hectares no Brasil, segundo o Mapa. Já o potencial de expansão da agricultura irrigada foi estimado em 29,5 milhões de hectares pela FAO. Isso sem contar partes das áreas de pastagem podem ser - e que hoje somam 160 milhões de hectares.

Segundo o estudo, a produtividade média em áreas irrigadas no país é pelo menos 2,7 vezes maior que a obtida através da agricultura tradicional de sequeiro, o que poderia triplicar o rendimento médio onde hoje predomina o sistema convencional.

“Até há pouco tempo falava-se em produtividade do solo. Agora precisamos de produtividade hídrica, utilizando racionalmente os recursos, e não falamos em expansão das áreas. Precisamos incentivar as áreas de irrigação onde seja possível”, destaca José Roberto Borghetti, coordenador geral do estudo.

Pivôs de irrigação no Matopiba Lineu Filho/Gazeta do Povo

O engenheiro ambiental Helder Nocko, também autor do estudo, explica como foi feita essa análise: “Desenvolvemos critérios para não avançar sobre áreas florestais, de consideração e terras indígenas. Também verificamos a capacidade de infraestrutura, como estradas, energia, portos, ferrovias e unidades de armazenamento, para levar a irrigação a áreas preparadas [para ampliar a produção de alimentos]”.

Borghetti lembra também que o Brasil detém 12% da água doce do mundo: “Mas isso é muito mal distribuído no território, com 70% na região amazônica. O Nordeste, por exemplo, é muito pobre nesse sentido. Temos que nos preocupar e ter responsabilidade de projetar para o futuro”. Para irrigar essas áreas, é importante desvendar águas subterrâneas, destaca.

Crédito para agricultura irrigada

Para alcançar o objetivo de curto prazo e dobrar a área irrigada atual, a chave é o oferecimento de crédito, avalia Bojanic. “Existem políticas de crédito que precisam mais aprofundadas. Algumas até podem ser utilizada para irrigação, mas precisamos de políticas direcionadas, associadas a regiões específicas”, completa Chianca.

O especialista destaca ainda a necessidade de crescimento da irrigação na agricultura familiar: “Estamos trabalhando para lançar um recorte específico de fomento neste sentido, não só pelo potencial de consumo, mas porque isso é interessante para políticas públicas”.

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