• Carregando...
 |
| Foto:

Um dos palestrantes do seminário de agro­­energia realizado em Londrina pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) na última semana, o pesquiador da Embrapa Décio Gazzoni afirma que o setor sofre impacto das quebras de safra. O encarecimento das matérias-primas estaria exigindo um replanejamento da cadeia agroenergética.

Como será a demanda por produtos do agronegócio para produção de energia no médio prazo?

O mercado de agroenergia, em termos mundias, está em crescimento, se analisarmos um período mais longo, por exemplo entre 2005 e 2015. Entretanto, o momento não é propício para a agroenergia, como não é para uma série de outros produtos (agrícolas ou não), por conta da demanda arrefecida nos países ricos (Europa, América do Norte, Japão), em consequência da crise econômica. Além da crise, as secas atingiram lavouras de cana-de-açúcar, soja e milho no Brasil e nos Estados Unidos. Com isso, a ampliação do mandato de 5% para 10% na adição de biodiesel no diesel, no Brasil, por exemplo, foi retirada da pauta de discussões, devido à redução da oferta de soja e ao risco de encarecimento da alimentação. Mas, se projetarmos o horizonte para os próximos 10 anos, a expectativa é de retomada.

O próprio mercado deverá regular a distribuição das matérias-primas para alimentação e energia?

Do ponto de vista conjuntural, neste momento ocorre, sim, um conflito, o que deve obrigar o governo norte-americano a reduzir, temporariamente, as metas de uso de etanol na economia, por conta da perda de mais de 100 milhões de toneladas de milho na safra dos EUA. Porém, do ponto de vista estrutural, considerando um horizonte de tempo mais largo, a fome é resultado de baixa renda, não de menor oferta de alimentos. O mercado procura a alocação que confere mais lucro. Entretanto, é função dos governos dispor de políticas públicas diversas, principalmente estoques reguladores, para garantir que, no curto prazo, não ocorra falta de alimentos.

Para o produtor rural, a agroenergia trará novas interferências?

Para o agricultor, a agroenergia significa ampliar o leque para comercializar seus produtos (...) Chamo a atenção para o enorme potencial de cultivo de algas, principalmente para produção de energia e alimentação animal. Os gargalos tecnológicos da produção de algas estão sendo, paulatinamente, resolvidos pelos cientistas e, em alguns anos, teremos "fazendas de algas".

O que trava a expansão da cadeia do etanol?

São inúmeras razões, porém as mais importantes apontam para o cenário de falta de confiança em preços remuneradores. Apesar de o petróleo haver saltado de US$ 30/barril para US$ 100/barril entre 2003 e 2012, o preço da gasolina ao consumidor caiu de R$ 3,55 para R$ 2,70 em valores atualizados monetariamente, como parte de uma política populista de preços artificialmente baixos.

Para o Brasil, é melhor desenvolver matérias-primas alternativas à soja na cadeia do biodiesel?

Não vejo nada no horizonte dos próximos 30 anos que possa desbancar as atuais oleaginosas (soja, algodão, canola, girassol, dendê) ou gordura animal, além do cultivo de algas. Apostas como os fracassos do pinhão-manso e da mamona estão aí para demonstrar que não é possível produzir sem um sistema de produção avançado, sem cadeia organizada e sem que o mercado confira suporte.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]