Depois de vender mandioca a preço de ouro em 2013, produtores paranaenses voltam a conviver com cotações reduzidas no mercado. A tonelada do produto, que chegou a ser valer R$ 550 no ano passado, hoje é negociada a R$ 254, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab). Desde dezembro, acumula desvalorização de 49%, o que tem motivado o abandono da cultura em algumas regiões do estado.
Demerval Silvestre, produtor e presidente do Sindicato Rural de Paranavaí (Noroeste), vai deixar de plantar mandioca na próxima safra. “Não é interessante plantar do jeito que os preços estão hoje. Vou esperar essa crise passar, analisar o mercado e depois voltar a investir”, afirma.
O recorde de preços alcançado pela mandioca no fim do ano passado foi motivado por problemas de seca no Nordeste do país, o que comprometeu a produção e aumentou a demanda pela raiz plantada na Região Sul. Neste ano, a produção nordestina se estabilizou e deve aumentar 27,6%, passando de 4,7 milhões para 6 milhões de toneladas, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A oscilação nas cotações deve se acalmar nos próximos meses, de acordo com o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Fábio Isaias. “Não voltará aos patamares de 2013, mas o mercado começa a buscar um equilíbrio, num valor que seja interessante para a indústria e rentável ao produtor”, indica. Na média nacional, a tonelada da mandioca tem sido negociada a R$ 236, redução de 58% desde dezembro.
Concorrente externo
Outro problema que tem atrapalhado a rentabilidade do produtor paranaense de mandioca é a concorrência ‘externa’. Com preços mais atrativos no estado vizinho, a indústria paranaense tem buscado matéria-prima em São Paulo, onde a tonelada da raiz pode ser adquirida por, em média, R$ 207 – quase R$ 50 a menos do que no Paraná. “Essa compra de mandioca de São Paulo é mais uma pressão para que os preços não subam por aqui”, reclama Silvestre.
Para o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Amido de Mandioca (Abam), Ivo Pierin, a opção pelo produto paulista é um “compromisso moral” da indústria. “Com o custo do transporte, o preço acaba sendo o mesmo do que o praticado no Paraná. Mas foram eles [paulistas] que abasteceram as indústrias [paranaenses] na hora de dificuldade no ano passado”, argumenta.
Custos de produção: Recorde de 2013 inflaciona arrendamento
O recorde dos preços da mandioca em 2013 fez com que o custo para alugar a terra destinada ao plantio da raiz também crescesse. De acordo com o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) Fábio Isaias, o hectare era arrendado pelo produtor no ano passado, em média, por R$ 2,5 mil. Hoje, para a mesma área, o valor chega a R$ 6 mil. “O arrendamento subiu junto com os preços da mandioca, mas não acompanhou a queda. Isso deve ter um efeito negativo na área a ser plantada na safra 2014/15”, explica.
Na Região de Paranavaí, no Noroeste paranaense, principal polo de produção do estado, os altos preços da terra somados aos custos de produção inflacionados superam o faturamento do produtor com a colheita. A maior parte dos agricultores não possui terra própria. “Não dá nem para pagar o arrendamento”, reclama Demerval Silvestre.
Segundo a Seab, o desembolso necessário para o cultivo de uma tonelada de mandioca chega a R$ 241, R$ 30 mais caro que o gasto no mesmo período do ano passado. O valor já inclui o custo do arrendamento.
-
Sleeping Giants, Instituto Marielle Franco, defesa das drogas: a grana de Soros no Brasil
-
Frases da Semana: “Quem não come picanha pode comprar uma verdura”
-
O que é “pecado”? Cesta sem carne? Cerveja ou destilado? As polêmicas da reforma tributária
-
Formalidade, soberba e muita enrolação: o relato de dois dias entediantes no STF
Deixe sua opinião