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João Paulo Staron, de Contenda, não conseguiu aproveitar o pico de preço porque só iniciou a colheita em maio | Henry Milleo/gazeta Do Povo
João Paulo Staron, de Contenda, não conseguiu aproveitar o pico de preço porque só iniciou a colheita em maio| Foto: Henry Milleo/gazeta Do Povo

Depois do valor recorde da carne, ter uma simples salada de maionese à mesa se transformou em um luxo para o consumidor. O tradicional prato da culinária nacional está custando 45,5% mais do que no início do ano. E quem azeda a receita é o seu principal ingrediente: a batata. O quilo do alimento, que em janeiro era encontrado nos supermercados paranaenses por R$ 1,66, hoje custa em média R$ 2,69, um salto de 66% – bem acima da inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), que acumula alta de 3,33% no período. Cebola (+ 49%), ovo (+22,8%) e óleo de soja (+7,86%) também contribuíram para o aumento.

A justificativa vem do campo. Em abril, a saca de 50 quilos de batata chegou a custar R$ 98, recorde histórico, mas recuou para R$ 60 em maio com a entrada da nova safra. Apesar da queda recente, a valorização acumulada de janeiro até o mês passado foi de 65%, conforme o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab).

A escalada do início de 2014 é vista como um fenômeno pontual para o engenheiro agrônomo da Seab Carlos Alberto Salvador. Somou-se ao período entressafra uma escassez de chuvas que prejudicou a produtividade e a qualidade do produto. “A colheita da nova safra ainda está no início [32% até a última semana] e os preços devem se regularizar com o avanço dos trabalhos”, prevê. Apesar da pouca oferta temporária, a Seab projeta aumento de área (de 27,3 mil para 29,5 mil ha) e de produção no Paraná (de 716 mil para 830 mil t).

Problemas climáticos reduziram a produção da segunda safra de batata em todo o país. João Paulo Bernardes Deleo, pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), estima que 15% da colheita foi prejudicados, sendo Minas Gerais o estado mais afetado. “Por ser um período de chuvas, os produtores normalmente plantam essa safra em áreas sem irrigação. Como não choveu, houve quebra e atraso na colheita”, explica.

O clima também foi responsável por outras oscilações que puxaram a alta do preço da salada de maionese. O forte calor dos primeiros meses do ano elevou o índice de morte de galinhas e foi decisivo para o aumento dos preços do ovo, segundo o Cepea. Só em abril, o produto registrou a maior alta mensal da história: 8,21%. A cebola, que está em período de entressafra, também está mais valorizada. No campo, os produtores que ainda têm o alimento têm recebido mais de R$ 20 pela saca, 75% a mais do que em janeiro deste ano.

Produtor: Produtividade e qualidade atrapalham lucro

A falta de chuvas do início do ano prejudicou a produtividade e qualidade da segunda safra da batata, afetando o lucro do produtor que apostou no plantio do tubérculo. Muitos não tinham o produto para vender em abril, época da cotação recorde – R$ 98 a saca de 50 quilos. Outros recebiam menos porque não atendiam as altas exigências do mercado.

Foi o caso de João Paulo Staron, bataticultor de Contenda, na Região Metropolitana de Curitiba, que não conseguiu aproveitar o pico por só ter começado a colher no início de maio. Com a chegada da nova safra, a cotação do produto caiu, com a saca da batata lisa saindo a R$ 60 e a escovada a R$ 50.

A produção de cada saca de batata custa R$ 40, segundo o Cepea. Com esse custo, a rentabilidade seria de 50%, não fosse a baixa qualidade de parte da colheita. Staron estima uma quebra de 40% e reclama da alta exigência do consumidor. “No mercado, batata boa é a bonita e lisa. Só essas foram vendidas nesse preço mais alto. A escovada, que tem a mesma qualidade, acaba saindo mais barata”, reclama.

Foi o segundo ano consecutivo de preços elevados da cultura. Em 2013, as cotações também quebraram recordes, com ápice em maio, quando atingiram R$ 91. “Plantar batata é assim mesmo. Ou você faz milhão ou perde tudo”, resume Staron.

De acordo com pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea) João Paulo Bernardes Deleo, a produção varia muito ano a ano e depende, além do clima, da capitalização do produtor. “Depois de ano de preço elevado, os agricultores se animam. Outros veem o mercado atrativo e também decidem plantar. Isso aumenta a oferta e o valor da batata despenca”, explica.

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