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Dividido entre fundamentos e especulações, o mercado de grãos vive dias de alta volatilidade na Bolsa de Chicago. O terremoto que atingiu o Japão na semana passada e a crise nuclear que ameaça o país estão fazendo as cotações da soja e do milho trabalharem em ritmo de montanha russa, reagindo com oscilações intensas a cada notícia que chega do oriente. A oleaginosa, que começou o mês na casa dos US$ 14, atingiu o limite de baixa e rompeu a barreira dos US$ 12 na terça, voltou a operar acima de US$ 13 nesta quarta-feira e terminou o dia valendo US$ 12,87 por bushel (27,2 quilos), o equivalente a US$ 28,39 a saca de 60 quilos. O cereal recuou ao menor patamar em mais de dois meses, saindo de mais de US$ 7 no início de março para US$ 6,165 o bushel (25,4 quilos) ontem, ou US$ 14,56 a saca.

"O terremoto causou colapso não apenas nos reatores nucleares da usina de Fukushima, mas também nos preços futuros dos grãos. Especuladores acharam mais seguro vender primeiro e perguntar depois. Isso provocou uma onda de venda de contratos agrícolas na terça e outra no final do pregão de ontem, após leves altas na sessão noturna e durante boa parte do pregão diurno", relata o analista Jack Scoville, vice-presidente do grupo Price Futures, de Chicago.

Ele explica que, num primeiro momento, a tragédia japonesa impactou os preços dos grãos em duas frentes: alimentando a aversão ao risco nos mercados financeiros globais e disseminando preocupações com uma possível diminuição ou até suspensão temporária das importações de commodities agrícolas pelo país asiático.

Após a primeira explosão na usina de Fukushima, no sábado, fundos de investimento procuraram por ativos mais seguros, provocando fuga massiva do capital especulativo das commodities agrícolas. O mo­­vimento teria sido engrossado por seguradoras, que precisam liquidar suas posições enquanto os preços ainda estão altos para fazer cai­­xa a fim de honrar as pesadas in­­denizações a que serão submetidas.

Do lado da demanda, o temor inicial era de que o comércio de grãos fosse comprometido pela destruição de portos, armazéns e indústrias de processamento de grãos no Nordeste do Japão. A agência Reuters reportou ontem que o desembarque em Kashima e outros portos japoneses foi suspenso e que, por isso, cargas de milho vindas dos Estados Unidos e de soja da América do Sul estariam tendo dificuldade para chegar ao país. Maior importador mundial de milho, o Japão detém 17% do comércio global do cereal. Por isso, uma interrupção nas compras teria impacto severo para os exportadores de milho, como Estados Undidos, Brasil e Argentina.

Agora, contudo, as opiniões começam a se dividir. "É possível que parte da demanda seja perdida no curto prazo, mas os piores cenários apontam para uma redução de 2,5 milhões de toneladas. Se isso ocorrer, elevaria os estoques de milho dos EUApara algo entre 19,1 milhões e 19,7 milhões de toneladas, uma situação ainda muito apertada e, portanto, positiva para os preços", ameniza Scoville. Ele explica que, ainda que haja redução nas importações japonesas, a queda deve ser pontual e momentânea."Eventualmente essa demanda vai voltar, ao menos parte dela. Afinal, as pessoas precisam comer e os japoneses vão querer alimentos limpos", pontua.

Há quem acredite que o tsunami japonês terá vida ainda mais no mercado de grãos. É o caso de Terry Roggensack, da consultoria Hightower Report, de Chicago, para quem a temporada de liquidações já teria chegado ao fim. "Acredito que, no médio prazo, as commodities agrícolas não serão significativamente afetadas pela situação no Japão", considera.

Para Roggensack, o agravamento da crise nuclear seria positivo para o mercado de grãos. "Se uma nuvem de radiação se propagar no Japão, atingindo também a Coreia do Sul e a Ásia como um todo, mudaria a psicologia do mercado, que passaria a ver os Estados Unidos como uma fonte segura de alimentos livres de radioatividade", explica. Nesse caso, o Brasil também poderia ser beneficiado, pois colhe neste ano uma safra recorde de grãos e tem excedente exportável de soja e milho para atender a parte da demanda extra.

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