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| Foto: Oswaldo Eusta¡quio/ Gazeta Do Povo
Varredores seguidos pela reportagem circulam por vias vicinais de Paranaguá com sacos cheios de adubo e equipamentos para coleta de sobras
Varredores seguidos pela reportagem circulam por vias vicinais de Paranaguá com sacos cheios de adubo e equipamentos para coleta de sobras

Principal porta de entrada do fertilizante importado pelo Brasil, Paranaguá tem um mercado ilegal consolidado de adubo. Parte das sobras do produto que ficam nas carrocerias dos caminhões viram fonte de renda para catadores e armazéns clandestinos, que vendem o insumo às escondidas. Saques e desvios de cargas incrementam a prática que estaria movimentando milhões ao ano.

O negócio parte da considerada “quebra”, uma tolerância de até 0,5% na medição da carga pesada entre a saída do produto do Porto até a descarga. O refugo é de ao menos 120 toneladas por dia em Paranaguá, conforme apuração da reportagem. Parte desse volume vai para o lixo e a outra parcela é vendida no mercado paralelo.

O recolhimento das sobras de adubo ocorre depois que os caminhões descarregam o produto no armazém. Para atender a uma nova requisição de carga, os transportadores precisam limpar as carrocerias dos veículos antes de entrar novamente no porto. A parada para a varredura dura poucos minutos. Muitos dos ensacadores são moradores de rua e dependentes químicos. Eles revendem o fertilizante a armazéns, que muitas vezes funcionam aos fundos de pontos de comércio da região, como panificadoras e oficinas mecânicas. Em cada parada de caminhão, são recolhidos entre 20 e 50 quilos de diferentes tipos de insumo utilizado na agricultura.

Uma operação realizada pela Polícia Militar, em parceria com outros órgãos de Paranaguá, já fechou nove de 14 armazéns tidos como clandestinos no início deste mês, durante a operação Proteção Portuária. Um dos estabelecimentos estava em nome da Grãopar, que movimenta 4 mil toneladas de fertilizantes mensalmente. O gerente comercial da empresa, Marcelo Scremim, explica que o barracão estava no nome da empresa, mas era sublocado para um terceiro. Ele acredita que fechar a estrutura não é a melhor solução. “A varredura existe, todo mundo sabe, e poderia ser legalizada até para acabar com o problema do fertilizante jogado nas vias públicas. O produto proveniente da varredura poderia fazer parte de um mercado paralelo, com cotação de produto”, sugere.

Feirão

A reportagem da Gazeta do Povo estacionou um carro descaracterizado em local próximo à Coopadubo e, como em uma feira, pessoas ofereciam o “fertilizante sujo” ao preço de R$ 0,30 o quilo. “Tenho 150 quilos, chefe. Interessa?”, gritou um dos negociantes. Poucos metros à frente, um outro perguntava “quantos quilos o senhor precisa?”. O produto que não é vendido por ali, acaba sendo entregue nos armazéns clandestinos por R$ 0,20 o quilo. O ponto de revenda negocia o fertilizante a R$ 0,50.

Hoje somente uma empresa é autorizada a fazer o transporte entre o Terminal Público de Fertilizantes (Tefer) e os mais de 50 armazéns privados instalados no município. A frota de 400 caminhões da Cooperativa Mista e de Transportes de Fertilizantes, Sal Corrosivos e Derivados do Litoral (Coopadubo) trafega entre o porto e as estruturas de estocagem 24 horas.

A Administração dos Por­­tos de Paranaguá e Antonina (Appa) passou a distribuir sacos plásticos aos caminhoneiros neste ano como forma de reduzir a poluição na cidade. A entidade desconhece, porém, a destinação dos produtos recolhidos.

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