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Após o curso técnico em agropecuária, Eduardo Mocelin tranformou a produção na propriedade da familia, em Colombo | Marcelo Andrade
Após o curso técnico em agropecuária, Eduardo Mocelin tranformou a produção na propriedade da familia, em Colombo| Foto: Marcelo Andrade

Responsável por mais da metade da comida que chega à mesa dos brasileiros e por 80% das propriedades rurais do país, a agricultura familiar impõe respeito. Além da sua importância para a cadeia alimentar, iniciativas empreendedoras do setor demonstram poder de renovação que deixa para traz grandes empresas do agronegócio.

Parte destas iniciativas será identificada em 2015 pelo projeto Expedição Agricultura Familiar, promovido pelo Núcleo de Agronegócio da Gazeta do Povo. Entre os meses de março e setembro, uma equipe de jornalistas e técnicos irá percorrer seis estados (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Minas Gerais) para retratar a dimensão e o perfil do segmento.

Na chácara Mocelin, em Colombo, na Região Metropolitana de Curitiba, a criação de gados de leite e de corte, cabritos, aves e carneiros que ocupa os 14,5 hectares se transformou nos últimos meses por conta dos conhecimentos adquiridos por Eduardo Mocelin, filho do proprietário. O garoto de 17 anos conclui nesta semana o curso técnico em agropecuária no Centro Estadual de Educação Profissional Newton Freire Maia, em Pinhais. Mesmo antes do término das aulas, os conhecimentos já eram colocados em prática na propriedade que está com a família há 150 anos.

“Além da produção que aumentou, nós percebemos que os animais estão mais saudáveis”, revela.

Com a autonomia total do pai, Eduardo está satisfeito com os primeiros resultados. Em três anos, desde que começou o curso, rebanho de carneiro cresceu de 25 para 78 cabeças.

“Antes criávamos os animais apenas com os conhecimentos passados de pai para filho, sem a técnica correta. Hoje nossa necessidade é tornar cada vez mais viável a propriedade”, ressalta o jovem.

Agregar valor

“A agroindústria traz vantagens, a começar pelo preço da venda que dobra em relação ao produto primário, permitindo elevar a renda”, diz Juanice Boszcz Brongel, responsável pela transformação dos negócios da família no Distrito de Pocinho, em Contenda. O cultivo de feijão, milho e batata nos dois hectares não era insuficiente para gerar renda suficiente aos Boszcz.

Em 2004, Juanice decidiu investir na exploração do cogumelo champignon e em seu processamento. Hoje, a atividade responde por 100% da renda da propriedade. Mensalmente são processados 750 quilos do produto, vendido, em sachês e embalagens de vidro, a restaurantes, pizzarias e mercados.

“Como a área é pequena e não havia terras para arrendar, surgiu à necessidade de buscar uma atividade que pudesse ser explorada que produzisse o ano todo”, revela.

O negócio se mantém próspero tanto que o mix de produtos será ampliado, com a oferta de raiz forte de crem, molho de pimentão com raiz forte e, em parceria com um tio, a geleia de morango.

“É preciso ter qualidade, produção constante e preço atrativo. Isso se consegue com conhecimento”, ressalta.

A renda obtida com o cogumelo ajudou a construir sua casa, dois barracões, cozinha industrial e o depósito.

Curso prepara a nova geração do campo

A preparação dos novos agricultores familiares para gerirem as propriedades e, principalmente, permanecerem no campo, passa pelas escolas de formação, desde as Casas Familiares Rurais (CFRs), Centros de Ensino Profissionalizante (CEEPs) até os cursos oferecidos por entidades do setor.

O superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural no Paraná (Senar-PR), Humberto Malucelli Neto, esclarece que a entidade oferece diversos cursos que trabalham conceitos amplos e específicos da agricultura, como gestão e sucessão. “No geral, são oferecidos 900 cursos por mês para todos os públicos, com frequência média de 12 pessoas em cada um deles”, diz.

Presente em 100% dos municípios paranaenses, a entidade, nos últimos dois anos, tem oferecido programas voltados à preparação para o domínio das novas tecnologias de produção, como automação dos processos mecanizados, uso da informática, gestão das propriedades, entre outros temas.

Surgida dos movimentos dos Centros Familiares de Formação por Alternância (CEFFAs) e das Maisons Familiares Rurales (MFR), na França, em 1935, a pedagogia da alternância é dirigida para filhos de camponeses com finalidade de mantê-los no campo, aplicando métodos mais eficazes de produção familiar. O aluno fica uma semana na escola e outra em casa.

Atualmente, no Paraná existem 18 CEEPs que ofertam curso técnico em agropecuária para 4,5 mil alunos. O módulo integrado dura três anos e o subsequente, um ano e meio, ambos no período integral, regime de internato e semi-internato. Ainda há 13 CFRs com 641 alunos.

Segundo a Secretaria Estadual da Educação (SEED), o custo anual por aluno nos CEEPs é de cerca de R$ 2.720, enquanto nas CFRs o valor por ano chega a R$ 4.549.

A SEED fornece professores da Rede Estadual para docência das disciplinas da base nacional comum e firma Convênio com a Associação Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do Brasil (Arcafar/Sul), repassando recursos para pagar monitores de nível médio e superior, coordenadores e auxiliares de serviços gerais, proporcionando os recursos humanos para as CFRs.

Preparo

Competência à prova

“Sem produtividade e qualidade o agricultor fica fora do mercado. Hoje é preciso conhecimento em gestão e tecnologia”, diz Natalino Avance de Souza, diretor técnico da Emater, ao lembrar que a agroindústria familiar tem se expandido no Paraná ao proporcionar mais renda ao agregar valor ao produto primário.

Atualmente, 82% das cerca de 380 mil propriedades rurais paranaenses são familiares e 98% das 1,3 mil agroindústrias estão nas mãos de microprodutores, segundo dados do programa paranaense Fábrica do Agricultor. Ainda dentro deste universo, 50% têm curso básico, 25% curso superior, enquanto 10% fizeram pós-graduação.

“A agroindustrialização exige preparo constante sobre empreendedorismo e de conhecimento dos processos de gestão. A pessoa precisa estudar mais do que aquele envolvido apenas com a produção primária”, diz João Nishi de Souza Souza, coordenador do programa.

Mulheres e os jovens representam 80% desses empreendedores e a idade média dos agricultores familiares está próxima dos 40 anos.

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