• Carregando...

Os agricultores que resistiram ao êxodo rural verificado nas últimas três décadas demonstram mais autonomia no Paraná. Eles dão lições de empreendedorismo e mostram disposição para mudar de ramo diante das pressões do mercado.

Das 370 mil propriedades rurais do estado, cerca de 315 mil são conduzidas por pequenos produtores. Eles colhem mais da metade dos alimentos consumidos pela população e detêm 10% da renda agropecuária. Representam 80% da mão-de-obra ocupada no campo, o que aumenta sua importância econômica e social.

Nem todos estão em boa situação, mas há uma diversidade cada vez maior de exemplos a seguir. Existem 2.273 pequenas agroindústrias em funcionamento, segundo dados do programa Fábrica do Agricultor, que tenta fortalecer os pequenos produtores há oito anos. Destas, 400 distribuem produtos direto para supermercados, enchendo 52 gôndolas.

As agroindústrias muitas vezes estão longe da propriedade. É o caso da fábrica de embutidos Prático Alimentos que funciona na casa de Frank Missawa, em Maringá (Noroeste). A empresa surgiu dois anos antes do programa de incentivo do governo do estado. Missawa conta que, em dez anos, a produção chegou a 500 quilos por dia e, hoje, dá trabalho a sete pessoas. Em sua avaliação, há espaço para produzir mais lingüiça, salame, salsicha. A distribuição ainda é concentrada em feiras.

Ex-aluno do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Missawa aconselha os agricultores familiares a buscar qualificação. Ele conta que os cursos lhe deram uma visão mais ampla de seu negócio. Concluiu que industrializar a carne é mais rentável do que criar suínos em sua região, uma vez que o pequeno produtor compete diretamente com os grandes frigoríficos.

"O produtor tem de estar preparado para identificar a melhor opção. Tem que brigar muito. É como numa guerra. Depois de dez anos de trabalho, ainda estou apanhando aqui na fábrica", afirma.

Mesmo fora da zona rural, a agroindústria serve de apoio ao produtor. O zootecnista Gualter Torrecillas e a agrônoma Gizele Fratta, por exemplo, começaram a criar abelhas quando ainda estavam na universidade, em 1992. Casados, hoje eles produzem 30 toneladas de mel por ano na Apiários 2G, instalada há uma década no parque industrial de Londrina (Norte). Enquanto um toma conta dos negócios, o outro oferece assistência técnica aos apicultores.

O total de pessoas envolvidas no negócio vai bem além dos cinco funcionários da fábrica, diz Gizele. "Não sabemos o número exato." Além dos apicultores, ela cita os vendedores e distribuidores espalhados pelo estado. Em Maringá, sua mãe, Terezinha, ajuda a vender o mel em favo e embalado em feiras de produtos do campo.

Além de profissionalizar o negócio, a empresária diz que é preciso colocar as boas idéias em prática. "A 2G se diferenciou diversificando as embalagens e a produção. Oferecemos mel em bisnagas, sachês, potes, e estamos entrando no mercado de cosméticos e sabonetes", relata. Além disso, constata que os incentivos do governo são menos decisivos do que a determinação do produtor.

Quem não tem perfil empreendedor, pode se especializar no fornecimento de matéria-prima, afirma o coordenador do programa Fábrica do Produtor, Abdel Nasser. Ele conta que muitos agricultores familiares preferem manter distância de assuntos como as tendências do mercado. A agricultura familiar produz cerca de 2 mil tipos de alimentos no Paraná, além de artesanato e serviços como hospedagem para turistas.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]