• Carregando...

Os produtores de leite do Paraná podem até reclamar do preço do produto, mas já não travam discussões como as de cinco anos atrás. Naquela época, quando o preço do litro de leite não cobria os custos (cerca de R$ 0,35), os ataques à indústria eram corriqueiros. O setor não hesitava em recorrer ao Congresso para criticar os laticínios e fabricantes de derivados. Quem ouvia os discursos parlamentares não conseguia entender como o produto, que saía da fazenda por cerca de R$ 0,25, chegava aos supermercados três vezes mais caro. Agora, os dois lados se comportam como parceiros, pelo menos no Paraná.

Essa relativa estabilidade é apontada pelo setor como um dos pontos mais importantes para o aumento da produção, que segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) deve continuar crescendo cerca de 100 mil toneladas ao ano até 2010, ou seja, perto de 5% anuais.

Os preços hoje são combinados. Os números saem de uma série de cálculos formulados pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) que resultam em uma sifra final: o preço de referência do litro de leite. O valor não precisa ser seguido pelas indústrias, serve apenas como norte, mas acaba apaziguando a todos.

"Cerca de 80% das empresas usam o valor de referência para pagar os produtores", afirma a especialista em economia agrária Vânia Di Addário Guimarães, professora da UFPR que integra a diretoria do Conseleite Paraná.

A formação de um valor de referência do leite foi justamente o motivo da criação desse conselho, em outubro de 2002. O Conseleite tem 11 representantes dos produtores e 11 da indústria. No meio da roda, três representantes da UFPR esfriam os ânimos com cálculos sobre quanto a indústria pode pagar pela matéria prima. "Como as duas bancadas têm o mesmo número de integrantes, todas as decisões tomadas no conselho são de consenso", frisa Vânia. Além do preço do mês anterior, calculam-se as tendências do mês corrente.

O ponto de partida da UFPR são os números da própria indústria. As empresas que integram o Conseleite – em 2003 eram 9 e hoje são 18 – se comprometem a informar como compõem os valores que praticam no mercado. Com essas informações, sigilosas, os técnicos conseguem medir quanto o setor pode pagar em média pelo leite, considerando o peso da matéria-prima no preço dos produtos industrializados.

A relação entre produtores e indústrias passou a se basear numa lógica oposta à dos ataques e críticas, conforme Wilson Thiesen, presidente do Conseleite e também do Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Paraná (Sindileite). Se o produtor recebe mais, tem condições de oferecer leite de melhor qualidade e favorecer a indústria. Se a indústria vai bem, pode pagar mais pelo leite, considera. Ele afirma que a abrangência do conselho é inquestionável: "80% da produção é das indústrias que estão no conselho".

A guerra entre produtores e indústrias foi aberta em meados dos anos 80, quando o governo deixou de regular o setor. Indústria e produtores tiveram que negociar sozinhos, e os preços acabavam sendo definidos pelo jogo de mercado. "Nunca imaginei que poderíamos atingir tal grau de maturidade (...) Enfrentávamos a autofagia (nutrição à custa de reservas), a concorrência predatória entre indústrias. Agora, não estamos mais na mão do mercado", avalia Thiesen.

O Conseleite, no entanto, não estabelece valores mínimos, o que mantém os produtores desprotegidos. Segundo Ronei Volpi, vice-presidente do conselho pelo setor rural, como nos últimos 15 anos a produção vem crescendo mais (59,5%) que a população (23,5%) e o PIB (43,3%), será necessário buscar novos mercados. Ele nota evolução neste sentido, mas lembra que, para elevar as exportações é necessário investir mais em tecnologia e explorar novos mercados, inclusive no Brasil.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]