Produtor que aposta alto pode sair no lucro

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Trigais de se perder de vista deram prejuízo no ano passado na Fazenda Charlote, em Tibagi (Campos Gerais). Tudo por causa da geada tardia, que queimou o trigo, cultivado em metade dos 1,8 mil hectares da propriedade. Ninguém apostava que, pelo segundo ano consecutivo, haveria geada em setembro. Mas houve, e só um terço dos 900 hectares, que ficam numa área mais alta, deu lucro. No final das contas, o empenho na safra não deu em nada.

Apesar da frustração, o trigo ganhou 900 hectares novamente neste ano. E a razão não são as restrições argentinas ou a elevação dos preços. "O risco é alto, mas as safras que dão lucro prevalecem. Por isso continuamos plantando", conta Hendrik Barkema, 71 anos, triticultor há três décadas.

Agente financeiro do próprio negócio, ele diz que produzir trigo é uma aposta. Mas considera as outras opções piores. "Quem planta aveia para cobrir a terra tem certeza apenas de que terá de arcar com os custos, porque não tem colheita", compara.

No município vizinho, em Castro, Nelson César de Oliveira tomou direção oposta. Mesmo sem discordar de Barkema, eliminou o trigo dos 70 hectares que cultiva. "O problema é o custo. Este ano eu não tinha como assumir financiamento", declara. Para cultivar trigo na região, são necessários pelo menos R$ 600 por hectare – três vezes mais do que se gasta na Argentina.

Barkema afirma que, além de capital para apostas, o produtor precisa de tecnologia para tornar o trigo uma cultura viável. "Só dá lucro para quem consegue 3 toneladas por hectare. Quem não tem tecnologia perde." Os consultores do setor trabalham com previsão de produção de 2,5 toneladas/ha.

Sem abater prejuízos provocados pelo clima, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral) calculam que o valor bruto da produção de trigo neste ano fique entre R$ 920 e R$ 965 por hectare, com preço em torno de R$ 24 o saco de 60 kg (R$ 3 a menos que a média da última semana). Isso significa que o lucro do produtor que tem custo médio pode chegar a R$ 300 por hectare. (JR)