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Os donos de imóveis rurais têm até 2018 para providenciar a reserva legal – que corresponde a 20% da área, conforme exige o Código Florestal Brasileiro. Em época de discussão sobre o assunto, muitos se perguntam: que ganho terão com isso, além da contribuição ao meio ambiente? A questão começa a ser respondida por um grupo de 187 pequenos agricultores da região de Loanda, Noroeste, que já lucram com o reflorestamento e a comercialização do seqüestro de carbono, palavras que podem soar estranhas no meio rural, mas surgem como nova opção de renda no campo, principalmente em função do grande apelo ambiental do momento.

Eles criaram a Cooperativa de Agricultores Familiares de Crédito de Carbono (Coopercarbono), há três meses, após dois anos de preparação, e começam a colher os primeiros frutos com a venda de um lote de 356 árvores, sem cortá-las, por R$ 1.500, para empresários de Curitiba.

É o primeiro de uma série de negócios previstos, segundo a coordenadora de Mudanças Climáticas da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), Manyu Chang, uma das responsáveis por incentivar a criação da cooperativa. O dinheiro vai para a Coopercarbono, que decidirá como fará o repasse ao associado. Manyu explicou que o primeiro pagamento não foi efetivado ainda porque a cooperativa está confeccionando o primeiro talão de notas fiscais.

Os compradores do crédito de carbono foram a Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e a Acma, uma empresa do ramo de construção civil de Curitiba. Pelo negócio, elas contribuíram com a neutralização de 90 toneladas de carbono. Eder Zanetti, da Embrapa Florestas, uma das empresas de pesquisa e extensão que atuam no projeto, diz que o reflorestamento com manejo da reserva legal vai ganhar maior força com a sua popularização e a adesão de novos produtores e compradores.

A finalidade da Coopercarbono é estimular o desenvolvimento agrícola sustentável, acrescentando a silvicultura à integração pecuária-lavoura. Quando está na fase de crescimento, a árvore precisa de uma grande quantidade de gás carbônico e busca esse elemento na atmosfera. É aí que ocorre o seqüestro de carbono. Quanto mais árvores plantadas, maior será a absorção deste gás poluente que contribui para o aquecimento global e o desequilíbrio ambiental.

Os pequenos agricultores da região de Loanda assimilaram a idéia e começam a mudar a paisagem das propriedades onde só existiam pasto e o cultivo de grãos. Um exemplo é Dirceu Salve, vice-presidente da Coopercarbono. Ele possui um sítio de 12 hectares no bairro Atibainha, em Loanda, e já isolou a área da reserva legal em 20% da terra. "Eu nunca imaginava ganhar dinheiro com a reserva, mas vejo que o ganho é possível."

Somente no bairro dele, 25 produtores seguiram o exemplo. Os pedaços de mata, ainda que incipientes, estão por todos os lados. Salve não vê a hora de pôr a mão nos primeiros reais com a venda de créditos de carbono para mostrar que o projeto é sério e vai gerar mais renda. Além do ganho com o seqüestro de carbono, o agricultor também terá rendimentos com o desbaste das espécies exóticas – no caso da região Noroeste, o eucalipto, que é desbastado a cada seis ou sete anos, até completar o ciclo de 20 anos. Após duas décadas, restarão apenas as espécies nativas (peroba, ipê, canafístula e outros) que serão plantadas junto com o eucalipto ou regeneradas naturalmente.

O técnico da Emater em Loanda Wilson Aparecido Garbelini participou do processo de criação da cooperativa e acompanha a execução dos projetos de reserva legal na região. Ele diz que mais de 70% dos produtores que aderiram à cooperativa estão cuidando bem das suas reservas e a cada dia surgem novos interessados no projeto.

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