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Uma reviravolta parecida com a que o sistema de plantio direto na palha (PDP) provocou na lavoura nos últimos 35 anos está se repetindo com a integração lavoura-pecuária (ILP), sistema que prevê o cultivo de pastagem para produção de carne e leite durante o inverno. Novamente a tecnologia ganha expansão a partir do Paraná e surge de soluções simples para o melhor aproveitamento da terra.

O PDP já atinge 25,5 milhões dos 50 milhões de hectares cultivados no Brasil e, segundo os especialistas, a ILP pode avançar ainda mais. Isso porque a produção de alimento para o gado no inverno é considerada viável em toda a área de plantio direto.

O cultivo de inverno ajuda a cobrir o solo nos meses mais frios do ano e oferece uma safra a mais, a do boi. Além disso, quando bem controlado, eleva a produtividade do verão. Em pequenas propriedades, a criação de animais é associada há muito tempo. A diferença é que agora esse costume ganhou status de tecnologia, com dados mais precisos aplicáveis a grandes áreas.

Números levantados por pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRG) dão uma idéia da importância que a ILP pode ganhar no agronegócio. Só no Sul do Brasil, dos 14,9 milhões de hectares cultivados no verão, 12,1 milhões ficam em pousio no inverno, desprotegidos ou com coberturas que servem apenas para revestir a terra. Essa área, que equivale à cultivada no Paraná durante o verão, pode ampliar as exportações de carne e elevar a produção de grãos, com o enriquecimento do solo.

O tema ganha ressonância na preocupação mundial com a falta de alimentos. A elevação dos preços da soja e do milho provocada pela utilização de grãos na produção de etanol nos Estados Unidos mostra que é preciso produzir mais comida para que a era da agroenergia não agrave o problema da fome. A ILP surge, dessa forma, como uma alternativa tropical para a segurança alimentar.

O pesquisador Aníbal de Moraes, professor da UFPR, conta que as 40 teses defendidas por um grupo de pesquisadores parananeses e gaúchos, que se dedica ao assunto há 12 anos, vêm derrubando um por um os mitos que criavam dúvidas sobre a ILP. Um deles é o de que a presença de animais compacta demais o solo. "Provamos que isso não ocorre quando a concentração de animais em cada área é bem calculada e eles são estimulados a circular no pasto."

Outra preocupação dos produtores está relacionada à palha. Eles temem que os animais, ao se alimentarem, reduzam a cobertura de material orgânico. Moraes afirma que, na verdade, o cultivo de pasto pode inclusive aumentar a palhada.

A ILP abrange cerca de 350 mil hectares na região do Arenito Caiuá, conforme dados da cooperativa Cocamar. Perto de 15% dos 600 mil hectares cultivados no inverno pelos cooperados da Coamo estariam adotando a integração. Na cooperativa Castrolanda, a ILP chega a um segundo estágio: o da integração entre propriedades. No Sul do estado, a cooperativa Bom Jesus, com sede na Lapa, aproveita a boa produtividade de azevém e aveia para incentivar a terminação de animais no inverno.

Apesar das pesquisas ganharem tradição na UFPR, universidades do interior do estado é que estão mudando a grade dos cursos de agronomia primeiro. Na Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG) e na Universidade Estadual do Centro-Oeste, a ILP se tornou disciplina. "Resolvemos dar importância a esse sistema nos currículos de agronomia e medicina veterinária", conta o professor Sebastião Brasil, da Unicentro. A idéia é fazer com que o veterinário não cuide só do gado, mas também do pasto, e que o agrônomo considere a presença do rebanho ao planejar o uso da terra.

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