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Na contramão do acelerado crescimento da demanda, o governo federal reduziu em quase 10% os recursos destinados à subvenção do seguro rural. O corte preocupa os produtores paranaenses porque ocorre justamente em um ano de La Niña, quando a possibilidade de seca e frustração de safra é maior no Sul do país. O setor produtivo afirma que em um ano de risco climático elevado como este seriam necessários mais de R$ 600 milhões para subsidiar o prêmio das apólices, mas menos de 40% desse montante foram liberados pelo governo.

O orçamento limitado já deixou muitos agricultores na mão neste inverno e os problemas tendem a se agravar na safra de verão. Produtores de trigo da região dos Campos Gerais deixaram suas lavouras descobertas porque não conseguiram a subvenção federal, relata Mariane Ramos, corretora da Terra Solo, empresa de Ponta Grossa especializada em seguro rural.

"A procura foi muito grande neste ano, mas faltou subvenção. Deixamos de atender pelo menos 50 mil hectares. Chegou um ponto que nem tentávamos mais. Quando os produtores nos procuravam para fazer seguro para o trigo já falávamos que não havia mais subvenção", conta. Segundo Mariane, a procura por seguro para as lavouras de verão também já começou na região, mas até agora nenhuma apólice foi fechada porque as seguradoras não sabem se haverá recursos disponíveis para a subvenção.

"Sem a ajuda do governo, o custo do prêmio fica muito elevado e inviabiliza o seguro", diz Dirceu Fruet, superintendente do departamento agronômico da cooperativa C.Vale, de Palotina. A região Oeste do Paraná, onde atua a cooperativa, foi uma das que mais sofreu com a estiagem de 2008. Foi um ano de neutralidade climática, o que não impediu que a seca levasse dos agricultores paranaenses cerca de 3 milhões de toneladas de soja na safra 2008/09. Neste ano, diante da previsão de La Niña, produtores tentam mitigar perdas através do seguro rural. Mas em muitos casos a tentativa tem sido frustrada, relata Fruet. Segundo ele, as seguradoras alegam que não podem garantir que haverá recursos suficientes para a subvenção do prêmio neste ano.

A situação estaria prejudicando não só a proteção das lavouras, mas também o acesso dos produtores ao crédito oficial de custeio e pode resultar em uma redução na tecnologia empregada na safra 2010/11. "O banco reconhece que o risco climático é elevado em anos de La Niña e, sem saber se vai haver recursos para a subvenção do seguro, acaba não liberando crédito de custeio. Quem está capitalizado se vê obrigado a arcar com o custo total do prêmio, que é muito alto, ou então tirar dinheiro do bolso para plantar. Quem não tem dinheiro em caixa busca recursos junto à cooperativa através da troca de insumos por produto, reduz o investimento em tecnologia e assume o risco climático", conta Fruet.

A Aliança do Brasil, seguradora controlada pelo Banco do Brasil, nega que esteja havendo dificuldades para liberar a subvenção. "Os agricultores já estão contratando financiamento para a safra de verão, inclusive com seguro e subvenção. Mas ainda é pouco porque eles ainda estão finalizando a safra de inverno", diz Aline Milani, gerente de Produtos de Agronegócios da empresa. Mas o diretor técnico da Aliança, Wady Cury, afirma estar preocupado com o corte nos recursos para o seguro. "Houve uma redução muito forte no volume de recursos liberados neste ano e não podemos aplicar tudo no Paraná. Precisamos dividir a subvenção de maneira proporcional entre os estados."

O gerente de Agronegócios do Banco do Brasil no Paraná, Cezar de Col, confirma que os recursos do Plano Safra 2010/11 estão sendo repassados aos produtores, mas se diz preocupado com o seguro rural. "Por enquanto a procura é boa e tranquila, em ritmo similar ao do ano passado. Mas temos dúvida se vai ter para todo mundo. Pode ser que chegue um momento que acabe a subvenção. O conselho que eu dou para quem quer contratar seguro rural neste ano é: vá logo ao banco", diz.

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