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Intempéries climáticas são principal ameaça do produtor. Seguro vira aliado para mitigar riscos. | Josua© Teixeira / Gazeta Do Povo
Intempéries climáticas são principal ameaça do produtor. Seguro vira aliado para mitigar riscos.| Foto: Josua© Teixeira / Gazeta Do Povo
  • Atividade de alto risco tem custo cada vez maior, o que força o produtor a buscar algum tipo de segurança
  • Milho condenado à inanição no Oeste da Bahia em ano de seca. Seguro restrito aos custos

Em meio aos solavancos no repasse de subvenção pelo governo, o seguro rural se expande no Brasil. Se para o governo isso indica que o sistema está crescendo com apoio público, para a agricultura e para as seguradoras são contratos mais atraentes e a própria expansão do setor que falam mais alto. De qualquer forma, a oferta de contratos menos presos a estatísticas ultrapassadas começa a fazer diferença.

Seguradoras e cooperativas apostam na customização, ampliando o leque de opções para quem contrata proteção contra quebras climáticas. As inovações vão desde a forma de aquisição até as modalidades de cobertura.

Para este ano, a perspectiva é de novo aumento na área segurada. No anúncio do Plano Agrícola e Pecuário (PAP), o governo federal prometeu aporte de R$ 700 milhões para garantir subsídio parcial na contratação do seguro. Com isso, a meta é ampliar em 4% a área e em 9,6% o número de produtores atendidos, chegando a 10 milhões de hectares e 80 mil usuários. Caso a previsão se confirme, o país terá praticamente dobrado o volume de lavouras protegidas em apenas dois anos. Apesar dos costumeiros atrasos e da escassez de verbas, a expectativa é que, sob pressão, a maior parte dos recursos seja repassada.

Parte da expansão está atrelada à oferta de novos produtos e à mudança de mentalidade do produtor, avalia o diretor de agronegócios da seguradora BB Mapfre, Gláucio Toyama. “Alguns anos atrás, o agricultor olhava apenas o preço na hora de adquirir o seguro. Essa percepção mudou e aumentou da demanda pela proteção, independente do custo”, pontua.

Toyama atribui essa nova conjuntura ao aumento das despesas na produção (a maioria dos contratos cobre custos). O agricultor estaria interessado em evitar endividamento e, paralelamente, em garantir uma renda mínima. De olho nesse mercado, a empresa lançou seguro que cobre parte da projeção de faturamento do agricultor. O produto foi testado na safra 2011/12 e vem crescendo. “No caso da soja, que é nossa principal operação, essa modalidade responde por cerca de 18% dos contratos”, detalha.

Outra aposta das companhias está no processo de aquisição. A seguradora Swiss Re e a empresa de químicos Basf firmaram parceria para simplificar o processo de contratação do seguro rural. A simulação de preço e o contrato podem ser executados na revendedora de defensivos e, depois, finalizado por um corretor. “É um diferencial para o cliente e também ajuda no processo de mitigação de riscos da empresa [de insumo]”, diz o gestor de proteção de cultivos da Basf, Fernando Lobo.

Milho condenado à inanição no Oeste da Bahia em ano de seca. Seguro restrito aos custos

Difusão

Para o economista da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Pedro Loyola, o desafio na difusão do seguro ainda é grande, mas o aumento do portfólio representa um avanço. “Opções como o seguro de faturamento são importantes porque servem como uma ferramenta de mercado futuro. O aumento no número de modalidades ajuda a difundir o produto”, avalia.

No campo também é possível confirmar aumento no interesse pelo seguro, principalmente nas zonas de maior risco. O produtor José Roberto Brumati cultivou cerca de 600 hectares de milho de inverno, mas lamenta não contar com proteção para 17% da área.

Cerca de 100 hectares semeados ficam em Amaporã (Noroeste), fora do zoneamento agroclimático. Por isso, Brumati não conseguiu financiar o custeio e nem a subvenção para seguro. Após excesso de chuvas, essa parcela teve perda parcial. “Se eu tivesse seguro, o impacto seria menor”, lamenta. Onde há zoneamento, o produtor não abre mão do seguro rural.

“Santo de casa” faz milagre nos Campos Gerais

Numa região privilegiada pelo clima— com rara exposição das lavouras a secas ou enxurradas —, duas cooperativas dos Campos Gerais apostam em soluções próprias para fazer o gerenciamento do risco rural. Recursos reunidos ao longo dos anos pelos próprios cooperados dão suporte a quem, eventualmente, registra quebra climática.

A Castrolanda, de Castro, constituiu um fundo coletivo, que garante apoio em casos de intempéries climáticas. Quando ocorre perda, a área do produtor é avaliada por um grupo de técnicos da cooperativa, da propriedade e de uma seguradora. Esse grupo é que define se haverá ou não liberação dos recursos, detalha o coordenador administrativo-financeiro da cooperativa, Paulo Alberto Machinski.

O sistema existe há seis anos, e é obrigatório para todos os produtores que financiam a produção junto a cooperativa. Outro sistema, implantado há 20 anos, garante o rateio dos prejuízos no caso da incidência de granizo, complementa.

No caso das culturas de inverno, a cooperativa Batavo apostou em um seguro personalizado, feito em parceria com uma companhia especializada. A proteção vale apenas para casos de granizo ou geada, e garante custo menor ao produtor, indica o gerente agrícola da Batavo, Anacleto Luis Ferri.

Esses sistemas não são inéditos. Existem fundos que socorrem produtores há décadas, como o formado por produtores de arroz no Norte do Uruguai. A contribuição de cada agricultor é limitada a 3% da renda do ano de quebra. Segundo os gestores, nunca foi necessário recolher além disso para socorrer quem enfrenta perda climática e colhe menos que o volume mínimo esperado. Por outro lado, o setor considera que o sistema não funcionaria da mesma forma numa região de risco maior.

Subvenção: Setor critica atraso no repasse de recursos previstos no Plano Safra

A Federação da Agricultura do Paraná (Faep) vem encaminhando uma série de notificações ao governo federal solicitando a liberação de R$ 300 milhões para a subvenção do seguro rural. O argumento da entidade é que o governo prometeu oferecer R$ 700 milhões, mas que apenas R$ 400 milhões estão acessíveis. Além disso, recursos referentes a contratos assinados entre produtores e seguradoras em 2013 também estão pendentes.

Atividade de alto risco tem custo cada vez maior, o que força o produtor a buscar algum tipo de segurança

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirma a situação, mas informa que negocia o pagamento com o Ministério da Fazenda. Para este ano, a liberação também já foi solicitada.

“O Ministério já tomou as medidas necessárias, no entanto, a aprovação do pleito depende de aprovação por parte do Ministério do Planejamento”, informou o Mapa por meio de nota. A meta do governo é condicionar a liberação de crédito de custeio à contratação do seguro. A decisão começaria a valer em no início do mês passado, mas foi adiada para julho de 2015, para garantir a adaptação dos produtores.

Complemento

No Paraná, cresce a demanda também por subvenção estadual. A Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab) mantém programa que complementa o recurso federal, para 29 culturas. O orçamento inicial era de R$ 6,4 milhões, mas foi necessário aporte extra de R$ 700 mil, segundo o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, Francisco Simioni. “Temos sete seguradoras credenciadas e a demanda está forte. Mais de 90% dos recursos já foram aplicados”, relata.

Crescimento incerto

Em 2013 o seguro rural voltou a crescer, mas agora depende da liberação de subsídios.

• Área

Em 2009, o Brasil possuía 6,6 milhões de hectares segurados, área que despendou para 4,7 milhões de hectares em 2011. Entre 2012 e 2013, a área protegida subiu 83%, totalizando 9,6 milhões de hectares.

• Estados

O Paraná é líder no acesso ao seguro rural. Em 2013 o estado registrou 30,8 mil contratos ou 30% do total nacional. Fez seguro para 2,5 milhões de hectares (ou contratos de financiamento que somam de R$ 3,2 bilhões).

• Culturas

No Paraná o trio soja (19 mil contratos), milho (4,2 mil) e trigo (3,8 mil) concentrou a maior área e número de apólices subsidiadas pelo governo federal em 2013.

• Preço

Um dos pontos que trava a expansão do seguro rural é o preço dos contratos. As seguradoras alegam que, se reduzissem o prêmio, ficariam expostas a um alto risco, também pela falta de um fundo de aval. Os novos tipos de contratos mostram-se mais atraentes mas ainda são considerados caros.

10 milhões de hectares de lavouras contarão com seguro rural caso a expansão de 4% na área, prevista pelo governo, se confirme. Isso representa 17% dos 56,85 milhões de hectares cultivados nas safras de inverno e verão em 2013/14, conforme aponta a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

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