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Chapadão do Sul (MS) - Enquanto olham apenas para as lavouras de verão, vigorosas e carregadas, os produtores de Mato Grosso do Sul mostram-se satisfeitos. Quando se voltam para o mercado, dizem estar entrando numa crise, em que os preços mal co­­­brem os custos e colocam em xeque a viabilidade da soja e do milho. E relatam que, nessas condições, a cana continuará roubando área expressiva dos grãos.

Com a colaboração das chuvas, regiões secas recuperam produtividade na soja este ano. A área total da oleaginosa subiu apenas 1%, para 1,73 milhão de hectares, mas o rendimento deve passar de 2,36 para 2,75 mil quilos por hectare, fazendo com que a produção suba, ao todo, 17%. São esperados 710 mil toneladas a mais, numa safra de 4,76 milhões de toneladas. O milho de verão, bem menos expressivo, perdeu 19 mil hectares (12 mil para a soja e 7 mil para outras culturas, entre elas a cana). A produtividade deve se manter na faixa de 6 mil quilos, o que num cenário de redução de área fará com que a produção caia 20%, para 390 mil toneladas.

A produção de 4,15 milhões de toneladas é animadora, marca o retorno de Mato Grosso do Sul à escalada de aumento da produtividade, a superação dos problemas provocados pela seca nos campos no ciclo 2008/09. No entanto, a renda decepciona fortemente os produtores. No Sul do estado eles estão recebendo R$ 31 por saca de 60 quilos, até R$ 10 a menos que na mesma época do ano passado. Ao Norte, a situação se agrava. Os preços na região mais próxima a Mato Grosso não alcançam R$ 30.

A queda na renda sustenta a previsão, consolidada nos últimos dois anos, de que a área da cana vai passar dos atuais 415 mil hectares para a casa de 1 milhão, relata Lucas Galvan, assessor técnico da Federação da Agricultura de Mato Grosso do Sul (Famasul). "Hoje já são 500 mil hectares se forem consideradas as áreas plantadas que ainda não chegaram ao ponto do corte." O total de usinas passou de 11 para 21 e deve alcançar 36 dentro dessa perspectiva de crescimento.

Essa mudança provoca concentração de renda e pode tirar do campo milhares de pessoas que trabalham com grãos e pecuária, consideram os produtores. Eles dizem que, se a soja se mantiver viável, é possível crescer na cana sem traumas para a cadeia da soja, simplesmente melhorando o aproveitamento dos pastos. "Por enquando, como as usinas não estão muito bem e os produtores dizem que não receberam aumento, apesar da alta nos preços do açúcar e do álcool, a situação parece equilibrada. Mas se a remuneração for reajustada, a eurofia com a cana cresce", afirma o superintendente da Famasul.

Mesmo na região Norte do estado, que conta com ferrovia (para escoamento através do porto de Santos), os canaviais começam a aparecer. A expansão da cana em outros estados, como São Paulo, Paraná, Minas Gerais e Goiás já está mais definida que em Mato Grosso do Sul, afirma o agrônomo Paulo Dias, da Organização das Coope­­rativas Brasileiras (OCB), que acompanhou a Expedição Safra na viagem pelo Centro-Oeste.

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