Diante da valorização da soja, que se mantém na casa de R$ 75/sc no Paraná, até a horticultura está cedendo espaço para a oleaginosa. A substituição acontece mesmo com aumento no preço pago ao produtor de alimentos como a batata. O tubérculo vale atualmente 7% mais do que há um ano. Mesmo com aumento de 57%, o tomate também está sendo reduzido, conforme as projeções elaboradas pelo Departamento de Economia Rural do Paraná.
De acordo os números mais recentes, batata, tomate e mandioca terão reduções de 14,5%, 6,3% e 1,8%, respectivamente, em suas áreas em relação ao plantio 2011/12. Consequentemente, a produção também deve encolher, o que pode impactar na inflação diante de uma oferta menor.
"Grande parte [da redução de área] é por causa da soja. O produtor está vendo a oportunidade de ganhar dinheiro em curto prazo", aponta o economista Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab Marcelo Garrido. "No interior, o pessoal vai plantar soja até os limites dos cemitérios", disse o secretário da Agricultura, Norberto Ortigara.
Conforme Garrido, o avanço da soja ocorre sobre áreas da horticultura menos especializadas, que rendem menos por hectare. Quem se dedica aos hortifrutigranjeiros há anos e tradicionalmente faz altos investimentos deve continuar apostando no segmento, aponta.
"Os especializados não vão se aventurar na soja, mesmo que a cultura dele não seja lucrativa", afirma. Os produtores de soja de primeira viagem precisam arrendar terra, comprar insumo e alugar máquina, frisa. O agricultor familiar Carlos Soqs conta que hoje sobram hortaliças na região de Contenda. Ele consegue repolho de graça na vizinhança para alimentar vacas de leite.
Mudança
Em Contenta, Região Metropolitana de Curitiba, não é difícil encontrar produtores que estão reduzindo a área da horticultura para ampliar o plantio de soja. Segundo o presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Contenda (Cootenda), Marco Antônio Gonçalves, parte dos 158 associados confirma que deve migrar para oleaginosa. "Tendo área e maquinário, vai para soja", afirma.
Além do bom preço, as dificuldades enfrentadas na comercialização dos vegetais estimulam a mudança para a produção de grãos, que têm alta liquidez.
Cada associado da Cootenda tem cota anual de R$ 4,5 mil no Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). Esse sistema de comercialização utilizado pelo grupo envolve as prefeituras de Contenda, Araucária e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
"A liquidez da verdura é muito complicada pelo prazo. A produção excedente eu perco, pois apodrece. O dia que a cooperativa parar de comprar eu não vou mais plantar vegetais", afirma o agricultor Pedro Gonçalves da Silva Neto.
A perspectiva de melhores ganhos fez com que Silva reduzisse pela metade a área da horticultura. A terra que antes recebia repolho, alface, cebola e outros vegetais será ocupada pela oleaginosa. "Na soja, eu tenho garantia de venda e também posso armazenar para esperar preços ainda mais altos", diz o agricultor que irá plantar 12 hectares com soja.
A primeira estimativa do Deral para a área da soja no Paraná indica que a área terá expansão de 4%, para 4,57 milhão de hectares. São 167 mil hectares a mais. Juntos, milho e feijão perdem 156 mil hectares. Nessa conta, ainda faltam 10 mil hectares. É uma extensão pequena para a produção de grãos, mas grande para a da horticultura. A batata recua 15%, para 14 mil hectares.
Altos e baixos nos preços frustram produtor de batata
Entre os hortifrutigranjeiros, a batata é a cultura que irá perder mais área para o avanço da soja 14,5%. De acordo com dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (Seab), o tubérculo deve ocupar 14,4 mil hectares no primeiro dos dois ciclos de 2012/13, cerca de 2,4 mil hectares a menos que em igual período da temporada anterior.
O reflexo será medido na produção, que deve cair 20 mil toneladas. A previsão é de 406 mil toneladas diante de 427 mil toneladas do mesmo ciclo de 2011/12. Isso mesmo considerando produtividade 11% superior.
A maior redução da área será observada em Curitiba e Região Metropilitana, com perda de 2 mil hectares. A capital e os munícipios próximos são responsáveis por 33% da produção estadual. Guarapuava terá redução de 350 hectares, conforme a Seab.
O problema são as oscilações nos preços. Apesar de mais elevados, os valores atuais não representam reforço na renda do horticultor. "A batata estava com preço ruim. O produtor recebia R$ 18 pela saca. Agora está R$ 70. O problema é que ninguém tem batata", aponta Marco Antônio Gonçalves, presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Contenda (Cootenda).
A redução de área da mandioca será semelhante à da batata, de 4 mil hectares. Dois grandes polos produtores, Toledo e Campo Mourão, vão perder cerca de 1,4 mil hectares cada. Os produtores que permanecem nesta cultura aguardam alta de preços, pela redução na produção no Nordeste do país.
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