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A soja ajudou o Paraguai a fe­­char 2010 com o crescimento his­­tórico no Produto Interno Bruto (PIB) de 15%. No ano passado, num cenário de crise internacional, sustentou avanço de 4%. Em 2012, porém, uma forte quebra climática ameaça causar um rombo à economia do país, apurou a Expedição Safra Gazeta do Povo, que percorreu o país na úl­­tima semana.

Diante da pior quebra climática de que os produtores têm lem­­brança e da consequente redução das exportações, o PIB paraguaio deve ficar em cerca de 3,7%, estima o Banco Central, que se obrigou a rever sua projeção de 4%. O cenário coloca em risco o sistema financeiro do país, pois 22% dos financiamentos bancários foram destinados ao setor agrícola em 2011.

A cooperativa Colonias Unidas, uma das maiores do Paraguai, com sede em Obligado (Sul), calcula que deixará de receber aproximadamente US$ 15 milhões, que foram destinados aos associados para o custeio da safra. Com cerca de US$ 5 milhões em caixa, depende de novas fontes de recursos.

"Os cooperados precisarão buscar US$ 10 milhões de outras fontes. Ainda estamos planejando como será o sistema de renegociação de dívidas, mas já decidimos prorrogar as obras de investimento da cooperativa", afirma Eduar­­do Dietze, gerente de produção da empresa, instalada no departamento de Alto Paraná.

Ele diz que a seca vai reduzir em 60% o volume total de grãos recebido pela cooperativa neste ano. Das 360 mil toneladas esperadas, apenas 125 mil entrarão nos armazéns.

A safra de verão deixou marcas em todo o cinturão verde Leste, onde está concentrada a produção de grãos do Paraguai. Com 700 hectares plantados com soja em San Alberto, o produtor paranaense Roberto Magagnin conta que nunca teve safra tão ruim quanto a deste ano. Ele colheu 800 quilos de soja por hectare em áreas que poderiam render mais de 3 mil quilos.

Agora, aguarda uma renegociação dos credores. "O jeito é esperar os boletos chegarem e começar a pensar na prorrogação do pagamento para o ano que vem. Não tem outra saída", afirma o agricultor, que migrou de Santa Terezi­­nha do Itaipu (Oeste do Paraná) para o Paraguai há 25 anos.

Como agravante, a safrinha de milho que começou a ser cultivada em janeiro deste ano e poderia compensar parte dos prejuízos também "evaporou". A seca prolongada manteve poucas plantas vivas em 360 hectares plantados com o cereal.

O trauma serviu de aprendizado para Magagnin, que foi procurado pela seguradora quando as lavouras esbanjavam vitalidade. Depois do prejuízo, que ainda não foi calculado, o agricultor diz que não planta sem seguro.

Fase

Para Ovídio Zanquete, gerente geral da cooperativa Lar em Ciu­­dad del Este, o quadro atual não vai comprometer os investimentos na próxima temporada. "Es­­tamos vindo de três boas sa­­fras. Os produtores paraguaios estão capitalizados. Bem diferente de quando chegaram aqui", analisa o brasileiro.

O Paraguai é o quarto maior exportador de soja, atrás apenas dos Estados Unidos, Brasil e Argen­­tina. O grão é responsável pelo desenvolvimento econômico de muitas cidades paraguais, lembra José Paiva, gerente de produção da Dekalpar, uma das maiores se­­menteiras do país. "A agricultura é a nova força econômica do Para­­guai. Os novos ricos do país estão fora de Assunção (capital)."

Das 8,3 milhões de toneladas colhidas no ano passado, 6,7 milhões foram para o mercado internacional, perto de 80% do total. Para o ciclo atual, no en­­tanto, a previsão é que os paraguaios exportem quase 3 mi­­lhões de toneladas a menos do que em 2011.

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