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Fazenda teve toda a produção de semente desclassificada, conta o agrônomo Renato Cambi | Anta´nio De Picolli/gazeta Do Povo
Fazenda teve toda a produção de semente desclassificada, conta o agrônomo Renato Cambi| Foto: Anta´nio De Picolli/gazeta Do Povo
Plantio da safrinha começou em janeiro, mas teve problema com falta de umidade

A seca de janeiro e fevereiro terá reflexo direto no plantio da safra de inverno no Paraná, que começou em janeiro e ganha ritmo em março. Diante da perda estimada em R$ 2,2 bilhões em função da quebra de 2 milhões de toneladas de soja e 100 mil toneladas de milho, os produtores e cooperativas locais estão revendo os planos para os próximos meses. Pesa sobre as decisões o baixo preço do milho, a valorização do trigo e a falta de condição ideal do solo para quem precisa lançar as sementes nas próximas semanas. Em maior parte dos municípios que têm condições favoráveis à segunda safra, conforme o zoneamento agroclimático do estado, a melhor época para plantio de milho já passou.

Os primeiros indícios da mudança na temporada de inverno no estado aparecem nas estimativas oficiais para as duas culturas. De acordo com a última projeção da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), a área destinada ao milho safrinha vai recuar 12%, para 1,9 milhão de hectares – 1 ponto porcentual acima do que se esperava em janeiro, antes da confirmação das perdas na safra de verão. Caso se confirme, será a primeira vez em três anos que o cereal terá área plantio inferior a 2 milhões de hectares no Paraná. Por outro lado, a triticultura tende a crescer 20% em comparação com a temporada passada. Assim, o cereal do pão voltaria a ocupar uma área superior a 1 milhão de hectares, fato que não ocorre desde a safra 2010/11. Essa previsão para o trigo deve se confirmar nos próximos relatórios oficiais, já que o plantio começa em abril.

A redução maior que o previsto inicialmente no plantio do milho é resultado do forte calor e a falta de chuvas, que castigaram as plantações de verão e tiraram umidade do solo, inviabilizando o lançamento das sementes do cereal em regiões como Norte do estado.

Além do clima, a inversão de tendências está diretamente ligada às cotações dos dois produtos. Apesar da leve reação após o anúncio de que os Estados Unidos reduzirão o plantio na próxima temporada, o mercado doméstico de milho ainda trabalha com preços 25% mais baixos que os registrados há um ano. Com isso, muitos produtores preferiram apostar no cereal do pão, que apresenta valorização de 5% de janeiro de 2013 para cá.

“No final do ano passado, quando o produtor adquiriu o fertilizante e a semente para o plantio do milho, a tendência era de baixa no preço”, explica o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Seab, Francisco Simioni. “Onde o produtor não tiver mais janela para plantar milho, o trigo pode aparecer. Mas ainda é só uma expectativa”, pondera, lembrando que o retorno das chuvas na semana passada poderia segurar a queda no plantio do safrinha.

A lucratividade do milho, neste momento, é maior que a do trigo. Considerando as médias de produtividade das duas culturas, o custo variável e os preços atuais, a lucratividade da safrinha é de R$ 700 por hectare e a da triticultura, de R$ 500. Mesmo assim, há o temor entre os produtores que as lavouras de milho plantadas no pó tenham produtividade comprometida.

Plantio da safrinha começou em janeiro, mas teve problema com falta de umidade. Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Socorro externo

A seca que quebrou em 12% a estimativa de safra de soja no Paraná também terá impacto nas empresas agropecuárias do estado. Com matéria prima insuficiente para abastecer a indústria de óleo, a Cocamar, de Maringá, irá comprar um volume maior de oleaginosa. A estimativa inicial era de que os cooperados entregassem 850 mil toneladas, número que caiu para 650 mil t após o veranico.

“A nossa indústria esmaga 950 mil toneladas por ano. Teremos que procurar em outras cooperativas e traremos um pouco de Mato Grosso do Sul”, conta José Cícero Aderaldo, vice-presidente de negócios da cooperativa.

Norte Pioneiro sofre perda de 40%

Marco Martins, correspondente

Depois de quase 30 dias sem chuva e com temperaturas acima dos 36 graus, a exuberância das lavouras de soja no Norte Pioneiro do Paraná deu lugar a um cenário desolador. A quebra na produção da oleaginosa deve ser de 40%, avaliam os técnicos do governo do estado. O problema é mais grave nas áreas cultivadas com variedades precoces. Há casos em que os produtores não vão colher a lavoura, o que configura 100% de perda.

A produção de soja em 23 dos 26 municípios do Norte Pioneiro estava estimada em 480 mil toneladas, mas conforme o Departamento de Economia Rural (Deral), órgão ligado à Secretaria Estadual de Agricultura e Abastecimento (Seab), serão colhidas 190 mil toneladas a menos. Esse volume de grão vale R$ 200 milhões.

No levantamento feito pelo Deral, a estiagem e as temperaturas elevadas afetaram mais de 70% dos 150 mil hectares ocupados pela cultura na região. A expectativa é que só a soja em frutificação – cerca de 37,5 mil hectares – vai alcançar os 3 mil quilos por hectares esperados.

Responsável técnico pela Fazenda Eldorado, em Santo Antônio da Platina, o agrônomo Renato Tozzi Cambi revela que 80% dos 1.150 hectares que monitora foram prejudicados. “Em algumas áreas da propriedade a produtividade média não chega a 400 quilos, e a nossa expectativa era de 3,6 mil quilos por hectare.” A intenção era destinar 4 mil sacas para sementes. Toda a produção foi desclassificada.

Seguro

A Fazenda Eldorado tem seguro, que foi acionado, mas irá garantir recursos somente para quitação de financiamentos contratados para o plantio. “O seguro minimiza a situação, mas não resolve”, afirma Cambi. Segundo ele, há pelo menos três décadas a propriedade não registrava uma quebra de safra tão significativa.

Ele projeta um investimento menor na próxima safra. “Com certeza vamos reservar uma área menor e o investimento em tecnologia também será revisto. Mas não vamos parar de investir na soja”, completa.

300 mil toneladas de soja terão de ser compradas pela Cocamar, de Maringá, de produtores que não são cooperados, para o abastecimento de sua indústria de óleo. Se não houvesse quebra, bastariam 100 mil t.

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