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A expansão de 1,1 milhão de hectares por ano e a correta aplicação dos princípios da técnica de Plantio Direto na Palha (PDP) podem fazer com que em um prazo máximo de 50 anos o Brasil consiga recuperar o passivo ambiental acumulado nos últimos duzentos anos de exploração do solo para a agricultura e pecuária em larga escala. A possibilidade foi anunciada ontem durante o primeiro dia do 12.º Encontro Naci­onal de Plantio Direto, que acontece em Foz do Iguaçu, no Oeste do estado, até amanhã. O que inicialmente já sinalizava como perspectiva otimista está ganhando um novo fôlego. Pes­qui­­sas anteriores apontavam que a quantidade de gás carbônico (CO²) sequestrado poderia chegar a 12,65 milhões de toneladas em dez anos. Análises mais atuais elevam a previsão para mais de 46 milhões de toneladas de CO² sequestrado no mesmo período. O saldo maior está sendo alcançado nas plantações do Mato Grosso, Ma­­to Grosso do Sul e São Paulo, seguidas do Paraná, influenciado principalmente pelo clima. De­­sempenho melhor se observa quando a rotação de culturas é efetiva e pior quando predomina o cultivo exclusivo de soja.

Os resultados são baseados em pesquisas realizadas nas últimas duas décadas em diferentes regiões, principalmente nos estados do Sul e Centro-Oeste do país. Com cerca de 25 milhões de hectares de terras cultivadas pelo sistema de PDP, o Brasil tem perfeitas condições de atingir suas metas de redução na emissão de carbono sem que interfira nos processos industriais e econômicos, aponta o professor do Departamento de Ciência do Solo e Engenharia Agrícola da Universidade Estadual de Ponta Grossa João Carlos de Moraes Sá.

"Se levarmos esse conhecimento para o campo, com o propósito de simplesmente convencer os agricultores de que é uma técnica interessante e ambientalmente viável, a adesão provavelmente será mínima. Mas, se mostrarmos que as vantagens podem ser muito maiores também em relação à produtividade e à economia com insumos agrícolas, podemos ter um novo panorama em um curto espaço de tempo", compara Sá. Quanto aos índices de sequestro de carbono, os resultados, assegura, seriam semelhantes aos obtidos em regiões de florestas.

Diferente dos sistemas convencionais, que somam elevadas perdas de matéria orgânica, o PDP – com a intervenção mínima do solo e a cobertura da palhada – ajuda a manter as qualidades do terreno. Segundo o pesquisador do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Clemente Cerri, quando o solo é revolvido, os microorganismos presentes são ativados em contato com o oxigênio e resultam em gases de efeito estufa. "No plantio direto, o fenômeno é contrário, além de aumentar o estoque de carbono no solo, sequestrando uma parcela importante do que seria lançado na atmosfera."

Mas, para que os bons resultados sejam alcançados no prazo de 50 anos, os pesquisadores lembram que além da expansão da técnica a áreas que ainda não adotam o sistema, o respeito aos princípios básicos – como o mínimo revolvimento do solo, a manutenção permanente, quantidade e qualidade da palhada e a rotação de culturas – são essenciais. "Quando isso tudo não é levado em conta ou certas adequações não são acompanhadas devidamente, fica impossível garantir as vantagens do plantio direto, seja em termos econômicos ou ambientais", reforçou o pioneiro da técnica no Brasil e no Paraná, Nonô Pereira.

Serviço:

Confira a programação do encontro no site www.febrapdp.org.br

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