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O grão que ergueu a Região Norte do estado e está na origem da Sociedade Rural do Paraná (SRP) vê sua área cultivada cair ano a ano. Enquanto na década de 1960 o Paraná chegou a responder por 28% da produção mundial, hoje representa apenas cerca de 5% da produção brasileira. O terreno perdido para outros grãos, principalmente soja e milho, se deu pelos preços mais atraentes e também pelo problema da mão de obra, cada vez mais escassa e cara. Desafios que só podem ser vencidos, segundo produtores e pesquisadores, pela mecanização.

Além de reduzir sensivelmente a necessidade de mão de obra, o aparelhamento do campo traz mais qualidade e produtividade a qualquer cultura. No caso do café pode terminar com deslizes comuns, como a fermentação durante o processo de colheita. O grande obstáculo para isso, no entanto, está na aquisição de tecnologia.

Hoje 85% do café do Paraná saem de propriedades de até três hectares. Foi para filtrar o custo da tecnologia para esses pequenos produtores que o governo estadual e instituições como Iapar e Emater criaram ainda no ano passado um programa de reestruturação e difusão tecnológica, com cursos, assistência técnica e máquinas de pequeno porte a preços acessíveis.

Segundo o chefe do Departamento de Economia Rural (Deral) do Paraná, Francisco Carlos Simioni, o ponto-chave do programa é a disseminação do plantio de café adensado, técnica que permite dobrar a produtividade e diminuir perdas em caso de intempéries.

A previsão de Simioni é que, em cinco anos, a produtividade média de café no Paraná possa subir de 22 para 40 sacas por hectare. O chefe do Deral afirma ainda que a discrepância entre as colheitas dos anos de safra cheia e safra menor tende a cair. "Não precisamos expandir a área da cafeicultura, mas refrear a tendência de queda aumentando a produtividade e a qualidade. Essa é toda a nossa aposta", diz.

Panos quentes

Para o melhorista genético Tumoru Sera, do Iapar, ele próprio premiado produtor de café, é necessário esclarecimento quanto ao temido custo excessivo da mecanização. Em sua análise, um investimento entre R$ 10 mil e R$ 20 mil reais é suficiente para propriedades familiares, e R$ 100 mil é o bastante para áreas de até 50 hectares. "Nós temos soluções baratas, falta implantar, falta divulgação. O café ainda é a melhor opção para o pequeno produtor, temos infraestrutura, tradição e mercado", diz.

Preço

Para o presidente da Comissão de Cafeicultura da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), Walter Ferreira Lima, é a falta de regulação do Estado que impede que o produtor perceba a necessidade de investir em tecnologia. Em sua análise, a oscilação de preços gera um clima de desmotivação. Ele se mostra preocupado com a tendência de baixa do preço médio da saca de café de qualidade: desde outubro, houve queda de R$ 530 para R$ 425, mesmo com consumo aumentando e estoques baixos. Neste ano de safra cheia, pode ocorrer novo decréscimo. "O governo não pode deixar o produtor ao ‘Deus darᒠdo mercado", diz.

Simioni observa, porém, que, pela predominância dos grãos na agricultur, o governo estadual não tem condições de manter um programa de estocagem que asseguraria um preço mínimo ao café.

Gourmet paranaense está entre os melhores do país

Um nicho que há 10 anos nem existia no país, mas que hoje toma 4% do mercado nacional. Esse é o negócio dos cafés especiais ou gourmet. A procura por eles cresce acima da média do café tradicional – 21,3% de aumento no consumo entre 2009 e 2010, segundo a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). O preço pago ao produtor de café especial também é atraente e superior ao do grão cultivado em sistema convencional: entre R$ 500 e R$ 550 a saca, contra R$ 420. E essas boas perspectivas estão ganhando espaço nas propriedades paranaenses e podem reavivar os tempos gloriosos da cafeicultura do estado de uma nova maneira.

A força histórica do Norte do Paraná, afinal, se mantém: a região detém 90,4% da cultura no estado e é a mais propícia para o café gourmet, pelas condições climáticas e altitude adequadas.

Uma amostra da viabilidade do produto no Paraná são os resultados obtidos no 8.º Concurso Nacional Abic de Qualidade do Café, em dezembro do ano passado. Dois produtores paranaenses foram qualificados entre os nove campeões – os lotes com nota superior a 75 pontos.

Os campeões

O melhorista genético do Iapar Tumoru Sera administra a propriedade de sete hectares da mãe, Shige Kuwano Sera, que conseguiu se qualificar como o melhor café do Paraná e o quarto colocado brasileiro na categoria cereja descascado. A plantação fica em Congoinhas, no Norte Pioneiro. "Atribuo esse resultado ao ajuste que fizemos na propriedade, hoje totalmente mecanizada [investimento de R$ 20 mil]. Essa conquista é o reconhecimento de muito trabalho e uma prova de que nossa região pode gerar cafés especiais sem dificuldade, desde que seja utilizada tecnologia na produção, administração e comercialização", diz Tumoru Sera.

Outro paranaense vencedor do concurso nacional de qualidade do café foi Ademir Antonio Rosseto, de Mandaguari (Noroeste), que colheu o prêmio com as próprias mãos. Diferentemente do produtor de Congoinhas, Rosseto preferiu investir cerca de R$ 60 mil em projeto de irrigação artificial, por gotejamento. "Na última safra, a colheita foi manual, mas nas próximas vou ter uma ajuda. Um vizinho está comprando uma colheitadeira e pretendo alugar a máquina dele. Estamos sempre tentando modernizar. Fora isso, é só ter cuidado no trato com o café e buscar a maior quantidade possível de grãos maduros."

No leilão dos vencedores da Abic, o café de Rosseto conseguiu o maior valor de venda: R$ 1.670 a saca. Sera conseguiu R$ 950, também um bom valor.

O presidente da Comissão de Cafeicultura da Faep, Walter Ferreira Lima, aposta no dia em que embalar um café com o rótulo de "Norte do Paraná" servirá como peça de marketing. "É nosso sonho", diz.

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