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No rastro urbano: com mais de 2,2 mil pontos de atendimento no país, Sicredi e Sicoob expandem rede para mais de dez estados brasileiros, inclusive em regiões onde a agropecuária tem peso reduzido na economia

A sexta maior instituição financeira do Brasil nasceu no campo, mas foi o público urbano que deu o impulso ao cooperativismo de crédito, o que mais cresce no país e no Paraná. Com serviços equivalentes ao de qualquer outro banco comercial, o segmento conquistou, em menos de uma década, cerca de 5% da população nacional – a maior parte está concentrada nas cidades. Custos mais baixos, transparência na gestão e foco no atendimento ao dono – afinal, no cooperativismo cliente é sócio – são apontados como os diferenciais que garantiram a expansão desse negócio, R$ 166 bilhões no país e de R$ 16 bilhões no estado.

O principal estímulo às cooperativas de crédito veio em 2003, quando o Banco Central do Brasil (Bacen) implementou o sistema de livre adesão, abrindo as portas do setor à sociedade. A medida entrou efetivamente em vigor em 2005, e permitiu a qualquer pessoa se associar a uma cooperativa deste gênero. “Nesse sistema, parte do resultado (lucros) volta para o associado”, resume o diretor de operações do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Francisco Silvio Reposse Junior.

A mudança nas regras permitiu que o setor deslanchasse. Hoje mais de 80% dos associados de cooperativas paranaenses estão no segmento de crédito. Desde 2009 o setor consolida expansão de 20% ao ano em número de cooperados, que hoje passam de 780 mil pessoas. Sem a abertura, talvez esse número fosse de menos de 140 mil, que é o número de associados às cooperativas agrícolas no estado.

A ampla adesão também fez saltar o faturamento das empresas, que dobrou em cinco anos e soma R$ 2,9 bilhões, cerca de 6% do total arrecadado em 2013. Mas, em bancos o que vale mesmo são os valores em ativos, que são todos os direitos que as instituições têm a receber.

Na prática, a cooperativa de crédito oferece os mesmos serviços de qualquer banco, como investimentos, previdência e cartões de crédito. A vantagem, explicam os especialistas, está no custo, que é mais baixo do que nas agências tradicionais. “Alguns impostos não incidem sobre as operações das cooperativas. Os custos são menores e isso é repassado com serviços mais baratos e taxa de juros menor”, define Junior.

O lucro das instituições é reinvestido no próprio sistema, o que acaba sendo uma boa estratégia para conquistar novos clientes. “Como parte das sobras fica com o cooperado, elas acabam aumentando o capital do cliente associado”, explica o gerente de desenvolvimento e autogestão do Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo (Sescoop), Gerson José Lauermann. Outro fator positivo é a expertise adquirida com o agronegócio. “Prova disso é que as cooperativas de crédito nasceram dentro do ramo agropecuário”, detalha o presidente da Central Sicredi PR/SP, Manfred Dasenbrock. Ele explica que assim como em qualquer cooperativa são realizadas assembleias regionais, que aproximam os associados do processo de gestão. “O meio rural é nos DNA e não abrimos mão disso”, reforça.

Apesar da tradição rural, a perspectiva de longo prazo é maior crescimento na cidade. Os clientes urbanos já tomaram a dianteira na carteira do Sicredi, revela Dasenbrock. “A produção no estado pode aumentar, mas a área não, então a tendência é de um crescimento maior em associados no meio urbano”, revela Dasenbrock.

Expansão acirra disputa por espaço

O crescimento das cooperativas de crédito impulsiona o setor, mas também acirra a disputa por espaço. “Temos cooperativas instaladas na mesma praça, na mesma cidade, rivalizando por clientes. Isso é ruim para o sistema”, aponta o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Marcio Lopes de Freitas. Ele explica que a entidade não tem autonomia para intervir diretamente na questão, portanto a atuação tem sido limitada a promover o diálogo entre as entidades. “Só o bom senso e o espírito cooperativista resolvem isso”, complementa.

No Brasil são 1,1 mil cooperativas de crédito, (62 no Paraná). Lopes avalia que novas regras implementadas pelo Banco Central, como a criação do Fundo Garantidor do Cooperativismo de Crédito (FGCoop), tendem a amenizar a disputa. “Se uma cooperativa tentar prejudicar a outra, ela mesmo pode acabar pagando a conta”, detalha. O fundo, assegura recursos para a instituição financeira em caso de intervenção ou de liquidação extrajudicial.

Para o gerente de desenvolvimento e autogestão do Serviço Nacional de Aprendizagem do Co­­­ope­­rativismo (Sescoop), Gerson José Lauermann, é possível garantir expansão saudável ao setor. “Quanto mais tiver cooperados, maior será a capacidade de pagamento sobras também”, indica. As sobras correspondem ao lucro obtido pelo banco, e são revertidas em prol dos associados, na forma de descontos ou pagamento de dividendos.

SERVIÇO: Portfólio ampliado vira chamariz para novos clientes

A aproximação com o público urbano transformou a forma de atuação das cooperativas de crédito, que precisaram ampliar o leque de serviços oferecido aos clientes. “Antes não adiantava fazer muita propaganda, pois faltava um produto ou outro. Agora estamos começando a ficar com um portfólio completo e estamos expandindo”, revela o diretor de operações do Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil (Sicoob), Francisco Silvio Reposse Junior.

A estratégia mira atingir mercados de nicho, aponta o presidente da Central Sicredi PR/SP, Manfred Dasenbrock. “Há uma atenção especial aos segmentos jovem e feminino. Estamos focados em atingir rapidamente o ponto de equilíbrio nas novas agências”, diz. Ele indica que fatores como tamanho da rede de atendimento e investimento na qualificação dos funcionários também são elementos essenciais para ampliar a participação na cidade.

O investimento é considerado viável, e ajuda a explicar porque o segmento de crédito detém somente 6,5% do faturamento cooperativista no Paraná. “Neste primeiro momento abrimos mão da rentabilidade para poder crescer em um ritmo mais acelerado”, indica o vice-presidente do Sistema Cresol, Luiz Ademar Panzer.

O setor avalia que a proximidade com o meio rural também gera potencial de crescimento nos municípios do interior. “É possível ter acesso a uma gama de serviços como cartão de crédito e seguro em regiões onde a malha bancária ainda não chegou”, complementa Panzer.

780 MIL pessoas estão associadas às cooperativas de crédito no Paraná. Se o Banco Central não permitisse livre adesão de público urbano, segmento estaria estagnado, com menos de 140 mil sócios.

30% da população da França estão associados ao sistema de crédito cooperativo. No Brasil, somente 5% fazem parte do negócio, que conta com mais de cerca de 10 milhões de pessoas.

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