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Joceli sobre fardos a serem reciclados: ação coordenada | Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo
Joceli sobre fardos a serem reciclados: ação coordenada| Foto: Fotos: Jonathan Campos/ Gazeta Do Povo
Volume coletado corresponde a 94% do que chega ao campo

O crescimento da produção agrícola e do uso de defensivos está provocando aumento de 5,2% no volume de embalagens de agrotóxicos recolhidas no campo em 2014. Isso depois de dois anos em que o índice chegou a 9%. Serão cerca de 42,5 mil toneladas de recipientes até dezembro, conforme o Sistema Campo Limpo. Diante dessa contínua expansão, o programa, que é referência internacional de logística reversa, passa por ajustes que exigem novos investimentos.

O Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), responsável pelo sistema, vai desembolsar US$ 10 milhões para a construção de uma segunda usina de reciclagem em Taubaté (SP) até 2021. A unidade, de 6 mil metros quadrados, será destinada à fabricação de tampas plásticas para agrotóxicos.

A primeira indústria do grupo, também na cidade paulista, recebeu investimento de R$ 45 milhões desde sua inauguração, em 2008, dobrando a capacidade de processamento de material reciclável, hoje de 9 mil toneladas por ano. A adequação da estrutura para acompanhar o ritmo das novas safras tem sido a maior preocupação do inpEV, afirma o gerente de logística, Mário Fujii.

Segundo ele, 94% dos defensivos vendidos têm seus frascos retornados às revendas. A meta é alcançar os 6% ainda restantes,  que ficam no meio ambiente.

Fronteiras agrícolas

Para cumprir a legislação e recolher embalagens em regiões de expansão da área plantada, a indústria adota coleta itinerante. No polo de cultivo que envolve Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia (MaToPiBa), por exemplo, caminhões do inpEV vão a locais próximos às fazendas, com data marcada, e recebem as embalagens direto dos agricultores.

“Instalamos novas centrais no sul do Piauí e no Maranhão. Mas não é só uma questão de criar mais unidades de recebimento. Temos que ampliar a nossa capilaridade, estruturando o recebimento itinerante em outras regiões”, explica Fujii.

A modalidade foi sistematizada e testada em três estados no ano passado. A coleta itinerante vem sendo usada para garantir aumento no recolhimento inclusive no Paraná, que tem 500 pontos de recebimento fixos, uma das redes mais estruturadas do país.

Das 40,4 mil toneladas de embalagens recolhidas em 2013, apenas 10% chegou ao inpEV pelo sistema itinerante. A previsão é que esse porcentual aumente nos próximos anos.

Volume coletado corresponde a 94% do que chega ao campo

Lavagem e entrega viram rotina na fazenda

Uma vez a cada ano, o agricultor Marcelo Scutti coordena seus funcionários para o transporte das embalagens dos agrotóxicos que usou no cultivo de soja, milho e trigo, em Ponta Grossa, até os galpões de recebimento.

Por fazer a compra em Contenda, o material viaja cerca de 130 quilômetros até a unidade da Região Metropolitana de Curitiba. Ao chegar, é separado e prensado por cinco funcionários, e depois encaminhado às fábricas de processamento em São Paulo.

A conscientização sobre a necessidade da reciclagem deve começar no campo,assume o produtor. Em sua propriedade, ele ergueu um pequeno armazém para guardar o material já usado. E garante: tudo é triplamente lavado, seguindo a recomendação do Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV).

“É como se fosse lixo doméstico. Tem que ficar separado. Fazemos a lavagem e guardamos no barracão. Seguindo esse tipo de recomendação, acho que estamos no caminho certo para realmente deixar o campo limpo”, finaliza.

Recolhimento itinerante não dispensa adequação

As unidades de recebimento cobram investimentos mesmo onde o recolhimento itinerante se expande e prevalece. Na região de Curitiba, por exemplo, uma nova sede construída em Contenda substitui a antiga instalada em Colombo.

Foi gasto cerca de R$ 1 milhão (terreno, dois depósitos de reciclagem e escritório), segundo a agrônoma Joceli Deki Bassetti, responsável pelo programa na região. “São 780 contra 200 metros quadrados da estrutura em Colombo”, compara.

No último ano, 120 toneladas de embalagens foram retornadas em Colombo. Mais de 95% do volume total, afirma Joceli, por meio do sistema de coletas itinerantes — uma relação inversa à registrada no país, que faz 10% da coleta com serviço itinerante.

Houve 250 “visitas” a propriedades rurais  ao longo de 2013 na região agrícola de Contenda e Colombo. “Os produtores ficam avisados. Fazemos um calendário no início do ano e eles são informados, na hora da compra, quando o nosso caminhão vai passar para coletar a embalagem”, explica Joceli.

O Paraná foi uma das três regiões a receber o sistema itinerante em sua fase de testes, no ano passado. De acordo com o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV), 1,4 mil toneladas de frascos de agrotóxicos foram recolhidas dessa forma no estado em 2013. São 28% de um total de 5 mil toneladas.

Mobilização

Para coletar cada vez mais embalagens, o Brasil mantém sistema que integra produtores, distribuidores e indústrias.

•Rede

O Sistema Campo Limpo, que funciona desde 2002, tem hoje 410 unidades (centrais e postos de coleta) tocadas por 260 associações. O serviço de coleta itinerante, testado em regiões como a de Curitiba, passa a ser adotado também nas fronteiras agrícolas do Nordeste.

•Responsabilidade

Revendas, cooperativas e distribuidores precisam imprimir, na nota fiscal, o local de recebimento das embalagens. A indústria fabricante faz o recolhimento e envia para reciclagem ou incineração. O produtor lava, armazena e organiza o material para recolhimento.

•Ambiente

Os cuidados ambientais se estendem à lavagem. Na lavoura, o produtor deve colocar água em até ¾ do recipiente, chacoalhar e jogar esse caldo no pulverizador novamente. É preciso também furar a embalagem para que não haja reutilização.

•Obrigação

O Sistema Campo Limpo atende à Lei 9.974, de junho de 2000, regulamentada em 2002. O programa acompanha o crescimento da produção agrícola nacional.

•Recorde

O Brasil é considerado líder no recolhimento não só por usar mais agrotóxicos. Coleta 95% dos recipientes que chegam ao produtor. Outros países considerados referência têm índices menores. É o caso da França (77%) e do Canadá (73%), conforme o inpEV.

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