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A definição sobre o aumento do teor de etanol anidro na gasolina comum, de 27% para 30%, é aguardada pelo setor sucroalcooleiro, que espera que a mudança, caso efetivada, aumente a demanda pelo biocombustível. Há controvérsia, porém, sobre o efeito nos preços ao consumidor final: o governo diz que eles vão cair, mas uma consultoria privada prevê o oposto.
A mudança é permitida a Lei do Combustível do Futuro, aprovada em setembro pelo Congresso e sancionada em outubro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Mas a decisão sobre a adoção do novo teor cabe ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que deve convocar reunião para deliberar sobre o tema até o fim do primeiro semestre.
Testes conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT), cujos resultados foram apresentados no mês passado, apontaram a viabilidade técnica do uso da nova mistura.
De acordo com relatório das Indústrias de Bioenergia de Mato Grosso (Bioind MT), caso a mudança seja implantada no início da safra 2025/26, a demanda por etanol anidro poderá chegar a R$ 14,76 milhões de metros cúbicos, um crescimento de 16,2% em relação à estimativa com a atual mistura obrigatória de 27% (12,7 milhões de metros cúbicos).
“A ampliação da mistura obrigatória é um passo estratégico para consolidar o etanol como protagonista na matriz energética do país. Esse aumento fortalece toda a cadeia produtiva, beneficiando produtores, distribuidores e, principalmente, o meio ambiente, ao incentivar o uso de um combustível renovável e de menor impacto ambiental”, disse Giuseppe Lobo, diretor-executivo da Bioind, em nota.
A medida é defendida pela bancada do agronegócio no Congresso. “A manutenção do atual percentual será uma mensagem negativa para o mercado, sugerindo que pode haver uma mudança de rota a qualquer momento e o país deixe de investir em biocombustíveis”, declarou o deputado federal Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA).
Para o presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), Evandro Gussi, a iniciativa fortalece a segurança energética nacional e impulsiona a descarbonização. “O etanol é bom para o carro, é bom para as pessoas e é bom para o meio ambiente. Estamos falando de um importante ativo brasileiro, cada vez mais reconhecido pelo mundo”, diz.
Ele elogia o compromisso do Ministério de Minas e Energia e do Congresso Nacional com os avanços no marco legal para o reconhecimento do papel dos biocombustíveis na transição para baixo carbono.
Segundo Gussi, o avanço do E30 – termo que o setor usa para se referir à mistura de 30% – reforça a posição do Brasil na vanguarda da transição energética global.
“O Japão já anunciou que chegará a 20% de mistura de etanol na gasolina. A Índia já está em 15% e avança para 20%, assim como Indonésia, Malásia, Tailândia e África do Sul. Cada vez mais países despertam para o valor desse grande ativo. E o Brasil, novamente, lidera esse movimento”, afirma. "O setor sucroenergético está pronto para essa transição e para seguir gerando benefícios ambientais, sociais e econômicos para o país."
Mais etanol na gasolina: preço vai aumentar ou diminuir?
O efeito da possível nova mistura da gasolina nos preços do combustível, no entanto, ainda é controverso.
O Ministério de Minas e Energia (MME) afirma que a adoção do E30 reduziria em até R$ 0,13 o valor do litro da gasolina comum. Segundo a pasta, a estimativa foi feita a partir de uma projeção para os preços considerando uma eventual decisão pela mistura em maio, levando em conta o início da safra e uma projeção de queda dos preços do etanol.
Estudo da consultoria agro do Itaú BBA, divulgado no fim de janeiro, no entanto, indica que a maior presença de etanol na gasolina pode levar, ao contrário, a um aumento no preço dos combustíveis.
Conforme o levantamento, o preço da gasolina comum subiria 0,6%, enquanto o etanol hidratado, 3,6%, o que tornaria o derivado da cana menos competitivo em relação ao combustível fóssil. Nas usinas, o etanol anidro – usado na mistura com a gasolina – poderia ter uma alta de 4,3%, ainda de acordo com a consultoria.
A alta seria resultado de um aumento na demanda por etanol anidro e de uma redução na oferta de etanol hidratado para consumo direto.
A Datagro prevê uma queda de 1,4% no esmagamento de cana na safra de 2025/26 em relação à temporada 2024/25. Com a priorização da produção de açúcar, o Itaú BBA estima que a oferta de etanol de cana deve cair 10%.
Por outro lado, um aumento estimado em 19% na produção de etanol de milho no Centro-Sul, em razão do aumento da capacidade instalada, deve manter estável a oferta total do biocombustível.