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Na primeira disputa entre os animais de alta genética do dia, o boizinho da raça holandesa vermelha e branca RCH Bolsonaro levou o troféu de Grande Campeão, na categoria de jovem bezerro. | Átomus Agência/Divulgação
Na primeira disputa entre os animais de alta genética do dia, o boizinho da raça holandesa vermelha e branca RCH Bolsonaro levou o troféu de Grande Campeão, na categoria de jovem bezerro.| Foto: Átomus Agência/Divulgação

Que profissão você quer seguir quando crescer? “Essa mesma, que lida com as vacas, não me lembro o nome”, responde Mateus Hoogerheide, 8 anos, filho de um criador de gado de alta genética na bacia leiteira de Castro (PR). O coleguinha, Fernando Peter Loss, de 12 anos, filho de outro criador, intervém rapidamente: “O nome é pecuarista. Pecuarista de leite é o que a gente vai ser”.

Crianças acompanhando os pais na pista de julgamento dos animais foi uma das imagens mais frequentes da feira de tecnologia leiteira ExpoFrísia, que começou nesta quinta-feira (25) em Carambeí (PR).

Na primeira disputa entre os animais de alta genética do dia, o boizinho da raça holandesa vermelha e branca RCH Bolsonaro levou o troféu de Grande Campeão, na categoria de jovem bezerro. O criador, Raphael Hoogerheide, pai de Mateus, disse que fez a homenagem ao atual presidente há um ano, ainda antes das eleições. “Tem um outro que nasceu há pouco tempo e que batizei de Mito”, brinca Raphael.

Entre os descendentes de holandeses da pequena Carambeí, a vocação de produzir leite passa de pai para filho há pelo menos quatro gerações. Mateus e Fernando, os dois meninos que sonham em ser pecuaristas, ainda não sabem, mas todos os cenários indicam que eles serão mais exigidos do que seus pais, avós e bisavós para garantir a continuidade da tradição familiar.

O produtor Alessandro Dekkers, de Castro, faz ideia do tamanho do desafio que aguarda as filhas de 11 e 9 anos – Bruna e Bianca – que conduziram os animais na pista de julgamento e fizeram poses para as fotos da premiação no primeiro dia da ExpoFrísia. “No passado, na época dos meus avós, tudo girava em torno do trabalho braçal, mas hoje é preciso saber comandar o negócio, é uma questão de cabeça e de gestão”, diz Dekkers. “Quando eu peguei a propriedade dos meus pais, a média da produção era de 20 a 21 litros por vaca, hoje estamos com 40 litros. Mas há um limite. Minhas filhas não vão conseguir dobrar, nem mesmo aumentar em 20% essa média. Tudo agora está em torno de gestão técnica, gestão financeira e gestão de pessoas”.

O estreitamento das margens de lucro está empurrando muitos produtores para fora da pecuária leiteira. A cooperativa Frísia, fundada há 93 anos por colonos holandeses nos Campos Gerais (antiga Batavo), viu o número de cooperados no leite diminuir quase 20% em apenas cinco anos. E os que ficaram tiveram de ganhar escala, aumentado a produção diária. Antes 330 pecuaristas entregavam 640 mil litros por dia; hoje 280 dão conta de 700 mil litros.

Mateus Hoogerheide, 8 anos, e Fernando Peter Loss, de 12: futura geração de pecuaristas de leite do Paraná.Marcos Tosi/Gazeta do Povo

“Se está difícil para esse pessoal que possui apoio de uma cooperativa, com assistência técnica, acesso a crédito e alta tecnologia, imagina para os produtores de outras regiões do estado que não contam com todo esse suporte”, resume Altair Valotto, superintendente da Associação Paranaense dos Criadores de Bovinos da Raça Holandesa. (APCBRH). Segundo Valotto, todo ano, apenas no Paraná, o número de produtores de leite diminui em 5%. Atualmente, 70 mil se mantém na atividade.

O principal gargalo, que define quem fica e quem sai da cadeia produtiva, tem sido o custo da mão de obra. Adrian Kok, de Arapoti, dá o diagnóstico: “Hoje sobrevive o pequeno, que é só atividade familiar, que não precisa pagar funcionário. Existe uma faixa intermediária de produtores que não consegue se manter, mesmo com o preço bom do leite, porque depende de empregados. É preciso ter um grande volume, ser quase um grande produtor para fazer giro e se manter na atividade”, assegura.

Profissionalismo

O presidente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar), José Roberto Ricken, não acredita no vaticínio de “desaparecimento dos pequenos ou médios produtores”. “Pode até diminuir o número de produtores, isso realmente vem acontecendo, mas quem vai se manter na atividade é o pecuarista profissional, seja ele pequeno, médio ou grande”. Uma saída para a atividade no Brasil seria, naturalmente, a exportação. “Precisamos internacionalizar nossa produção, atendendo demandas importantes no mercado lácteo. Temos todas as condições, melhor do que muitos países da Europa e da Oceania, para produzir leite e ofertar para o mundo. Mas isso passa pela profissionalização, ou seja, atuar com atenção na tecnologia, sanidade, qualidade e gestão da propriedade”, aponta Ricken.

Para o diretor-presidente da Frísia, Renato Greidanus, a própria fundação da cooperativa, em 1925, teve como foco a industrialização e a agregação de valor para que o produtor pudesse sobreviver na atividade. “Já naquela época se pensava na sustentabilidade do negócio. A agroindustrialização faz cada dia mais parte do nosso cotidiano. O foco é sempre ter o cooperado como elemento principal dentro do negócio. Ele tem que ter rentabilidade, porque com isso toda a cadeia se torna sustentável”.

Expansão

Crianças acompanhando os pais na pista de julgamento dos animais foi uma das imagens mais frequentes da feira de genética leiteira ExpoFrísia, que começou nesta quinta-feira (25) em Carambeí (PR).Átomus Agência/Reprodução

Campo para expansão não falta. Atualmente, dos 1,8 milhão de litros de leite produzidos diariamente pelas cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal, apenas 7% são beneficiados dentro da bacia leiteira. A maior parte da produção ainda é vendida no mercado B2B (para outras empresas).

Ainda que questões conjunturais pressionem os médios produtores, no conjunto, o setor leiteiro iniciou o ano com vento em popa. O preço médio do leite pago ao produtor aumentou, segundo o CEPEA/USP, em 18,9% no primeiro trimestre, alcançando R$ 1,47. Reflexo da diminuição da oferta por causa do atraso das chuvas (menos pastagens disponíveis), segundo Juliana Santos, do CEPEA, mas também um sintoma do otimismo da população com o início de um novo governo, segundo Jefferson Tramontini Pagno, coordenador de Pecuária Leiteira da Frísia.

“Há regiões do País em que a estiagem pode ter afetado a disponibilidade de pasto, mas a maioria do nosso sistema aqui é de confinamento e semiconfinamento, o gado é tratado com silagem. A gente aumentou em 12% a produção do mês passado para este. E mesmo com o aumento do preço pago ao produtor, não diminuímos a entrega de leite para os nossos parceiros”, diz Pagno.

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