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A América do Sul caminha para uma safra de grãos de tamanho nunca alcançado e dá uma demonstração da força da agricultura em 2015. A região mostra seu potencial produtor e exportador e reforça o volume global de soja e milho disponíveis à comercialização. O quadro é preocupante para o produtor brasileiro se for levada em conta apenas a pressão por baixa nas cotações internacionais, mas traz também certo alívio, uma vez que o agronegócio dá prova de que pode sim suprir a necessidade crescente de alimentos à base de proteína sem forçar alta no custo de vida – e sem agravar a situação das economias em crise.

Não é só a América do Sul que entra no ano novo com perspectiva de produção crescente. Os números do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda), usados como referência da oferta e demanda, apontam que a produção internacional está passando de 285,3 milhões para 312,8 milhões de toneladas de soja, um crescimento de 27,5 milhões de toneladas ou 9,5%. No caso do milho, que perde espaço para a oleaginosa, a colheita passa de 989,3 milhões para 991,6 milhões de toneladas (+0,2%). Nos dois casos, os números expressam clima favorável e produtividade crescente.

Porém, esse crescimento não será seguido de aumento proporcional nas exportações. A previsão do Usda é que o volume de soja negociado entre os países produtores e consumidores passe de 112,8 milhões para 116,2 milhões de toneladas, um aumento de 3,4 milhões de toneladas ou 3%. Isso significa que, de cada 8 milhões de toneladas extras, apenas 1 milhão será negociado – 7 milhões deverão ser processados ou estocados. Ou seja, o mundo está mais bem abastecido de produtos essenciais para produção de óleo, ração, carnes e derivados. As exportações de milho tendem inclusive a cair, de 130,1 milhões para 112,3 milhões de toneladas. São 17,8 milhões de toneladas ou 13,7% a menos.

A briga entre os países exportadores passa a ser, diante desse cenário, pela sustentação dos embarques de milho e pela ampliação dos de soja. O Brasil tem chance de manter as vendas externas do cereal em cerca de 20 milhões de toneladas e as da oleaginosa próximas de 50 milhões de toneladas. Essas são as perspectivas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), bem mais otimistas que as projeções do Usda para os embarques brasileiros: 19,5 milhões e 46 milhões de toneladas, respectivamente.

A diferença dos números do Usda para os da Conab é uma demonstração da disputa que se arma entre os países exportadores. Para exportar 4 milhões de toneladas de soja a mais do que o Usda prevê, aliviar a oferta e manter as cotações internas em patamares remuneradores – como esperam aflitos os produtores –, o Brasil precisa se mostrar competitivo diante dos exportadores norte-americanos. A valorização global do dólar favorece o Brasil, mas não garante vantagem competitiva sem redução da cotação em real.

Quem vai avaliar esse quadro e definir quem venderá mais soja será China, que tende a comprar 74 milhões de toneladas do grão, volume 3,6 milhões de toneladas ou 5% maior, segundo o Usda. Além de representar cerca de 65% das importações de soja, a China responde por praticamente todo o incremento no comércio internacional de soja de 2014/15. Principal cliente da agricultura brasileira, pode sustentar ou derrubar as cotações nos centros produtivos mais longínquos.

A R$ 59,50 a saca no Paraná e acima de R$ 56 na maioria das praças em Mato Grosso – os dois estados brasileiros que mais produzem e exportam –, a soja apresenta patamar de preço lucrativo neste início de colheita. Isso num momento em que o mercado já considera aumento na produção brasileira de 9 milhões de toneladas. A Expedição Safra Gazeta do Povo aponta que há condições para produção de 96 milhões de toneladas.

O cenário é de pressão de todos os lados, mas não deixa de ser animador. As cotações remuneradoras mostram que ainda há espaço para expandir a produção e que os alimentos podem ter custo “equilibrado” pelo aumento na oferta global de grãos. Pelo menos até a próxima safra, quando novamente Estados Unidos e América do Sul vão definir o patamar da oferta de 2015/16.

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