A introdução das sementes transgênicas no Brasil marca o capítulo mais polêmico da história da sojicultura nacional neste século. Inaugurada ilegalmente no país na safra 1996/97, a adoção de variedades geneticamente foi inicialmente vista com desconfiança, despertando debates e protestos que envolveram toda a cadeia produtiva e a sociedade. Apesar da incerteza, a tecnologia RR, de tolerância ao herbicida Roundup Ready (glifosato), proporcionou uma revolução técnica e econômica no campo que, pouco mais de uma década depois, garante unanimidade entre os agricultores: mais de 90% das lavouras da oleaginosa são de grãos geneticamente modificados (GM), e a soja abriu caminho para a adoção de sementes transgênicas também nas lavouras de milho, algodão e feijão.
A polêmica
Os primeiros grãos de soja GM entraram no país no mesmo estado que foi o berço da cultura um século atrás. Já difundida nos Estados Unidos e Argentina, a biotecnologia atraiu os produtores do Rio Grande do Sul, que começaram a plantar sementes contrabandeadas do país vizinho. A aposta resultou em plantas de porte menor e com mais grãos, apelidadas de “soja Maradona.” “As variedades cultivadas naquela época ainda não eram adaptadas às diferentes condições de clima e solo existentes no Brasil”, contextualiza o pesquisador da Embrapa Soja e membro do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) Décio Luiz Gazzoni.
Sem uma regulamentação oficial definida, o assunto virou caso de polícia. Operações de fiscalização apreenderam toneladas de grãos irregulares e multaram os agricultores que descumpriram a legislação da época. “O contrabando foi uma consequência, e não uma causa. A questão institucional não acompanhou a evolução tecnológica daquele momento, e o agricultor resolveu da sua maneira”, pontua Gazzoni. O desfecho
O impasse durou até 2003, quando uma medida provisória autorizou o cultivo da oleaginosa geneticamente modificada. Naquele ano o grão já ocupava 4,7 milhões de hectares (25% da área total de soja) e desde então não parou mais de crescer.
A produtividade aumentou 20% em dez anos, ante 5% registrados na década anterior. O salto, que permite ao país colher média de 3 mil quilos por hectare e se equiparar aos Estados Unidos, é parcialmente atribuído às sementes GM.
Circuito eletrônico define lavouras do futuro
As pesquisa de ponta sobre soja anunciam uma nova revolução para os próximos anos. O mapeamento do grão está cada vez mais detalhado e abre múltiplas possibilidades. “A biotecnologia sintética permite transformar a soja em um circuito eletrônico, completamente mapeado. Podemos selecionar somente as tecnologias mais interessantes para a produção e inseri-las na semente”, detalha o pesquisador da Embrapa Soja e integrante do Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB) Elíbio Rech.
Além de elevarem a produtividade, as novas sementes devem mudar a dinâmica das fazendas, a exemplo da primeira soja modificada, a RR, que permitiu o uso de glifosato com a lavoura já crescida. “O produtor ganhou flexibilidade no manejo, com um prazo maior para aplicação de herbicida”, aponta a gerente de Negócios da Soja da Monsanto, Maria Luiza Nachreiner. As aplicações precisam ser feitas no momento certo e uma “janela” maior é decisiva, confirma o pesquisador da Embrapa Soja Décio Gazzoni.
O surgimento de plantas daninhas resistentes a glifosato e o aumento da pressão dos insetos elevou novamente a necessidade de pulverização nas lavouras nos últimos anos. Do Rio Grande do Sul ao Maranhão, os relatos são de até seis aplicações por safra.
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