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Onde não há mais terras disponíveis, a produtividade faz a safra crescer, relata o produtor Ricardo Wolter, de Palmeira | Josua© Teixeira / Gazeta Do Povo
Onde não há mais terras disponíveis, a produtividade faz a safra crescer, relata o produtor Ricardo Wolter, de Palmeira| Foto: Josua© Teixeira / Gazeta Do Povo
  • O agricultor norte-americano Matt McGinnis (Indianola, Iowa, EUA) mostra milho afetado pela seca, em 2012. Quebra histórica elevou preços e provocou onda de incremento na produção global
  • Experiência da Usimat, em Mato Grosso, indica que uso de milho para etanol é viável no Brasil
  • A cadeia brasileira do frango cultiva novos clientes como o Iraque, que mostra expansão

Logo depois de uma temporada de forte quebra na produção mundial de grãos, o Brasil está produzindo a sua maior safra da história. A temporada é de incremento também nos Estados Unidos, na Argentina e no Paraguai – o grupo dos maiores produtores e exportadores de soja e milho. Resultado: a oferta global dos três grãos mais negociados no mercado internacional, incluindo o trigo, deve superar em 62,9 milhões de toneladas o consumo mundial em 2013/14, ante um déficit de 22,5 milhões de toneladas no ciclo anterior, aponta o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (Usda). A oferta não vinha acompanhando o ritmo da demanda, o que faz deste ano um momento de virada na relação oferta X demanda, e também no mercado. A produção é estimada em 1,97 bilhão de toneladas e o consumo calculado em 1,90 bilhão de toneladas.

De Norte a Sul do país, o que os produtores tem feito nos últimos anos é aumentar a produção, mesmo onde toda a terra é cultivada. “Rotação de culturas, novas tecnologia de produção, modernização em equipamentos e acesso contínuo a informações sobre o mercado se tornaram obrigatórios”, relata o produtor Ricardo Wolter, de Palmeira (Campos Gerais), que cultiva 700 hectares e busca elevar a produção constantemente.

Nesta safra de verão, o Brasil ampliou área de soja e milho (que somam 36,39 milhões de hectares) em 3,44 %. A maior parte do incremento de 1,2 milhão de hectares ocorreu em Mato Grosso e na nova fronteira do Centro-Norte (Maranhão, Tocantins, Piauí, Bahia e Pará). Mas será que essa ampliação intensiva da oferta é sustentável?

Nos Estados Unidos, produtores começam a se questionar. Depois de caírem cerca de 50% de uma safra para a outra, os preços do milho já estão batendo nos custos de produção e devem empurrar muitos agricultores de volta para a soja na próxima temporada. No Brasil, o câmbio tem compensado parte das perdas registradas no mercado internacional, mas o momento é de cautela.

“Chegamos a um ponto de inflexão. Em primeiro lugar, porque o mundo tem respondido aos altos preços das commodities com produção recorde. Em segundo lugar, porque a demanda por biocombustíveis provavelmente atingiu o pico. O único fator que não mudou é a robusta demanda por soja da China”, pontua Darrel Good, economista da Universidade de Illinois (EUA) especializado no mercado de grãos.

Nos EUA ou no Brasil, a avaliação dos analistas é praticamente unânime: a partir de agora, o cenário se inverte e o crescimento do consumo é que fica atrás da ampliação da oferta.

Essa nova conjuntura exige atenção, mas não deflagra, necessariamente, um ciclo de baixa no mercado de grãos. “Novas demandas”, especialmente no continente asiático, devem evitar fortes desvalorizações das commodities agrícolas, considera Aedson Pereira, analista da Informa Economics FNP em São Paulo.

Ele acredita que o consumo mundial vai continuar crescendo, mas a passos mais lentos, não na mesma intensidade com que vinha avançando nos últimos anos. “O cenário continua demonstrando firmeza, mas a pressão altista sobre os preços começa a perder fôlego nesta safra”, alerta.

O agricultor norte-americano Matt McGinnis (Indianola, Iowa, EUA) mostra milho afetado pela seca, em 2012. Quebra histórica elevou preços e provocou onda de incremento na produção global

Os mercados de grãos vivem duas situações distintas, acrescenta Good. “As cotações do milho e do trigo já atingiram níveis que refletem totalmente o retorno da oferta mundial a níveis adequados e, por isso, vão continuar oscilando nos patamares atuais”, prevê o analista norte-americano. Os preços da soja, por outro lado, têm sido mais lentos na transição para níveis mais baixos, em parte devido à forte demanda chinesa. “A grande safra sul-americana, juntamente com um provável aumento na produção dos EUA no próximo ciclo, deverá resultar em cotações mais baixas que as atuais, mais em linha com os preços do milho e do trigo”, explica.

Com um quadro de oferta e demanda mais folgado, os preços tendem a responder mais rapidamente às decisões tomadas no campo, alertam os especialistas. O aviso cabe principalmente à América do Sul, que nos últimos anos vem liderando o movimento de crescimento da produção em resposta ao boom das cotações internacionais dos grãos.

Das cerca de 400 milhões de toneladas de soja, milho e trigo que foram adicionadas à produção mundial, na comparação com o volume de uma década atrás, 95 milhões vieram da América do Sul – 70 milhões de toneladas só do Brasil. Neste período, a produção global cresceu a uma taxa de 3,8% ao ano, ritmo bem inferior ao sul-americano (5,4% ao ano).

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