Os números da produção de bovinos no Mato Grosso do Sul são faraônicos. São mais de 20 milhões de animais, enquanto que a população humana é de 2,6 milhões de habitantes (dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE). Mas se em um primeiro momento o que chama a atenção é a quantidade, no quesito qualidade o setor tem muito o que avançar. Com uma média de menos de um animal por hectare, mais da metade dos 16 milhões de hectares de pastagens do estado está degradada ou em fase de degradação. Nas rodovias, áreas dominadas por cupins, praticamente sem capim e com bois magros à procura de comida são uma constante.
Estimativa
Com a recuperação de pastagens e o aumento da taxa de 0,8 unidade animal por hectare (UA/ha) para 2,4 UA/ha, será possível ter um incremento de 7,6 milhões de toneladas de grãos por ciclo.
Essa realidade, no entanto, está mudando aos poucos com a adoção do sistema de integração entre lavoura e pecuária (confira no box). Produtores rurais, agrônomos, técnicos, trabalhadores rurais e proprietários ouvidos pela Expedição Safra, do Agronegócio Gazeta do Povo, são unânimes ao dizer que a adoção massificada do sistema de integração lavoura pecuária no estado é um caminho em andamento e sem volta. “O boi é uma atividade que você precisa ter muitos, porque senão você não ganha dinheiro. E o pessoal vai ter que investir, porque se continuar no atual modelo, a renda obtida é muito baixa”, diz o vice-presidente da Copasul, em Naviraí, Yoshihiro Hakamada.
Nos próximos cinco anos, de acordo com projeções da Expedição Safra, será possível ter um salto de 1 milhão de hectares para a produção de grãos, passando de 2,4 milhões de hectares para 3,4 milhões. Isso principalmente por causa de uma situação que já acontece de maneira mais intensa na faixa sul do estado. “O pecuarista não vai virar produtor de soja, o que vai acontecer é de o pecuarista ser um parceiro do lavoureiro”, explica Justino Mendes, coordenador do departamento técnico da Famasul, sediada em Campo Grande. “Não queremos expulsar a pecuária. O estado ainda se pauta muito pelo boi, mas a integração está contribuindo muito”, reforça.
Em Itaquiraí, o técnico agrícola Everaldo Reis é o que no Mato Grosso do Sul os pecuaristas têm chamado de lavoureiro. Especialista em produzir grãos, todos os anos ele arrenda uma parte da fazenda de gado bovino Meio Século (que tem um total de 2,6 mil hectares), do pecuarista Edgar Tutida. Neste ano, Everaldo plantou 1,7 mil hectares de soja e logo em seguida vai semear 1,6 mil hectares de milho safrinha. Assim que o milho for colhido, a pastagem será reimplantada e o gado solto em piquetes. A cada três anos, as áreas são trocadas dentro da fazenda. “A pecuária deixa muita matéria orgânica e praticamente elimina o problema com ervas daninhas”, diz o técnico e lavoureiro.
No ano passado, a média de produtividade de soja da região foi de 54 sacas por hectare e ele colheu 66 sacas por hectare. Na pecuária, a fazenda possui oito cabeças de gado por hectare e produz, em média, uma tonelada de carne por ano por hectare.
Integração na ponta do lápis
No Mato Grosso do Sul, com base em informações obtidas com proprietários, empregados de fazendas, técnicos e engenheiros agrônomos, o investimento para transformar um hectare de pastagem em um hectare de soja é de aproximadamente 12 sacas de soja. Em geral o gasto maior é com insumos para corrigir o solo, principalmente calcário e gesso. Os custos de produção não entram nesta conta. Por isso, para o pecuarista é vantajoso trabalhar em parceria com os produtores rurais, pois, arrendando a propriedade, ele ganha, sem tirar nada do bolso, 15 sacas de grãos (milho ou soja) por hectare e, no fim, recebe a terra pronta para o plantio de uma pastagem de alta qualidade.
O que é integração lavoura-pecuária?
Integração lavoura-pecuária é um sistema no qual parte da propriedade é usada para a criação de bois, com pastagens, e outra parte é utilizada simultaneamente para o cultivo de outras culturas. A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) designa que a técnica torna viável a recuperação de áreas alteradas ou degradadas. Para ocorrer, a integração precisa estar organizada em sistema que integre os componentes lavoura, pecuária e/ou floresta, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. A técnica permite a exploração econômica do solo durante todo o ano, favorecendo o aumento na oferta de grãos, de carne e de leite a um custo mais baixo.
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