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Expedição Safra 2017 / 2018: Colheita de soja em Cândido Mota, São Paulo. Na foto, Cláudio Segateli – produtor. | Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Expedição Safra 2017 / 2018: Colheita de soja em Cândido Mota, São Paulo. Na foto, Cláudio Segateli – produtor.| Foto: Marcelo Andrade/Gazeta do Povo

Os agricultores agradecem pela diminuição dos custos; o meio ambiente, porque deverá receber carga menor de agrotóxicos; e, por fim, os consumidores também têm motivos para agradecer devido à garantia de que haverá um profissional qualificado responsável pelas misturas de defensivos nas propriedades, antes da aplicação nas lavouras.

Essa situação de ganha-ganha foi obtida com uma simples medida ministerial em meados de outubro. A Instrução Normativa 40/2018, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), formaliza o entendimento que o engenheiro agrônomo é, em última instância, o profissional que tem competência e responsabilidade para prescrever o receituário de aplicação de agrotóxicos, “em consonância com as boas práticas agrícolas e com as informações científicas disponíveis”. A Instrução Normativa foi um dos desdobramentos do Acordo de Cooperação Técnica assinado pelo Ministério e pelo Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), também em outubro, visando aprimorar a defesa agropecuária brasileira.

Para o analista técnico do sistema das cooperativas do Paraná (Ocepar), Jhony Moller, essa única decisão impacta diferentes interessados e de diversas formas. Segundo ele o engenheiro agrônomo é o profissional que possui, dentre as suas atribuições, a habilitação técnica de diagnosticar e orientar a correta escolha do agrotóxico, de forma economicamente viável, que prejudique minimamente o ambiente, protegendo os interesses dos produtores e da sociedade. Com a regulamentação, o número de aplicações diminui, e consequentemente reduz-se a utilização de água, de combustíveis e a exposição do aplicador ao produto, assim como a compactação do solo.

O consumidor final também é beneficiado, visto que tem procurado cada vez mais por produtos produzidos de forma sustentável. A Pesquisa Akatu 2018, que mostra o Panorama do Consumo Consciente no Brasil, apontou que entre os dez principais desejos dos brasileiros entrevistados, a preferência por alternativas que caminham para a sustentabilidade está entre os sete primeiros.

“Com os devidos cuidados na aplicação de agrotóxicos o amassamento das lavouras diminui, tornando a produção de alimentos ainda mais sustentável. Todos ganham: o produtor com menores custos e melhor renda; os riscos ambientais diminuem; e o trabalhador fica menos exposto, diminuindo os riscos de eventuais contatos e também de intoxicação alimentar causada por agrotóxicos”, realça Moller.

Regulamentação

Quando se fala em segurança alimentar da população, e produção em larga escala, utilizar agrotóxicos é uma necessidade em qualquer lugar do planeta. No Brasil, o clima tropical cria ambientes propícios ao aumento de frequência e intensidade de problemas fitossanitários. Essas circunstâncias tornam comum o aparecimento de plantas daninhas, pragas e doenças que reduzem a produtividade e comprometem a qualidade dos produtos agrícolas.

Uma pesquisa realizada pelo engenheiro e pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), Dionisio Gazziero, apontou que 97% das aplicações realizadas no país atualmente são por meio de misturas em tanque. Para ele, a atribuição expressa da responsabilidade pelo receituário ao engenheiro agrônomo deve melhorar o processo. Debater o assunto de forma aberta também é fundamental, diz Gazziero, visto que o tema sempre foi encarado como um tabu, o que acaba barrando o desenvolvimento de melhorias.

“Todos ganham: o produtor produz com menores custos e melhora sua renda, os riscos ambientais diminuem e o trabalhador fica menos exposto aos produtos no campo, diminuindo os riscos de eventuais contatos e também o risco de intoxicação alimentar causada por agrotóxicos” .

Jhony Moller, engenheiro agrônomo da Ocepar

O processo da mistura de defensivos passou por diversas transformações no decorrer dos anos. Até meados da década de 1980, as indicações técnicas eram de responsabilidade da indústria e as recomendações sobre as misturas dos produtos vinham das pesquisas em universidades. Em 1985, todas as indicações sobre a mistura em tanque foram retiradas das instruções de uso. “Foi aí que começou toda essa história de proibição, que acabou disseminando o medo em grande parte da sociedade. Ninguém conversava a respeito, pois todos tinham receio da fiscalização”, explica Gazziero.

De acordo com o coordenador de Câmaras Especializadas de Agronomia do Confea, Kleber Santos, a Instrução Normativa (MAPA) n°40 nada mais é do que uma forma de regulamentar essa grande demanda do setor agropecuário. Com isso, profissionais da área passam a ter maior autonomia no campo. “A categoria está bastante motivada com essa decisão, considerando a regulamentação de atividades essenciais para a agropecuária e para o agronegócio”, afirma Santos.

Agricultura de precisão

O professor José Paulo Molin, da Associação Brasileira de Agricultura de Precisão (AsBraAP), acredita que o acordo deve favorecer o avanço de pesquisas sobre os processos de aplicação de produtos. Molin defende que o debate sobre o tema é essencial para avançar as pesquisas na área. “ Nós temos produtos parados na prateleira. Tecnologias que a indústria disponibilizou e acabou não vendendo, pois ninguém entendeu a mensagem. Estaríamos preparados para fazer muito mais, e isso a legislação só está viabilizando agora. Um exemplo é essa questão sobre mistura de produtos”, destaca.

Molin observa que atualmente 15% da agricultura brasileira utiliza tecnologias de mapeamento das lavouras, o que permite colocar a quantidade necessária de fertilizantes e corretivos, de uma forma quase cirúrgica. Com novas técnicas de captação de imagens por satélite, o agricultor consegue uma visão mais ampla da fazenda, entendendo melhor as necessidades da plantação.

Essas ações evitam o uso desnecessário e indevido dessas misturas. “Isso para nós, é o que será de mais impacto no futuro”, analisa Molin. “ É o que temos buscado cada vez mais, racionalizar o uso de agroquímicos na lavoura e diminuir os efeitos disso”.

Para Gazziero, a ação é um primeiro e grande passo para aprimorar o procedimento de aplicação. A partir de agora entra o trabalho do Ministério da Agricultura que irá coordenar a elaboração de manuais técnicos para auxiliar esses profissionais a realizarem uma emissão qualificada da receita agronômica. “Essa ação é um estímulo para que as universidades e os pesquisadores da área possam gerar informações e estudar esse assunto. Vamos melhorar aspectos em relação ao meio ambiente, à saúde e ao homem. Aos poucos vamos combater o receio e discutir medidas efetivas que auxiliem em todas essas questões”, finaliza.

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