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Abrir o processo de sucessão antes do fim do mandato anterior é uma prática inédita na estatal. | HUGO HARADA/Gazeta do Povo
Abrir o processo de sucessão antes do fim do mandato anterior é uma prática inédita na estatal.| Foto: HUGO HARADA/Gazeta do Povo

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, disse que vai abrir o processo para escolha do novo presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O indicado vai suceder Maurício Lopes, que está no cargo há seis anos, com mandato até outubro.

A decisão de dar a largada para o processo sucessório antes de vencer o mandato do presidente atual ocorre em meio à polêmica proposta de reestruturação da estatal comandada por Lopes. A proposta não encontra apoio da maioria dos 9.600 funcionários. A estatal também é alvo de duras críticas de lideranças de produtores rurais e de pesquisadores por ter perdido, segundo eles, a relevância na pesquisa aplicada.

“Vamos seguir o que manda o estatuto e a lei das estatais: abrir para os interessados, fazer uma seleção e, por último, termos uma lista tríplice da qual será escolhido um nome”, afirmou Blairo. Ele disse que a abertura do processo de sucessão agora já está acordada com o atual presidente e com a diretoria da empresa. A expectativa do ministro é concluir os trâmites no prazo final do mandato do atual presidente.

Lopes teria intenção de permanecer por mais tempo no cargo, aproveitando o vácuo da troca de governo para escolher o seu substituto. Abrir o processo de sucessão antes do fim do mandato anterior é uma prática inédita na estatal. Para funcionários da empresa, essa mudança de conduta soa como uma reprovação ao projeto de reestruturação que o atual presidente quer por em prática rapidamente.

A atual direção da Embrapa pretende adotar um modelo de regionalização da gestão, com cinco superintendências e futuros centros de inovação, no lugar das atuais unidades descentralizadas de pesquisa. Pelo modelo apresentado à cúpula do Ministério da Agricultura, os centros de pesquisa que hoje levam o nome de lavouras, como Embrapa Soja, por exemplo, seriam identificados pelo da cidade onde estão.

O projeto de reformulação da estatal, desenhado por 16 membros da direção da empresa escolhidos pela presidência, é alvo de duras críticas dos funcionários. Desde o início do mês, eles começaram a ser consultados, por e-mail, sobre o projeto de reestruturação.

Carlos Henrique Garcia, presidente do Sindicato Nacional de Trabalhadores de Pesquisa e Desenvolvimento Agropecuário (Sinpaf), ligado à CUT, que representa 70% dos empregados da estatal, contou que foram marcas 42 assembleias de funcionários da Embrapa espalhados pelas diversas regiões do País para tirar um posicionamento dos empregados em relação ao projeto de reestruturação da empresa.

Segundo Garcia, por mais que os funcionários tenham solicitado participação, a diretoria construiu a proposta sem a participação dos trabalhadores e agora, a toque de caixa, apresentou uma síntese do projeto e pediu a contribuição dos funcionários. “Não somos contra as mudanças, mas contra a construção de uma proposta de forma arbitrária e unilateral, sem o envolvimento do conjunto de empregados da empresa e especialmente da sociedade que nos demanda”, afirmou o presidente do Sinpaf. Até o meio da tarde de quarta-feira, nas 16 assembleias realizadas, os trabalhadores foram unânimes pela suspensão imediata da implantação da reestruturação.

Procurada, a Embrapa informou que todos os empregados tiveram oportunidade de conhecer justificativas, objetivos e premissas do projeto de reestruturação. Quanto à sucessão do presidente, a empresa diz que cabe ao Conselho de Administração estabelecer quando esse processo será iniciado.

Empresa se afastou dos produtores

Fundada em 1973, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) é uma companhia 100% estatal e dependente dos recursos do Tesouro. Com um orçamento de R$ 3,4 bilhões, 9,6 mil funcionários e 2,4 mil pesquisadores, que recebem de duas a três vezes o salário de um pesquisador de universidade federal, teve papel importante 40 anos atrás no desenvolvimento do agronegócio brasileiro, especialmente em novas variedades de soja adaptadas às condições do Cerrado, diz o ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira, Pedro de Camargo Neto. “Ela se afastou do produtor e foi vítima do próprio sucesso”, afirmou.

A sua principal crítica ao desempenho recente da empresa é não ter fomentado pesquisas aplicadas em áreas de ponta, como biotecnologia e tecnologia da informação. Na sua opinião, esse descompasso pode por em risco o sucesso do agronegócio.

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