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Colheitadeiras chegam ao campo na província de Buenos Aires, em Venado Tuerto. Seca trouxe teve menos impacto que alagamentos, relatam produtores e técnicos | Christian Rizzi/gazeta Do Povo
Colheitadeiras chegam ao campo na província de Buenos Aires, em Venado Tuerto. Seca trouxe teve menos impacto que alagamentos, relatam produtores e técnicos| Foto: Christian Rizzi/gazeta Do Povo

Concorrentes diretos do agro­­negócio brasileiro, os produtores de grãos da Ar­­gentina enfrentam crise crônica de rentabilidade com pro­­dução ampliada nesta temporada. A ocorrência de seca no plantio e de inundações no meio do ciclo apertou as contas do setor, que precisa se desdobrar para não ter prejuízo.

Em viagem de uma semana pelo país, a Expedição Safra Gazeta do Povo apurou que, apesar das vantagens agronômicas e logísticas dos pampas argentinos, o declínio nos lucros se acentua. Lavouras concentradas num raio de 200 quilômetros do Porto de Rosário têm resultado líquido equivalente a fazendas de Mato Grosso situadas a 2 mil quilômetros do Porto de Santos (SP).

As retenções – que abocanham 35% do valor da soja e 22% da receita do milho na exportação – e o câmbio regulado por Buenos Aires cortam a renda bruta. Essa cobrança não existe no Brasil. E sobre o resultado líquido, os agricultores argentinos pagam ainda imposto de renda de 36%. Num ano com custos 10% maiores e cotações oscilantes, a rentabilidade fica entre 5% e 20%, margem equiparada à de Sorriso (MT). A soja teve alta de 10% e o milho queda de 17% na Bolsa de Chicago no último ano (primeiro contrato), mas os negócios em dólar seguem o câmbio oficial argentino, em que o dólar vale 8 pesos (3 a menos na compra da moeda norte-americana).

As previsões de que a produção vai chegar a 54,3 milhões de toneladas de soja e a 23,5 milhões de toneladas de milho, apontadas pela Bolsa de Cereales, soam como alento aos produtores. “Nas áreas arrendadas, o custo chega a 2 mil e 800 quilos de soja por hectare. Produzimos para pagar as retenções”, aponta o produtor German Santos, de Totoras (província de Santa Fé).

Com seu irmão Walter Santos, ele cultiva 1,95 mil hectares de soja e 300 hectares de milho. As lavouras sofreram seca de 20 dias e temperatura de 41 graus na fase inicial, e depois foram atingidas por 600 milímetros de chuva entre janeiro e fevereiro, volume normalmente distribuído em seis meses.

Com a colheita no início, os agricultores preveem produtividade de 3,2 mil a 3,4 mil quilos de soja por hectare. No milho, esperam de 7,5 mil a 9,5 mil kg/ha. O volume que vai além dos custos corresponde a 12% na oleaginosa, relatam. Reduzido o imposto de renda, o lucro fica abaixo de 10%.

As chuvas foram mais pre­­judiciais que a seca, mas trouxeram perdas localizadas, aponta o agrônomo da Bolsa de Cereales Juan Martín Brihet. Os alagamentos não derrubaram a safra porque a área da soja foi ampliada em cerca de 500 mil hectares, chegando a 20,3 milhões de hectares. O país só ultrapassou 54 milhões de toneladas de soja com a safra recorde de 2009/10 (com área 5% menor e produtividade 7% acima da atual). As projeções serão reavaliadas semanalmente durante a colheita, que engrena de março para abril.

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